Capítulo III - Katherine

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Acordar em um lugar estranho sem lembrar de quase nada do dia anterior não é uma experiência muito agradável. Estou em um quarto com paredes escuras e sem janelas que aparenta nunca ter visto uma vassoura na vida, somente com uma luz emergindo por debaixo de uma porta como iluminação.

A única saída que havia era essa mesma porta. Mas ela está sempre trancada. Estou aqui à três dias, me alimentando com fast food e outras besteiras que trazem para mim. Nunca pensei que um dia fosse enjoar de hambúrguer e batata frita.

A noite do sequestro foi realmente o cúmulo do trauma na minha vida. Meu irmão estava agindo estranho naquela noite, o que me fez pensar que ele estivesse ficando doente com o frio da cidade, mas no momento em que fui conferir isso fui agarrada por trás e derrubada como se estivesse em uma briga de rua. Senti minhas costas chocarem contra o chão, o que me deixou paralisada por meio segundo. Foi aí que vi um homem mascarado se ajoelhar sobre o meu estômago enquanto amarrava meus braços e pernas. Nesse momento comecei a emitir sons parecidos com chiados e gritos silenciosos, eu não conseguia emitir nenhum som, minha garganta estava tomada pelo medo e não voltaria ao normal tão fácil.

Olhei para o lado e vi meu irmão estirado no chão, gemendo como se estivesse tentando falar algo, até parar de emitir sons. Eu não sabia se ele estava morto ou não, e não iria conseguir saber enquanto aquele homem estivesse em cima de mim. Eu me debati, ainda muda, até ele tirar aquele joelho pontudo da minha barriga. Nesse momento alguém maior e mais forte me ergueu como quem ergue uma folha de papel, e me enfiou dentro de uma van preta e acabada.

A van saiu daquele lugar tão rápido ao ponto de eu não conseguir me manter sentada nos fundos. Quando minha voz retornou eu comecei a gritar e espernear dentro daquela coisa, foi o suficiente pra um daqueles monstros me calar com um pedaço de pano na boca, mas nem isso deteve meu corpo de se debater igual um verme alí, então senti uma dor no pescoço, olhei pra cima e vi um dos homens segurando uma daquelas armas de caçador, com vários tranquilizantes, deve ter sido o que usaram no meu irmão pra ele cair daquele jeito. E foi aí que eu apaguei, com a última imagem em mente sendo a do meu irmão estirado naquela calçada.

Agora nesse "quarto" meus unicos passatempos são ficar deitada olhando para as manchas na parede e dormir, quando eu consigo.

Um homem carrancudo acabou por abrir a porta me olhando com cara de raiva.
Me mantive quieta, já que durante todo esse tempo que passei lá ninguém nunca tinha entrado. Ele me puxou pelo braço fazendo com que eu me levantasse da cama em um salto e continuou me puxando por um corredor com outras portas, tinha uma poça de sangue saindo por baixo de uma delas, aquilo me deu calafrios.

Fizemos algumas curvas e paramos em uma sala com várias outras pessoas, algumas estavam apavoradas, e outras já estavam aceitando a nova realidade, mas nenhuma estava gritando e nem amarrada. Me sentei em uma das cadeiras vazias enquanto observava o lugar. Parecia uma daquelas salas dos alcoólicos anônimos, onde as pessoas iam para discutir seus problemas com bebidas. Notei que estavam chegando mais pessoas também.

- olá. - disse um garoto que se sentou ao meu lado. Ele parecia calmo, saudável e seus olhos me deram um tipo de tranquilidade.

- O-oi...

Eu estava fascinada com a beleza do garoto. Como eu posso estar interessada em uma pessoa que eu acabei de conhecer, ainda mais em uma ocasião como aquela? E porque estava tão calmo naquela situação?

Fui logo me perguntando o que eu e os outros estávamos fazendo ali. Já havia visto vários filmes em que sequestradores reuniam seus piores reféns para dar cabo deles, mas eu não havia dado tanto problema pra eles assim. Eu não dei problema, eu acho.

Um dos homens veio até mim e me chamou, ele apontou para um telefone, que estava em cima de uma mesinha no canto. Não sei como eu não tinha visto.

- Você só tem uma oportunidade para ligar para alguém, escolha bem, porque depois disso, você nunca mais falará com ninguém além de nós.

- Certo. - disse meio insegura.

Peguei o telefone da mão dele, e fui logo discando um número, quase que inconscientemente, peecebi em seguida que estava ligando para o telefone de casa, na esperança de Eddie ou tia Marge atenderem, mas quem atendeu foi outra pessoa.

- Alô?

- Katherine?

-Sim. Dean? Isso não importa agora. Estou precisando de aju...

Naquele momento o mesmo homem feio me empurrou brutalmente pegando o telefone e falando coisas a ele.

- Oi. Seja quem for ela não fizemos nada ainda, mas se você não quiser que isso aconteça, apenas faça o que eu digo. Ou do contrário sua seja lá o que for, voltará para casa em várias caixas, um pouco dela em cada uma.

- Quanto você quer? - perguntou Dean.

- Quem você acha que eu sou? Olha como você fala comigo seu merdinha, liguei para avisar que se eu ficar sabendo de qualquer policial envolvido ou qualquer cartaz de desaparecido colado por essa cidade, eu vou matá-la. Então fica na sua e quem sabe ela volte bem pra casa.

Ele acaba a ligação e começa a destruir o telefone.

- Não seremos localizados igual a última vez. Nunca repito meus erros.

Neste momento percebi que não era a primeira vez que faziam aquilo.
Ele me retornou a sala, onde avistei o garoto que falou comigo.

- Não tive tempo de me apresentar- cochichou ele após eu sentar na mesma cadeira de antes.

- Meu nome é Adam. Fui sequestrado à uma semana. Pelo jeito você é nova aqui. - disse ele com um leve sorriso brincalhão no rosto. Como se alguma coisa naquela frase tivesse soado engraçado.

- Não sei porque está sorrindo. A gente vai morrer.

- Pode ficar calma. Eles não vão te machucar, eu não vou deixar.

- A claro, você é o chefe, imagino. - disse com ironia.

Eu sabia que ele não seria de muita utilidade caso acontecesse algo comigo. Mas continuei conversando, não havia nada que eu pudesse fazer naquela situação a não ser conversar, com aquele estranho refém que acabei de conhecer em uma sala suja cheia de outros reféns.

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⏰ Última atualização: Jun 10, 2024 ⏰

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