Homens podem lutar pela igualdade de gêneros e participarem dos movimentos feministas?
Parece uma pergunta óbvia a primeira vista: Óbvio que podem, afinal sem o apoio dos homens essa luta não valeria de nada.
É exatamente aí que eu queria chegar.
A língua portuguesa, assim como todos os outros idiomas, tem o poder de através de uma só palavra, alterar todo o sentido, significado e valor de uma frase. Logo, participar e apoiar tem pesos completamente diferentes.
De acordo com o dicionário de língua portuguesa Oxford, apoiar significa: dar apoio a (alguém ou algo); aprovar, aplaudir. Enquanto participar significa: tomar parte em; compartilhar.
Dando uma contextualizada, quando um homem diz que apoia o feminismo, ele assume que vai se desconstruir através de empatia e alteridade, ou seja, se colocar no lugar da mulher e perceber que ele não gostaria que fosse ao contrário.
E sim, é fundamental que os homens apoiem nossa causa, porque isso vai significar que nossa luta está dando certo. Estamos ganhando visibilidade. Estamos desnaturalizando tanto os preconceitos completamente irraizados a ponto de ganhar o apoio do gênero que nos oprimiu. Isso é incrível.
Porém, se um homem participar dos movimentos feministas pela igualdade de gêneros, seria assumir que ele é oprimido e que também precisa de espaço e voz na nossa luta.
Homens são oprimidos de certa forma, claro; ENTRETANTO é incomparável com a que nós sofremos. Homens não saem na rua com medo de serem perseguidos/estuprados, não têm medo de usar transporte público e sofrer um abuso sexual ou assédio, não são intelectualmente inferiorizados o tempo todo, não têm suas vidas sexuais condenadas pela sociedade, a pressão de atingir o padrão de beleza imposto pra eles nem se compara com a que é posta sobre a gente, etc.etc.etc.etc...
Então não gente, homens não podem participar dos movimentos feministas pela igualdade de gêneros se eles não compartilham do que passamos. Vamos concedir voz àqueles que nos tiram para compartilhar de algo que não sofrem? Não né.
Imagina eu lá, branquinha, falando o quanto racismo é um absurdo e o quão ruim é passar por isso. Exatamente eu não posso fazer isso, eu posso tentar me desconstruir do racismo que aprendi e parar com pequenas piadas "inofensivas", com a subestimação, com a generalização da negritude, com o etnocentrismo em cima da cultura deles, etc. Ou seja, apoiando a causa e não participando. Isso vale também para o feminismo.
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Feminist
RandomFeminist é uma série de capítulos avulsos, nos quais terão com base uma crítica ao machismo. Baseado em Black Mirror. Contém cenas explícitas de abusos sexuais, violência, drogas, bebidas alcoólicas, vocabulário de baixo calão, etc.