Capítulo 24

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Não estava nevando na Irlanda naquele fim de ano, mas, por conta do clima muito gelado, Lucjan tinha a impressão de que a qualquer hora, durante um piscar de olhos, encontraria Dublin coberta por camadas pesadas de gelo. Sentia um pouco de falta da neve, precisava admitir. Não da sensação térmica, ou de ter que limpar a frente de casa para conseguir entrar e sair sem grandes problemas. Tinha mais a ver com a imagem de Natal com a qual estava habituado, o cenário que encontrava do outro lado da janela desde que era uma criança.

Quando chegou em casa no dia vinte e quatro, logo depois de um almoço apressado no café mais próximo da escola de idiomas, sabia que aquele era provavelmente o dia mais frio do ano até ali, e se perguntou se seria mesmo uma boa ideia se reunirem na rua Grafton mais tarde. Entendia que não havia para onde fugir, não depois de que Aydan descobrira que as bandas Kodaline e The Script se juntariam ao grupo de músicos que normalmente se reuniam para a apresentação beneficente da véspera de Natal.

Após deixar a bolsa sobre o sofá, e as correspondências sobre o balcão da cozinha, colocou um pouco de água para aquecer na chaleira. Separou uma caneca e um sachê de chá dentro dela, depois foi olhar o que havia chego pelos correios. Passou pelas contas mensais antes de encontrar o envelope do departamento de trânsito. Se empertigou imediatamente, com a coluna desenrolando da posição torta para uma mais disposta. Rasgou parte do papel branco e puxou de dentro seu mais novo documento. Tinha uma coloração próxima do rosa, mesmo que muito clara. Sua fotografia, o nome completo, a assinatura, o número de identificação e a categoria BE – que significava que poderia dirigir apenas carros. Lá no alto leu: "ceadúnas tiomána" em gaélico, depois "driving licence", em inglês. Sua carteira de motorista, nove meses antes dos trinta.

Brincou com ela entre os dedos enquanto apoiava os cotovelos no balcão, se curvando para observar a própria foto três por quatro, que como todas as fotos três por quatro não havia ficado lá aquelas coisas. Apesar disso, soprou um riso satisfeito. Aquele era provavelmente o último item da lista que fizera aos doze anos, para o qual ainda dava alguma prioridade e importância. Se casar e ter filhos já não ocupavam um espaço de relevância em sua vida. Não havia pressa. Havia tempo. Sobre ter a própria casa, bem, parecia tê-la encontrado. Não sabia se pela conversa que tivera com Fionn a respeito disso, ou se a mudança para Dublin era que tinha feito toda a diferença, mas agora casas não pareciam com algo a ser comprado. Não mais.


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― Fionn vírgula estamos na frente da Dunnes vírgula bem atrás do Garrigan vírgula isso mesmo vírgula o Steve Garrigan ponto final.

― Você provavelmente o impressionaria mais se dissesse que está bem atrás do Bono ― Lucjan sugeriu ao namorado.

― Bono não é uma novidade, Loutciô ― Aydan disse, abanando a mão no ar. ― Tá aqui todo ano.

― Mas é o Bono! Ele poderia ser meu melhor amigo, eu olharia para ele todos os dias e pensaria "meu Deus, é o Bono".

Aydan virou o rosto para trás e para cima, a fim de espiar o seu. Por algum motivo, parecia desconfiado, com olhos meio apertados e um único vinco na testa.

― Você é a fim do Bono?

― Você não?

― Chegamos! ― Camile disparou. Vinha com as mãos nos ombros de Fionn, conduzindo-o pela multidão, usando-o de escudo para costurar entre os grupos até ali. ― Caramba! ― A ouviu gritar. ― Aquele é o Bono?

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