Prólogo

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— Doutor, como ela está?

O médico encarou o rapaz sentado à sua frente, respirando fundo enquanto observava suas feições preocupadas. Era óbvio que o jovem, que parecia ter aproximadamente 25 anos, era alguém importante para a paciente. Pelo modo como se portava, repuxando o anel dourado em seus dedos, possivelmente era o seu namorado, ou mesmo um noivo. Seu olhar foi terno ao respondê-lo.

— Ela vai sobreviver - o rapaz pareceu mais leve ao ouvir isso. - Fizemos uma cirurgia por conta dos ossos fraturados, e a paciente estava com uma hemorragia interna. Teve sorte, se tivesse demorado mais para chegar ao hospital, possivelmente ela estaria morta.

O jovem olhou para o chão, e o seu cabelo comprido e escuro caiu por cima dos seus olhos. A culpa o inundava, se ele não tivesse deixado seu coração falar mais alto, isso nunca teria acontecido. Agora, o seu amor estava nessa situação, machucada, e ainda em perigo. Ele teria que tomar medidas drásticas.

Ainda pensava nisso quando agradeceu o médico pelas informações. Levantou-se bruscamente da cadeira verde acolchoada que estava sentado, que rangeu um pouco com o movimento, e saiu do escritório.

Ao chegar à sala de espera, outro homem veio ao seu encontro, ele parecia um pouco mais velho, e seu cabelo comprido ondulava ao redor de sua face, que exibia feições tão preocupadas quanto a do amigo.

— Sabe que precisamos fazer isso, pela segurança dela.

O jovem novamente segurou com força o anel dourado em seu dedo, enquanto respirava fundo. Encarou os olhos verdes do amigo, que esperava pacientemente sua resposta. "precisamos fazer isso, pela segurança dela", a frase ecoou novamente em sua cabeça, ele já sabia o que aquilo significava, mas ainda estava relutante. Mas não havia mais jeito, tinha que resolver aquilo, mesmo que isso quebrasse seu coração. Pensando nisso, caminhou até a recepcionista.

— Com licença, preciso visitar uma paciente. - sua voz grave assustou a mulher, fazendo ela pular um pouco da cadeira em que estava. Ela retirou os olhos do que quer que olhava na tela do computador, e encarou o jovem com um olhar de bronca.

— O horário de visitas acabou, senhor. Volte amanhã - respondeu, de maneira rude.

O rapaz a encarou, não queria utilizar o poder que tinha, mas sabia que era preciso. Então, carregando sua voz de magia, voltou a falar:

— Eu preciso visitar uma paciente.

A mulher o encarou, sorrindo. Seu olhar não exibia mais o temperamento de antes, eram apenas pupilas vazias. Ela já não tinha mais vontade própria. Estava totalmente à mercê dele.

— Claro, milorde.

Ela começou a digitar no computador, pesquisando o nome da paciente que o homem informou.

— Quarto 4B, seguindo no corredor à esquerda. - falou depois de um tempo, ainda com a voz em transe, enquanto apontava para o local.

Assim que a recepcionista terminou de falar, ele seguiu pelo caminho apontado. O frio que exalava daquelas paredes brancas era intenso, e por mais que não o incomodasse, o rapaz ainda o sentia, era de certa maneira irônico, e combinava com sua frustração atual.

Ao chegar na frente do quarto onde a garota estava, ele parou, encarando a madeira branca e simples da porta, era impossível o fato de que sentia o suor escorrer na sua testa, mas se até seu coração parecia estar apertado, tudo era provável de acontecer. Ele realmente não queria fazer aquilo, mas não tinha outra escolha. Suspirou, colocou a mão na maçaneta e a virou. Assim que entrou, repousou seu olhar diretamente na jovem moça, que dormia serenamente na maca.

Seu rosto era como o de um anjo. Sua pele perolada era lisa como porcelana. Seus fios de cabelo escuro estavam espalhados sobre o travesseiro branco, em cachos grossos. O jovem sorriu. Ali, dormindo, aquela mulher nem parecia uma explosão em formato de pessoa, teimosa e tão inteligente. Ele quase deu meia volta e foi embora, como faria tal coisa com a pessoa que mais amava naquele mundo? Mas então, viu seus lábios rachados, secos e quase sem vida, observou as manchas arroxeadas em seus braços, assim como as faixas que cobriam todo o seu corpo.

Ele então se aproximou da moça, e beijou seus lábios. O beijo foi rápido, carinhoso e terno, e o rapaz fez questão de depositar ali todo o seu amor e tristeza, que se mesclavam em um único sentimento. Logo após, chegou perto do ouvido dela, encheu sua voz da mesma magia que utilizou na recepcionista, e começou a dizer as palavras que tanto o cortavam por dentro.

— Você não se lembrará de mim, nem de nada do meu mundo. Você se machucou em um acidente de carro enquanto seguia para o aeroporto. Sua viagem para esse país foi incrível, você visitou muitos lugares por aqui, mas nenhuma vez comigo. Quando acordar, tudo isso não passará de um sonho, agora durma.

O rapaz então se afastou, e se despediu da única mulher que ousou roubar seu coração.

— Siga sua vida, estará mais segura longe de mim. Adeus meu amor, adeus, minha querida Cecília.

Passado Esquecido (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora