O Banquete de Sangue em Nome do Monstro

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Ben acabou optando por montar acampamento ali mesmo onde havia findado a vida de Marcos e o transformado em pó. Local onde havia formado aliança com James, agora teria olhos entre o círculo de vampiros. O acampamento que conseguiu montar não era nenhum pouco glorioso. Mas já estava acostumado com caçadas. Uma barraca, uma fogueira, um tronco de árvore que havia trazido rolando colina abaixo serviria como banco, e para finalizar uma leitura interessante.
As três pastas amarelas da cor do sol que haviam sido colocadas na mala de viagem pelo próprio Ben. E elas continham tudo que ele precisava saber sobre os estranhos que seguiu mais cedo. Já era noite e por isso provinha de uma boa fogueira para manter-se aquecido e ter uma significativa iluminação.

Ele pegou a primeira pasta e a examinou

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Ele pegou a primeira pasta e a examinou. Nela dizia:
NOME: JAMES NORITHE PASVÉ
NACIONALIDADE: CANADÁ
DATA DE NASCIMENTO: 1977
DESAPARECIDO NO INVERNO DE 1995, AOS DEZOITO ANOS. REENCONTRADO PELA ÚLTIMA VEZ NO BRASIL EM 2005.
ATUALMENTE FORAGIDO.
TIPO SANGUÍNEO: FORBES BRANCUOS (SANGRA COMO HUMANO).
CLASSE: PRATICANTE DE VAMPIRISMO.
HABILIDADES: VELOCIDADE E AUTO CURA.
DOENÇA DE VAMPIRISMO ADQUIRIDA POR CONTATO DE MICRO-ORGANISMOS VIVOS QUE AUMENTAM A QUANTIDADE DE GLÓBULOS BRANCOS EM SEU SISTEMA SANGUÍNEO.
FRAQUEZA: SUBMISSÃO E ARREPENDIMENTO DE CUMPLICIDADE EM ALGUNS ASSASSINATOS. (Omissão de corpos mutilados).
James nunca fora capturado pela INTERROGAÇÃO.

Ben então fechou a pasta e a jogou na fogueira, com um leve sorriso pensou consigo mesmo que havia feito à escolha certa. James seria o perfeito agente duplo e o ajudaria a evitar que os vampiros soltassem o seu suposto Mestre.
Ben então pegou as outras duas pastas.
NOME: MARCOS VILA BOA.
NACIONALIDADE: POSSIVELMENTE BRASIL.
ANO DE NASCIMENTO: DESCONHECIDO.
SAÚDE MENTAL ERRÁTICA, ACUSADO DE CANIBALISMO E ASSASSINATOS. SUA FORMAÇÃO CEREBRAL É CARACTERIZADA COMO A DE UM PSICOPATA. PRATICANTE DE VAMPIRISMO.
HABILIDADE: MEMÓRIA FOTOGRÁFICA E EXTREMAMENTE CALCULISTA.
FRAQUEZA: EXTREMAMENTE EGOCÊNTRICO POR ISSO JAMAIS IMAGINA SER ABATIDO DE SURPRESA, O QUE O TORNA ONISCIENTE.
Ben jogou esta pasta também ao fogo. E em seguida pegou a última e mais importante.
NOME: ROBERTO ALVES MAGALHÃES.
NACIONALIDADE: POSSIVELMENTE BRASIL.
DATA DE NASCIMENTO: DESCONHECIDA.
PRESO POR VAMPIRISMO, CANIBALISMO, ASSASSINATOS COM REQUINTES DE CRUELDADE. QUANDO PRESO FORA ENCONTRADO DEZENAS DE CORPOS MUTILADOS EM SEU FREEZER.
ATUALMENTE CAPTURADO POR BEN E EM CÁRCERE NA PRISÃO DE SEGURANÇA MÁXIMA. RESIDENTE DA CELA 23B.
DESCONHECEMOS O LOCAL DE ORIGEM DE ROBERTO, É POSSÍVEL QUE TAMBÉM VENHA DA SUPOSTA FLORESTA COMO OS ANTIGOS DE SEU POVO.
Ele queimou a última pasta na fogueira murmurando consigo mesmo “quem dera que esse desgraçado ainda estivesse preso”.
Ben fitou o horário em seu aparelho celular ao lado da palavra “sem sinal” no aparelho aparecia vinte e uma horas e trinta minutos. Ainda não podia acreditar que seu aparelho tinha resistido à viagem. Os comunicadores e gravadores por outro lado haviam sido danificados. Logo seu dispositivo ficaria sem bateria, logo perderia qualquer contato com a tecnologia.
A noite havia caído na floresta desde mais cedo. Por volta das dezessete horas, lembrava Ben que já estava escuro. Neste momento em quilômetros floresta à dentro James estava frente a frente com Roberto. E como Roberto estava inconformado com a ineficácia de James e do falecido Marcos.
– Como dois vampiros não são capazes de matar um único humano?
– Não era um comum, era competente para nos enfrentar e te conhece! – Rebateu James com medo que não pudesse sustentar sua farsa.
– Me conhece? COMO SABE DISSO? RESPONDA! – Esbravejou nervoso.
– Quando briguei com ele... Ele mencionou coisas, disse que sabia tudo sobre nós e que sabia o que viemos fazer aqui. – Se sentiu aliviado. Pelo que tudo indicava havia conseguido ludibriar Roberto ele não desconfiaria de sua lealdade.
– Me conhecer? Espero que não seja o Ben. – Disse a James que imediatamente indagou – Quem é este? – Perguntou curioso afinal de contas mesmo estando ali acatando as ordens dadas por Ben não sabia quem ele era de fato.
Roberto não titubeou em dizer com desprezo quem era Ben. – Foi por ele que fui capturado, da última vez, ele estava em meu rastro há meses. Estava em casa preparando minha refeição como habitualmente faço e Ben e seus agentes invadiram e pegaram-me desprevenido, tinha muitas provas incriminadoras para me safar da INTERROGAÇÃO.
James se sentiu aliviado. Se Ben havia impedido Roberto no passado significava que ele era uma boa pessoa. Também não o havia matado, embora tivesse lhe dado quase uma sentença de morte. – “Espionar Roberto o que ele estava pensando? Que iria ir contra minha natureza e dedurar um dos meus? Claro que iria! As coisas que Roberto fez e faz são erradas, a questão é se vou sobreviver até o final disso” – Pensava.
E lá estava James novamente acatando ordens de quem ele sequer conhecia. Talvez fosse melhor assim, ele conhecia Roberto há muito tempo e tinha certeza que não o acataria de boa vontade. Já Ben pelos amenos estava fazendo o que era certo.
James estava preso em seus pensamentos e não notou nada que Roberto falava até que transitou por algo interessante –... Mas bom em questão de horas ele estará solto e reuniremos um exército de criaturas do escuro.
– O que estará solto? – Perguntou se fazendo de bobo. Embora pensasse que havia transgredido o nível de inocência e chegado ao patamar de palhaço e que havia demonstrado naquele exato momento que estava ali, apenas porque Roberto desejava.
– Nosso Mestre! James, já lhe expliquei um milhão de vezes. Você realmente parece lento às vezes. – Era exatamente isso que ele queria que Roberto pensasse se desse certo valia o esforço, e os insultos.
– De onde ele surgiu? – James não sabia mais o que era o quê, afinal ajudaria se pudesse saber de algo mais. Esse mestre ou ainda Monstro como os elfos chamam, o que seria? Qual forma teria?
– Meu Mestre, nosso Mestre. Outro nome ele tem aos mais chegados, porém este não é você, não ainda. Ninguém sabe ao certo quem ele era, mas eu sei, o conheci antes de tudo. Antes das maldições, das lendas, dos nazistas. Quando ele era um sugador de sangue como eu e você. E daqui a algumas horas o conhecerá, um dos seres mais importantes desse mundo. – Roberto dizia com um brilho sobrenatural em seus olhos sombrios, neles havia uma devoção nunca antes vista por James.
– Como você o conheceu? – Não sabia o que responder então simplesmente perguntava imaginando que assim os holofotes estariam sob Roberto e não sob ele. – Ele comandava Clãs das sombras, sugadores de sangue, lobos-de-antoroa, trolls, orcs. A única resistência eram os elfos e alguns seres de luz liderada por humanos que se chamavam de Morpheus. Nosso Mestre era jovem e precisava provar aos outros que podia deter os elfos se necessário.
– Você o viu este humano? – Por um momento James havia mentalizado Ben como este tal de Morpheus. Poderia soar infantil ou utópico, mas para James a esperança viria por meio de um simples humano. E por que não? Se este suposto Morpheus era o defensor dos seres de luz como os elfos.
– Não, não cheguei a vê-lo. Já faz muito tempo.
– Quando exatamente? – Estava muito curioso para deixar o assunto morrer agora. Mesmo a bruma da floresta os envolvendo no breu azulado da noite não era tão incômoda quanto não saber o desenrolar deste fato. – Por volta de setenta. O humano entrou em conflito com meu Mestre e ele acabou encarcerado numa outra dimensão, uma espécie de dimensão fantasma. E para o humano, o glorioso Morpheus dos elfos, a morte o restou. – Disse Roberto com uma expressão doentia. Então estava acabado. Não haveria ajuda por parte deste Morpheus, por um momento James pensou que este ser poderia estar vivo e vagando por aí na floresta. Poderia até mesmo ter um rosto já visto na floresta. E para James poderia ser mesmo o próprio Ben.
James achou o assunto muito interessante, parecia que o evento havia sido retirado de algum filme ou livro de fantasia. Porém era a pura realidade. Já não tinha certeza se seus olhos resplandeciam com a crônica ou se gargalhava com o choque cultural, afinal era tudo um tanto louco demais. Elfos, vampiros, nazistas, um Mestre que era denominado por Monstro, e um humano com poderes, afinal que raio de história era aquela que não fazia sentido algum colocada lado a lado.
Por vir das dúvidas era verdadeira e James teria de achar um modo de contar tudo a Ben. Mas o fio de pensamento de James foi interrompido por Roberto que disse poucas e diretas palavras. – James siga-me! – E andou em direção das sombras da floresta.
– Aonde vamos a esta hora da noite?
– Está na hora. Vamos encontrar o clã e preparar a cerimônia, teremos um banquete simbólico. – Não havia surtido o efeito, simplesmente não havia entendido que banquete seria este? Em plena noite James seguia Roberto pela obscura floresta que era muito extensa e cheia de brumas que banhavam a floresta na noite fria. Ao fundo se via a luz azulada da lua cheia. A atmosfera era mórbida, tão gélida que o inferno congelaria com a temperatura. – Estamos quase lá. – Roberto disse a James. Que se não fosse um morto-vivo estaria batendo os dentes de frio.
No horizonte via-se uma fogueira lampejando na escuridão e conforme os dois se aproximavam do local era possível ver espectros encapuzados, bruxas em torno da fogueira, e vampiros mal vestidos dançando com as chamas.

As Criaturas do Escuro: vol um (por Tempo Limitado)Onde histórias criam vida. Descubra agora