2. O Pescocinho

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Jéssica apareceu no

beco da fábrica

às 21 horas.

Em ponto.

Vestido vermelho.

Sapatos altos.

Cabelos vermelhos longos.

Colar de pérolas falsas

no pescoço.

Pescoço não, pescocinho.

diria ela se pudesse ler

esse comentário.

Jéssica, 14 anos.

Cheia de sonhos e

desejos de mulher.

Jéssica esperando

o seu vampiro.

A LENDA URBANA NÃO TINHA MAIS DE 10 ANOS.

E tudo começou quando a tecelagem no final do beco fechou.

Alguns empregados cometeram suicídio.

O bairro ganhou casas abandonadas e mais miseráveis.

Na época, um belo adolescente de 16 anos matou os pais a facadas, bebeu o sangue deles e fugiu.

A fuga o transformou no jovem vampiro do bairro.

Passados alguns meses, bilhetes escritos com sangue começaram a ser enviados a garotas inocentes e apaixonadas.

Não, não existem mais garotas inocentes.

Apaixonadas talvez sim, mas inocentes não.

"EXTRA! EXTRA! VAMPIRO DO BAIRRO ATACA NOVAMENTE! "

Ontem Jéssica recebeu um bilhete escrito com sangue.

Bilhete marcando o encontro.

Só duas outras garotas tiveram coragem de ir.

Uma enlouqueceu.

E a outra foi morta com várias mordidas.

Jéssica não tinha medo.

Tudo o que ela queria era o jovem vampiro mordendo seu pescoço.

Desculpem-me novamente: pescoço não, pescocinho.

O bilhete dizia 21 horas e 30 minutos.

Mas a apressada Jéssica já estava no beco desde as 21 horas.

Em ponto.

Jéssica nunca se atrasava aos compromissos.

Ainda mais aos compromissos amorosos.

Ainda mais ao compromisso amoroso mais esperado de sua ainda recente jovem vida...

14 anos.

Quatorze anos.

QUATORZE ANOS.

Assim fica melhor.

Com letras garrafais.

Era assim que Jéssica sentia sua idade.

Uma idade maiúscula.

De livros, contos de terror e poemas soturnos.

Poemas de morte e dor.

Um dos preferidos: "VOZES DE UM TÚMULO", por Augusto dos Anjos.

Morri! E a Terra – a mãe comum – o brilho

13 Contos de Medos e ArrepiosWhere stories live. Discover now