Estou meio emotivo ultimamente. De certo isso é meio óbvio. Ninguém fica feliz depois de perder alguém. Já se passou uma semana desde o sumiço dela, e todos os dias eu sinto a culpa por não ter feito nada. Queria ter ela aqui do meu lado novamente. Essa casa fica muito vazia sem ela.
Depois daquela noite, acordei no sofá de casa sem entender o que havia acontecido. O trauma deve ter sido tão forte ao ponto de eu esquecer a maioria das coisas que haviam se passado. Só lembro da praça, do borrão, da dor e dos barulhos antes de desmaiar. Além disso, havia apenas um vácuo escuro que não me permitia lembrar de mais nada. Fora a sensação de desconforto como se eu estivesse tendo uma forte ressaca assim que acordei.
Logo após retomar a consciência, perguntei a tia Marge como eu havia chegado em casa. Aparentemente sem nenhum arranhão, o que é bem difícil acontecer comigo quando estou muito bêbado. Ela disse que eu apareci dormindo na porta por volta das 03:00 da manhã. Ela fez um grande esforço pra me arrastar da entrada até a sala, eu não sou o tipo de pessoa que você imagina que terá que ser arrastado um dia.
Ela só me fez uma pergunta enquanto me colocava pra dentro e me deitava no sofá.
- Mas cadê a sua irmã? - ela perguntou confusa e com um tom estressado enquanto me chacoalhava, mas tudo foi em vão assim que voltei a cair no sono.
Era comum chegar-mos tarde em casa e Kate tinha o "costume" de dormir fora muitas vezes, então tia Marge apenas ignorou o fato de que ela foi SEQUESTRADA.
No dia seguinte me perguntei o que havia se passado. Se havia sido um sonho ou uma alucinação, ainda estou confuso com esse acontecimento. Mesmo confuso procurei pela casa toda, entrei em todos os quartos e parecia que ninguém havia entrado ali desde seu sumiço.
Desci as escadas nervoso com meu olho começando a lacrimejar. Eu estava aos prantos, pois sabia que era tudo culpa minha...Pulando essa parte pra um pouco mais no futuro, no exato momento em que eu estava a ponto de me derramar em lágrimas após tantos flashbacks, como sempre faço, ouvi batidas na porta.
Não queria ver ninguém naquele momento, muito menos ter que conversar com alguém, mas tia Marge já havia aberto a porta. As vezes me irrito com a quantidade de educação que ela tem.
- Ele está aqui sim. Que bom que vieram para ajudá-lo a lidar com tudo isso. - ouvi ela dizendo enquanto atendia as visitas. Sua voz já não era mais a mesma voz receptiva e calorosa de sempre.
Eram Dean e Summer. Devem ter percebido minha ausência repentina. No final de tudo, acabei me isolando de todos que eu conhecia. Não me arrependo nenhum pouco disso, acho que ainda não estou pronto pra retornar a vida normal e sociável de novo. Ainda preciso processar muita coisa.
- Ficamos sabendo da notícia. - disseram em coro e se encarando logo em seguida.
- Não precisam se preocupar. - respondi tentando não demonstrar tristeza. A última coisa que eu precisava naquele momento era de mais pessoas se preocupando comigo.
- Deixa de ser bobo, sabemos que está passando por um momento difícil. Nós só queremos te ajudar. - não duvido nada de que a ideia de vir até minha casa tenha sido dela. - Você está a uma semana sem nos dar notícias. Ficamos muito preocupados. Não sabíamos o que tinha acontecido com a Kate...
- E nem com você. - disse Dean me olhando fixamente.
- Desculpe, eu não queria incomodar vocês com minha vida de merda. Queria que tivessem mais alguns dias sem estresse antes de ficarem sabendo.
- A gente se importa muito com você. Com vocês dois na verdade. Nos apoiaram desde a infância, estamos aqui para retribuir. - disse Summer olhando para mim como se fosse me dar um abraço.
De repente o meu telefone começa a tocar. Eu que não ia atender, já estava estressado demais com tudo, então passei o telefone adiante.
Dean atende o telefone e no exato segundo em que o colocou no ouvido ficou com um ar de medo no rosto que estava mais pálido que um guardanapo de papel. Ele passou alguns minutos conversando com a pessoa do outro lado, e parecia bastante nervoso com isso. Pelo que percebi ele estava tremendo e suava frio.Ele desligou o telefone, estava vindo para cá. Pela cara dele havia sido um diálogo extremamente desconfortável. Agi como se não estivesse curioso sobre aquilo. Olhei para Summer vi que esboçava a mesma reação que a minha.
- É melhor a gente conversar lá em cima. - disse Dean em um tom de seriedade.
Subimos para o meu quarto para que ele pudesse nos explicar o que havia de ser tão espantoso a ponto de o deixar nesse estado.
- O que aconteceu? Quem estava no telefone? Por quê você tá tão sério? - começou a perguntar Summer, que já não aguentava mais segurar tamanha curiosidade.
- Era ela... - me disse ele cuspindo as palavras. - ela pediu para eu mater a calma durante a ligação.
- Ela? Ela quem? Por favor me fala! - berrei enquanto chacoalhava Dean que não esboçava nenhuma reação com aquilo.
-Era a Kate. Eu falei com ela! - Dean já não conseguia mais falar direito. Sua voz estava trêmula assim como seu corpo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas assim como os meus ficariam daqui alguns instantes.
- O que ela queria?! Por que ela sumiu desse jeito? Eu vou gritar tanto com ela quando ela voltar! Esse é o pior tipo de brincadeira que se pode fazer com alguém...
-Ela t-tava pedindo por soc-corro... acho que estavam ameaçando ela. Eu não consegui entender muito, a ligação estava horrível, como se estivesse passando por um túnel.
Summer compartilhava a mesma reação que Dean, arrasados com tudo o que tinha acabado de acontecer.
- Ai merda. É é tudo culpa minha. Eu não consegui salvá-la e agora ela tá pagando por isso.
- Para de se culpar, você não teve nada haver com o que aconteceu com ela. - disse Summer embravecida.
- Isso não é tudo. - continuou Dean. - No telefone... Tinha um homem lá também. Ele falou comigo e pela maneira que ele disse, nós não temos muitas opções.... o tempo está acabando e sabe-se lá Deus o que eles vão fazer com ela.
Naquele momento uma onda de calafrios se espalhou pelo meu corpo. De todas as coisas que eu podia pensar, eu só pensava nas piores delas.
Minha irmã estava em perigo, e minha única pista era aquela ligação maldita.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ao soar da meia noite
Teen FictionUnidos por um sequestro, um grupo de amigos e seu parceiro detetive decidem investigar o acontecimento. E acabam descobrindo que não é só mais um caso comum e agora precisam correr contra o tempo para salvarem suas vidas e as de muitas outras pessoa...