Depois de conversarem a respeito do convite de Otávio sobre alugarem dois quartos em uma pensão, o major e o mecânico não perderam tempo após o terror que vivenciaram por causa de Xavier. Assim como ambos, seus amigos também ficaram mobilizados diante do ocorrido no trem que partia em um rumo que os próprios passageiros não sabiam até serem alertados por Brandão, que fora alertado por Luccino e Otávio. Semanas depois, o Vale do Café voltava a sua normalidade habitual, ainda que se falasse aos cantos sobre as mortes recentes, inclusive a de Lady Margareth.
No início da manhã de uma quinta feira, começava-se Novembro, o sol ainda surgia no horizonte, trazendo na mente ansiosa de um Major, iniciava-se a possibilidade de começar um novo ciclo com um certo italiano que esperava em frente as portas ainda fechadas da oficina mecânica. Ao aparecer no campo de visão de Luccino, o mesmo não conteve o sorriso, parecendo igualmente tão animado quanto ele próprio:
- Buongiorno, Major! Como dormiu esta noite? – O sorriso crescia ao ver Otávio caminhando em sua direção e parando em frente a si. – Acho que, com o brilho dos seus olhos, teve uma noite fantástica.
- E tive. Realmente tive. – Otávio riu balançando a cabeça ao pensar nos dois aos beijos no tardar da noite no quarto de Luccino na casa de Brandão. Foi um tanto complicado sair dos toques ansiosos que compartilhavam, cheios de saudades, apesar de se verem todos os dias. Otávio ainda não conseguia acreditar em tudo que ele e Luccino viveram nos últimos meses, e quanto estava feliz.
Luccino pareceu entender sobre a expressão de felicidade de Otávio ter se tornado pensativa e roubou um beijo breve dos lábios do Major.
Seu Major. Ora, estava orgulhoso mesmo, e não escondia a afeição no olhar toda vez que o chamava pela patente conquistada.
- Luccino! E se alguém aparece de repente? Você sabe que as pessoas do Vale aparecem sem hora marcada na sua oficina – Otávio arregalou os olhos, olhando rapidamente ao redor, ficando mais tranquilo ao não ver ninguém por perto.
Luccino revirou os olhos, ainda com o sorriso no rosto.
-Vamos Major, temos um compromisso inadiável a ser tratado. – Apertou o ombro de Otávio rapidamente e caminharam juntos até o centro da pequena cidade. Algumas lojas ainda abriam suas portas para receber novos clientes e começar mais um dia, preparando-se para a freguesia. Mas, consideravelmente a cidade ainda amanhecia adormecida.
Depois de procurarem em duas pensões que conheciam, Luccino começara a ficar preocupado. Uma delas estava totalmente lotada, quanto a outra ofereciam quartos bem distantes em corredores diferentes, e o preço não era compatível ao limite que poderiam pagar no momento.
-Otávio, não sei se temos alguma outra opção. Talvez, se procurarmos daqui uma semana, quem sabe nós...
-Não, não. Nós vamos achar uma solução, não podemos desistir agora, e... – Otávio parecia determinado olhando para Luccino, e então de súbito pareceu ter a melhor das ideias, com uma expressão ansiosa. – Lembrei de algo! Randolfo me contara a alguns meses, sobre uma pensão que fica próximo à saída do Vale e próxima à floresta que rodeia a ferrovia... Será apenas alguns minutos de caminhada, mas acredito que valerá a pena. O que acha?
Luccino sorriu concordando.
-Então, é melhor nos apressarmos. Pode ser que tenhamos sorte!
Dez minutos depois, encontravam-se frente à pensão, na qual Otávio falara. Realmente, ficava a poucos metros da ferrovia e próxima a floresta. E sua arquitetura diferenciava-se das demais das quais procuravam. Parecia ser mais modesta, mas dentro do padrão dos modelos das pensões que existiam no Vale do Café e até mesmo na capital, em São Paulo. Uma senhora trazia uma vassoura de palha em mão, junto a um balde com esfregão em outra, parecendo determinada a fazer a limpeza da calçada até que reparou nos dois jovens próximos a entrada, cochichando algo que não conseguia escutar.
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Paradiso Privato
Fiksi PenggemarUm breve devaneio sobre uma porta secreta e um casal apaixonado.