Capítulo 36 (Vladimir)

1.3K 144 4
                                    

Eu sabia que estava caminhando em direção a minha morte. Mas eu preferia que fosse assim, se Cecília permanecesse em segurança. Sair sem me despedir, no meio da escuridão da noite, fora a única forma de fazer com que ela não me convencesse a ficar, por mais que isso rasgasse meu coração com diferentes lâminas.

Era impossível ver o tempo passar. Quanto mais rápido o carro corria pela estrada, mais difícil era enxergar algo naquele breu, mesmo que minha visão fosse um pouco mais eficiente. Apesar disso, era mais fácil focar no som das rodas, do que no que me esperava no Castelo.

Quando cheguei em Sighisoara, o céu começava a ser pincelado pelos tons de rosa e dourado do amanhecer. Saí do carro, e caminhei em direção ao casarão que até pouco tempo atrás, era o meu lar.

Quando encostei a mão na maçaneta da frente, a paisagem se transformou, tornando-se a Romênia antiga, cheia de sombras e pecados.

Suspirei, eu nunca me acostumaria com aquilo. Desde que me tornara vampiro, tantos anos antes, aquela magia estranha me angustiava. Como era possível existir todo um mundo diferente bem de baixo de nosso nariz?

Isso tudo era demais, mas, diante de toda aquela situação, lidar com a magia vampírica era o menor dos meus problemas.

Abri a porta do que agora era o Castelo Drácula, e adentrei as paredes escuras, já esperando minha sina.

Comecei a caminhar pelos corredores que tanto fizeram parte da minha vida, me surpreendendo com o som dos meus próprios passos, que ecoavam de forma ensurdecedora, tamanho era o silêncio do ambiente. Aquilo, com toda a certeza, era inesperado, e só demonstrava ainda mais que algo de ruim estava para acontecer.

Segui para a sala do trono, onde eu tinha a convicção de que ele estaria me esperando. Eu não podia estar mais certo.

Assim que entrei pela porta dourada, eu o vi. Sentado no enorme trono vermelho sangue, com seu semblante sério e sem vida e seu sorriso cruel extremamente branco. Apesar disso, não tive a chance de chegar tão perto, pois meus braços foram puxados por dois guardas, atrás de mim, que me obrigaram a ajoelhar no chão.

Drácula levantou-se, e caminhou até mim, rindo.

— Ora, criança, achou mesmo que seria tão fácil assim?

Sorri, encarando-o com um olhar desafiador.

— Na realidade, eu já esperava por isso, pai. É bem do seu feitio fazer espetáculos.

Drácula sorriu, exibindo novamente seus caninos brancos e afiados.

— Não entendo porque gosta tanto de ser rebelde, Vladimir. Seria tão mais fácil apenas seguir os meus passos, como um verdadeiro Drácula.

— Eu nunca serei um monstro como você - sussurrei.

Drácula se aproximou ainda mais, e colocou sua mão fria em meu queixo.

— Então eu lhe tornarei um - respondeu, para logo depois se afastar e gritar - Tragam as garotas!

Assim que ele disse isso, dois outros homens entraram no salão, puxando pelo braço Kalina e uma outra moça, ruiva. Deveria ser Nicole.

Ambas pareciam ter sofrido muito. O cabelo de Kalina, sempre tão dourado e penteado, estava extremamente bagunçado e sujo. O de sua namorada, não estava muito melhor. Eu conseguia imaginá-la quando elas se conheceram, mas agora, sangue escuro manchava suas roupas. Respirei fundo. Para um vampiro ser ferido, era necessário usar uma lâmina de prata benzida, e eu sabia, por experiência própria, o quanto aquela arma queimava na pele.

— Essa briga não é delas, Drácula.

Meu pai riu, caminhando até Nicole, e passando a mão em seu cabelo.

— Você não está entendendo, Vladimir. - disse, sorrindo cruelmente - Qualquer pessoa que você ama faz parte dessa briga. Porque eu quero que todos paguem por terem se rebelado contra mim.

— Ninguém se rebelou contra você! - gritei - Você forjou sua morte!

Meu pai me encarou, com seus olhos extremamente pretos.

— É verdade, garoto. Mas fiz tudo isso para que você tomasse jeito. E vejo que isso não aconteceu. Então todos irão pagar por isso, inclusive quem ficou do seu lado.

— Kalina nem ao menos estava aqui, ela estava vivendo na França.

Drácula a encarou.

— Eu sempre fui muito claro com sua querida amiga. Ela deveria ter ficado ao seu lado, e casado com você, mas decidiu me trair, e deixar você terminar de se corromper. Sempre gostei dessa Cracium mais nova, mas resolveu se comportar como o irmão mais velho, e agora vai morrer, igual a ele.

Quando ele citou o nome de Karan, minha ira tomou conta de mim. Com toda a força que estava em meu ser, misturada ao sentimento de ódio, me desprendi dos guardas que me seguravam, e corri na direção de Drácula.

Em menos de segundos, eu já estava a sua frente, mas ele era mais rápido, me pegou pelos ombros, e me jogou contra a parede mais próxima. 

Drácula riu, e bateu palmas.

— É isso que eu quero, filho! Esse ódio! É assim que você tem que ser.

— Não! - gritei, levantando-me e indo em sua direção novamente.

Meu pai me encarou, e apenas com uma mão apontada para mim, me prendeu ao chão, antes mesmo que eu chegava perto dele.

— Antes que pergunte, sim, desenvolvi poderes maiores que os seus. Então nem tente, pois a magnitude do meu poder nem se compara ao seu.

Após dizer isso, vi seus olhos ficarem vermelhos como sangue.

— O que você fez? - sussurrei. Mas não tive tempo de ouvir a resposta, pois tudo ficou escuro logo em seguida.



Passado Esquecido (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora