Capítulo 30 (Cecília)

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Acordei imaginando que tudo que acontecera comigo até então havia sido apenas um sonho. Porém, assim que abri meus olhos, vi que ainda estava no quarto do hotel chique. Observei ao redor, e vi que Vladimir já estava colocando uma roupa limpa. Sorri, já fazia tempo que eu não reparava no seu estilo, e como sempre, Dimi continuava com suas blusas formais e escuras. Me levantei da cama também, e fui tomar um banho rápido. Quando terminei, procurei em minha mala o vestido verde musgo, o mesmo que eu havia pego no baú do castelo de Vlad antes de ir embora para o Brasil.

Ao terminar de me vestir, penteei o cabelo e fiz uma trança, e por último, resolvi colocar o colar de esmeraldas que havia ganhado do meu pai. Vi que Vladimir observava meu vestido, da mesma forma que eu fizera com suas vestes. Imagino que ele tenha reconhecido o que eu usava, mas nunca cheguei a perguntar. Assim que ficamos prontos, saímos juntos do Hotel. Eu já estava indo em direção ao carro estacionado (que Vlad havia alugado na noite anterior), porém, ele me puxou para o lado oposto.

— Para onde estamos indo?

— Você não tomou seu café da manhã.

Suspirei, quase dizendo que estava bem, mas meu estômago roncou, e eu sabia muito bem que Dimi ouvira aquilo. Entramos em uma padaria, e fiquei em silêncio enquanto ele falava em romeno com a atendente. Após a conversa terminar, sentamos em uma mesinha na varanda, com vista para a rua.

Depois de um tempo, a moça que Vladimir havia conversado chegou com um pequeno prato para mim, e logo após, caminhou de volta para a frente da padaria.

Olhei para o prato à minha frente, e a visão me encantou. Era algo lindo.

— O nome é Frigânea. Ele é um pedaço de pão, geralmente mergulhamos ele em ovo batido misturado com um pouco de leite, depois o fritamos e servimos com marmelada.

Sorri, enchendo minha boca com o delicioso sabor daquela iguaria. Era praticamente uma rabanada, e ri ao pensar nisso.

— Você já fez isso alguma vez, Vlad? - perguntei, depois de engolir.

Vladimir riu.

— O Frigânea é uma das coisas mais simples de se preparar, Cecília. Mas nunca precisei fazer, não é como se me alimentar de comida humana fosse me dar alguma força.

O encarei, e foi aí que percebi algo.

— Dimi, faz quanto tempo que você não se alimenta?

Ele me deu um olhar sombrio, ficando bastante sério.

— Alguns dias.

— Isso não é perigoso?

Ele deu de ombros.

— Logo eu resolvo isso. Termine de comer, temos uma longa viagem ainda pela frente.

Finalizei meu prato. Depois levantei-me da mesa, e junto a Vlad, andei em direção ao carro, novamente rumo ao aeroporto. Após 1 hora e 10 minutos de voo, desembarcamos em Oradea, a cidade do meu pai. Vladimir pediu um táxi, e o motorista nos levou até o endereço que estava escrito na carta que eu recebera. Quando chegamos, arregalei os olhos. Estávamos de frente para um château, uma espécie de casa de campo extremamente nobre, possuía um belo e verdejante jardim de rosas. Acho que se Vlad não estivesse ali comigo, eu teria virado de costas e ido embora ali mesmo. Mas não foi o que fiz, pois ele segurava meus ombros, e me incentivava a continuar.

— Você consegue, Lia.

Entramos pelo portão aberto, e começamos a andar pelo caminho de pedras no meio das flores. Quando finalmente ficamos de frente para a porta de entrada, eu bati o mais forte que consegui. Após alguns minutos, uma senhora atendeu.

— Bună ziua, domnișoară. Ce vrei? - ela perguntou, em romeno.

Sem saber como responder, apenas peguei a carta que meu pai havia escrito e a mostrei para a mulher. Ela a pegou, e ficou de boca aberta ao reconhecer a assinatura no final da escritura. Após isso, retirou os olhos do papel e me encarou com uma feição surpresa, para logo depois, entrar na casa a todo o vapor.

Um tempo a mais se passou, até ela retornar, juntamente a um homem.

Assim que o vi, soube que era meu pai. Seus traços eram muito parecidos com os meus, desde o seu rosto, até coisas mais simples como a ondulação do cabelo. Mas não era só isso, ele estava exatamente com a mesma aparência da fotografia que havia tirado com a minha mãe tanto tempo atrás.

O homem se aproximou, totalmente surpreso. Primeiro ele me encarou nos olhos, e logo após, o vi observar o colar que eu estava usando.

— Cecília?

— Oi pai – sussurrei em resposta.

Ele abriu a boca para me responder algo, mas então, seu olhar voltou-se para Vlad, que estava ao meu lado. Então, sua expressão de surpresa mesclou com feições de dúvida.

— Príncipe Vladimir?

Vlad o encarou, também surpreso.

— Conde Dimitri?

Eu olhava de um para o outro, sem saber o que dizer. A última coisa que eu esperava era que Vlad conhecesse meu pai.

— O que está acontecendo aqui? - perguntei.

Vladimir encarou meus olhos, um tanto quanto sério.

— Cecília, Conde Dimitri é líder de um clã de vampiros. Uma sociedade tão grande quanto a que meu pai criou.

Voltei a olhar para o meu pai, novamente arregalando os olhos. Acho que aquilo foi demais para mim, pois senti meu coração bater de forma mais apressada, e minha visão começar a ficar escura. A última coisa que vi antes de apagar, foi Vlad e Dimitri correndo para me socorrer.

Passado Esquecido (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora