A Estrela Cadente

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Todos na vila acordaram no meio da noite com um gigantesco estrondo seguido de um forte abalo sísmico. Os aldeões saíram assustados de suas casas para entender o que havia ocorrido. Os guardas estavam coordenando as pessoas para se organizarem, mas o tumulto crescia cada vez mais. Gritos de pessoas apavoradas eram ouvidos por todo a praça principal:

- O dia do julgamento chegou! Nós todos vamos morrer!

O magistrado da vila subiu em um palanque em frente à igreja e tentou começar a acalmar os cidadãos, mas sem muito sucesso. O desespero coletivo, os gritos e suplícios estavam mais altos do que o próprio estrondo.

- Acalmem-se! Por favor, acalmem-se! – brandiu o magistrado – O padre da vila nos informou que isso não passa de um impacto de uma estrela caída. Não há necessidade de preocupação.

Os aldeões começaram a se acalmar, mas a vila ainda continuava barulhenta. Um jovem guarda corria por entre a praça, uniu-se a um pequeno grupo de soldados e homens da vila que se reuniam para ir investigar o que havia acontecido. Ele se aproximou do capitão da guarda para receber suas ordens.

- O que devo fazer senhor?

O homenzarrão estava preparando seu cavalo. Estava com uma armadura de placas e cota de malha velha, porém bem cuidada. Em suas costas estava um gigantesco machado de guerra, na mesma condição. Olhou para o jovem.

- Pegue sua arma e seu escudo, Gael! Partiremos em 15 minutos.

O garoto obedeceu. Foi até o quartel da vila, vestiu com uma armadura de couro e cota de malha. Pegou um velho machado de aço e um escudo de madeira rústica.  Antes de voltar para o capitão, Gael decidiu fazer uma curta parada. Passou por entre a multidão que estava aglomerada na praça central da vila, que ecoava com a voz do magistrado. Todos os aldeões estavam  na praça. Não eram muitos. A vila era pequena, tinha no máximo uns 100 habitantes, circulada por uma grande floresta escura e intimidadora. A vila tinha apenas uma entrada era por uma pequena estrada de terra que dava para uma grande campina, onde se encontrava a Estrada Imperial.

Andava rapidamente pelas ruas desertas e pouco iluminadas. Quanto mais se afastava da praça mais longínquo ficava o barulho da multidão. Eventualmente chegou na periferia da vila, no começo da floresta. Agora, o único barulho era o de seus passos na grama molhada e o de alguns grilos e animais noturnos. Alguns minutos adentro da floresta, quando a densidade começava a aumentar, havia uma pequena fonte de luz. Era para lá que Gael se direcionava. Havia uma cabana de madeira. Deveria ter uma área de no máximo 25 metros quadrados. O jovem soldado se aproximou e bateu na porta da cabana.

- Entre. – disse a voz de uma mulher idosa.

O guarda delicadamente abriu a velha porta de madeira cujo rangido ecoava pela floresta. A cena era a seguinte: uma idosa estava sentada em uma cadeira de balanço enfrente a uma pequena lareira. Ela, coberta por no mínimo cinco cobertores. Estava lendo um livro muito velho e amarelado. A senhora parecia muito frágil e doente. Suas mãos eram magras e esqueléticas. Uma parte de seu cabelo já havia caído, restavam apenas uns longos fios muito brancos, quase tanto quanto a cor de sua pele.

- Avó Edna?

A velha virou-se lentamente para Gael disse com uma voz trêmula e cansada.:

- Você está indo com os guardas, não é mesmo?

- Estou, mas antes vim ajudar a senhora a se deitar. – Gael parecia apreensivo

A velha deu um sorriso melancólico.

- Não há necessidade de continuar cuidando de mim, meu menino. Não vou durar muito mais tempo.

O guarda com toda a delicadeza do mundo ajudou Edna a levantar-se e levou-a até sua cama, cobrindo-a com a mesma quantidade de cobertores. Foi até a lareira e colocou um pouco mais de lenha. Sentou em um banco ao lado da cadeira de balanço e encarou as chamas. O barulho do estalar da madeira ecoava pela pequena cabana. Era o único barulho que ouviam em meio ao silêncio da noite.

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