Se sentir vivo é como um estado de prazer, fazer com ele aconteça com frequência é algo quase impossível, porque em toda essa jornada louca que enfrentamos temos que lidar com os obstáculos inimagináveis nos derrubando sem se quer uma pausa para que possamos levantar e seguir.
Eles estão lá, somos induzidos a eles em nosso dia, um pode levar ao outro e outro e mais outro, como o mundo que esmaga a todos em apenas uma volta.
O tempo me deu tudo que pedi, por um longo momento, me fazendo sentir suficiente para lutar contra isso, mas a morte não possui gentileza, ninguém ensina a lidar com ela, é como se arriscar em uma queda perigosa sabendo que nunca passou por aquele caminho, você vai cair e se machuca.
Com 10 anos de idade ninguém costuma te aconselhar muito sobre a vida, e como ela é algo frágil que pode acabar apenas com um pequeno sopro, você cresce ouvindo histórias onde princesas adormecidas levantam com beijos de amor, e tudo volta a ser feliz para sempre, bom, a morte é algo mais complicado que isso.
Eu não fazia ideia de quando ela ia chegar, ou melhor, no fundo eu sentia a todos os sinais que o universo me dava, mas preferi ir pelo caminho fácil, o que encontrei naquele momento, negar. Pausar toda a dor que sentia e dar um sorriso como se tudo fosse ficar bem de novo, o que não era verdade, mas ter esperança não é algo pra se envergonhar, porque no final é tudo que resta.
Nunca fiquei acordada até tão tarde pra receber uma notícia na qual eu já sabia a resposta, ela entrou primeiro com um ar sério e gentil no rosto, tenho certeza que teve que ser forte para não desmoronar na minha frente, eu não seria capaz de tal coisa. Se aproximou me levando pra cozinha e me afastando de todo o caos que entraria pela porta em seguida, me lembro de gritar como uma adulta que exigia explicações para tudo aquilo, só que já havia explicado para mim mesma antes que ela buscasse palavra pra me dizer, ela se foi, e aquilo foi tudo.
Durante todo o enterro me fiz como uma criança que não entendia a situação, no momento em que vi meu avô tirando as coisas dela do armário me senti enjoada como se algo estivesse errado e eu não pudesse fazer nada para mudar, percebi que a indiferença é um sentimento que não se desfaz com rapidez.
Em nosso dia a dia prestei mais atenção em coisas fúteis do que deveria, não sabia como lidar com isso, meninas de 11 anos devem se preocupar apenas com a chegada da puberdade não com a mãe morta há quase um ano. Estanquei essa ferida de tal forma que nenhum curativo era forte o bastante, apenas durava algum tempo até que eu percebesse que ela estava lá. Todas as bebidas, festas, amigos, coisas caras, drogas e até mesmo garotos não eram capazes de me preencher, em algum momento percebi que não conseguiria realizar essa tarefa, pois nada cura a falta de alguém único, você só pode sentar e esperar que a dor se torne saudade, e você aprenda a lidar com ela, como uma forma de anestesiar o tempo.
No final nada se cria, nada se salva, nem volta a pertencer a ti, a roda do destino esmaga a todos e volta a girar deixando tudo para trás.
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Alicia de cabeça para baixo.
Novela Juvenillembranças de uma garota um pouco fora do normal. Trágica, feliz, difícil, complicada ... Épica. PLAGIO É CRIME, TODOS OS TEXTOS AUTORAIS.