Invisível

Capítulo 1 - E assim começa...

NICOLE

Eu havia chegado na cafeteria há alguns minutos e já estava com o rosto colado nos livros. Como eu pude esquecer da prova de Português? Se não fosse pela Aline, minha melhor amiga, que não tivesse me lembrado, eu chegaria na hora da aula sem saber absolutamente nada. Ainda bem que ela me mandou mensagem logo cedo e deu tempo eu sair correndo para cá e estudar antes da aula. 

"Nicole?" - Ouvi chamarem pelo meu nome. Levantei e fui até o balcão onde me entregaram o meu pedido: Um café com leite. Agradeci e voltei para minha mesa. 

Eu gostava de vir nesse lugar para estudar, ler e até mesmo pensar, principalmente nesse horário, porque é quando está menos movimentado e eu posso ficar mais tranquila, mas o lugar já estava começando a lotar e o barulho a incomodar e foi aí que eu olhei o relógio e percebi o quão atrasada eu estava. Era só o que me faltava! 

Comecei a guardar as coisas o mais rápido possível para correr para a escola, que não era tão longe, mas se demorasse um minuto a mais, perderia o horário de entrada. Saí do estabelecimento andando o mais rápido que consegui. Carregando a machila mal fechada, quase derrubando tudo no chão, na mão direita e o café na esquerda, que com a correria acabei derramando metade, mas estava tudo bem, não daria tempo de beber tudo mesmo! 

Cheguei no portão já com um pouco de falta de ar e vi que Aline estava me esperando. Sorri assim que cheguei perto dela que me olhou retribuindo o sorriso. Ela estava como sempre: usando o uniforme e o cabelo preso. 

Aline: O que aconteceu com você, Nicole?

Nicole: O que? 

Ela olhou para meu cabelo dando risada. Me virei para uma janela ao meu lado e pude ver que meu cabelo estava totalmente bagunçado. Meu Deus! Saí tão apressada de casa que esqueci de pentear o cabelo. Que mico! 

Entreguei minhas coisas para Aline segurar e com as mãos livres tentei arrumar o cabelo jogando para lá, para cá e pronto! Não estava perfeito, mas pelo menos estava melhor do que antes. Tirando isso, eu estava como sempre, assim como Aline: usando o uniforme da escola. 

Aline: Pelo menos deu para estudar alguma coisa?

Me virei para ela e peguei as coisas de volta.

Nicole: Sim. E se não fosse por você, eu tiraria um zero sem duvidas! Obrigado por ter mandado a mensagem me lembrando.

Aline: Ah, amigas são para isso!

Sorri em respostas e entramos na escola. Fui direto para meu armário pegar o material para usar durante as aulas. Destranquei o cadeado, abri a porta e procurei pelo livro de Biologia, Matemática e como teria prova, não peguei o de Português. Fechei a porta e tranquei com o cadeado. Quando me virei para falar com Aline, já que seu armário era de frente ao meu, alguém - que não via por onde andava - surgiu do nada me fazendo bater em seu ombro e derrubar os livros no chão. Olhei para o lado e vi quem era - e eu estava errada, com certeza ele viu por onde andava e fez de propósito! Ele sempre faz isso.

Era o Raphael. Ele era o garoto mais popular e descolado da escola, sempre rodeado de garotas loucas para ficar com ele e sempre arrumando encrenca. Ele era o tipico garoto loiro, forte, olhos cativantes e bonito que todos adoram, menos suas vitimas do bullying que ele pratica todos os dias. Inclusive, e eu sou uma delas! 

Abaixei para pegar os livros espalhados no chão e tive a ajuda de Aline.

Aline: Não liga para ele, amiga. É um idiota!

Nicole: Eu sei. E não ligo. Já estou acostumada. 

Aline voltou para seu armário afim de pegar suas coisas e enquanto isso olhei para o lado e vi o Raphael. Ele estava rindo com um de seus amigos, Cássio. Eles eram um pouco parecidos, até diria que se parecem irmãos. Cássio tinha os cabelos da cor castanho claro. Os dois olhavam em minha direção e davam risadas. Claramente riam de mim pelo que fizeram. Eu não consigo entender como eles conseguem se divertir fazendo esse tipo de coisas. São sem duvidas dois estúpidos!

Aline: Vamos?

Ela já havia fechado seu armário e pego seu material.

Nicole: Vamos!

Olhei uma última vez para eles e vi que ainda davam risadas olhando para mim. Virei o rosto e fingi que não me importava, mas a verdade é que aquilo me fazia muito mal!

Chegamos na sala um tempo depois e o professor entrou logo em seguida. Ele entregou as provas na mesa de cada um e eu a encarei por um minuto. Respirei fundo antes de tudo e comecei a fazer a prova. Fiz de tudo para lembrar de tudo que estudei e até que consegui lembrar de bastante coisa. 

Ouvi um "psiu" vindo por trás de mim. Me virei e vi que era o Raphael tentando colar de um menino que sentava a sua frente. Sim, aqueles dois idiotas são da mesma sala que eu!

Revirei os olhos e voltei minha atenção para prova. Não queria me desconcentrar mais ainda. Estava quase terminando quando vi o professor se levantar e vir na minha direção. Achei que falaria comigo, mas não era na minha direção que ele vinha e sim mais atrás...

Professor: Raphael, me entregue sua prova e saia da sala.

Raphael: Mas...eu não fiz nada!

Ele era tão falso...bastante convincente! Se eu não o conhecesse, talvez teria acreditado.

Professor: AGORA, Raphael.

Ele empurrou a cadeira para trás fazendo barulho e se levantou. Deu a prova na mão do professor e andou na direção da saída, mas antes que fosse, parou ao lado do menino que pediu cola e disse "valeu", fazendo todos darem risadas. Ele saiu da sala e eu revirei os olhos novamente. Ele me irrita!

Terminei minha prova minutos depois. Me levantei para entregar a prova e vi que o Raphael já estava de volta na sala. Ele estava sentado em uma cadeira ao lado do professor, que parecia estar lhe dando uma bronca daquelas. Me aproximei deixando a folha na mesa e me virei para voltar ao meu lugar, mas fui impedida.

Professor: Nicole, espere!

Retornei dando um sorriso forçado.

Professor: Tenho que falar com você. 

Nicole: Pode falar!

O Raphael estava lá ainda, ouvindo. Ele não estava me olhando com aquela mesma cara que estava mais cedo, de deboche. Talvez tenha sido a bronca. Adorei!

Professor: Nicole, você é uma das melhores alunas dessa escola e tenho certeza que você é a pessoa certa para isso!

Nicole: Obrigada. No que posso ajudá-lo?

Ele cruzou as mãos e as colocou em cima da mesa. Olhou para Raphael e continuou a falar.

Professor: Acho que percebeu que o Raphael não está nada bem na minha matéria, e pelo que vi, em quase todas as outras matérias também. Então, eu ofereci duas opções para ele...

Comecei a ficar assustada. Tomara que não seja o que estou pensando o que ele vai pedir! Ano passado ele também me chamou para conversar a mesma coisa. Ele pediu que eu ajudasse uma aluna que estava indo mal na matéria. Eu ajudei com muito prazer só que dessa vez... não! Logo o Raphael?

Professor: Eu disse que ele poderia continuar do jeito que está e repetir de ano ou ele poderia se juntar com um colega para estudar e tentar recuperar suas notas. E ele, sabiamente, decidiu pela segunda opção. 

Ah, não. Era exatamente o que eu não queria!

Professor: Então, o que me diz, Nicole? Ano passado você fez a sua colega tirar 10 em quase todas as matérias. Está disposta à ajudar o Raphael?

Eu confesso que o que eu mais queria era falar "não", mas ao olhar para Raphael uma segunda vez, pensei que ele podia se esforçar e conseguir. E, quem sabe, se eu o ajudasse, ele pararia de me atormentar e me deixaria em paz de uma vez por todas? É... eu vou aceitar!

Nicole: Está bem! Eu ajudo!

Percebi o espanto no rosto de Raphael. Acho que até ele percebeu o quanto era babaca comigo e pensou que eu recusaria ajudá-lo.

Professor: Ótimo!

Ele riu e eu tentei rir também mesmo parecendo forçado. Voltei para meu lugar e Raphael veio logo atrás de mim. Ele estava me olhando, diferente. Isso me incomodou! Ai meu Deus, o que foi que eu fiz? Isso não vai dar certo! Como vou fazer isso? Eu nunca falei com ele e agora eu tenho que encontrá-lo todos os dias depois da aula.

Só quero ver no que isso vai dar!