something BIG | shawnick ♡

o buraco quente™

Sair para uma festa um dia antes do meu primeiro dia no emprego novo talvez tenha sido a pior ideia de todos os tempos. Mas quando entro na boate lotada e escuto o barulho ensurdecedor da música já é tarde demais para voltar atrás.

"Você é novo, Shawn! Precisa aprender a viver a vida!" eu repito para mim mesmo, tentando me convencer de que eu tenho total controle das minhas decisões.

A verdade é que eu tenho zero controle. Na maior parte do tempo eu não faço ideia do que estou fazendo da minha vida.

Tudo começou depois que eu e Liam terminamos o namoro. Ele estava ocupado demais cuidando da sua carreira de modelo internacional enquanto eu estava ocupado demais procurando um emprego decente que me desse o mínimo necessário para pagar o aluguel do meu apartamento minúsculo.

Sim, meu ex namorado agora é um MODELO INTERNACIONAL. É impossível não me sentir um lixo toda vez que penso nisso. E talvez tenha sido esse pensamento que me fez sair de casa às onze da noite e ir sozinho para uma boate chamada Buraco Quente.

Viu só? Eu não tenho controle nenhum.

Mas, pela primeira vez nos últimos seis meses eu me sinto confiante novamente. Estou com minha melhor roupa, meu cabelo está impecável e amanhã é meu primeiro dia como estagiário de design na Jonas Inc, uma das maiores agências digitais da cidade. Eu não sei se o que fez com que eu conseguisse a vaga foi o meu portfolio, minhas piadas durante a entrevista ou o meu charme irresistível, mas o importante é que eu consegui (e provavelmente não foi por conta das minhas piadas e muito menos do meu charme irresistível) (e, parando para pensar, o meu portfolio nem é tão bom assim) (talvez eu tenha sido o único MALUCO que topou trabalhar em troca de um salário tão ridículo mas, ainda assim, foi o melhor que eu consegui até agora).

"Para de se colocar pra baixo, Shawn!" eu continuo repetindo dentro da minha cabeça enquanto pego meu primeiro drink no bar e vou para a pista dançar.

A grande verdade é que eu só estou aqui atrás de homem. Não me entenda mal, eu sempre fui um garoto comportado, mas ficar sem sequer beijar na boca desde o meu término está me deixando louco. Hoje eu só quero arrumar qualquer cara minimamente interessante e usar por uma noite. Eu quero me sentir desejado. E, se é que você me entende, não seria nada mal se eu arrumasse um pau para chupar.

É só disso que eu preciso. Pra me dar um ânimo, sei lá. Eu preciso de um pau para usar como amuleto da sorte para o meu primeiro dia de trabalho e pensar dessa forma faz com que eu me sinta um pouco menos irresponsável.

Depois do terceiro drink eu já estou me sentindo animado o bastante para dançar um remix horrível de Bebe Rexha no meio da festa. O Buraco Quente nunca foi conhecido por ser uma festa com música boa, então eu nem posso reclamar. Mas os caras aqui são EXCELENTES. Observo os homens dançando ao meu redor e me pergunto qual deles vai ser meu amuleto da sorte. Dispenso um baixinho que já chega passando a mão em mim porque a) não sou muito fã de baixinhos e b) EU ESTOU DESESPERADO MAS RESPEITO É MUITO BOM.

Tento não chorar de frustração quando vejo um cara que eu tinha certeza que estava me dando mole beijando outro bem na minha frente (não é uma missão fácil porque a música daqui por si só já me dá vontade de chorar, já que o DJ achou que seria uma boa ideia tocar a discografia inteira da Sia).

Já passa das duas da manhã quando eu decido pegar minha última bebida e ir embora. Peço uma caipirinha de kiwi exercendo ao máximo o meu direito de SER MUITO GAY e estou seriamente pensando em dar em cima do garçom quando eu percebo alguém me observando.

Estou com os braços apoiados no balcão e, sem a menor intenção (eu juro), minha bunda está empinada. É como se eu estivesse pedindo para ser observado e, sinceramente, quem eu estou querendo enganar? Eu tenho uma bunda excelente. E ela está ainda melhor no jeans apertado que escolhi vestir hoje.

Esqueço todo o meu preconceito com baixinhos porque o cara que está me comendo com os olhos da outra ponta do balcão deve ter mais ou menos um metro e setenta. Ele facilmente viraria um anão ao lado dos meus quase um e noventa de altura. Mas eu não estou nem aí porque quando aperto os olhos para enxergar melhor eu sei que estou encarando o cara mais gostoso que já vi na minha vida.

Seus ombros são largos e seus braços, definidos. A camisa branca que ele está vestindo está tão justa sobre seus músculos que os botões ficam apertados, como se estivessem gritando de desespero.

Eu entendo os botões porque eu meio que estou gritando de desespero. Por dentro.

O homem misterioso tem o cabelo cortado bem baixinho e seu maxilar deveria estar no museu dos maxilares perfeitos. Tudo faz ele parecer forte e dominador, mas seus olhos são pequenos e doces. No geral, ele tem cara de maluco. Mas essa é a minha grande tara, no fim das contas: homem com cara de maluco. É isso. Ele dá um passo em minha direção e só então eu lembro de fechar a boca. Acho que a minha cara de fascínio foi mais do que o bastante para mostrar que eu estou interessado.

— Oi — ele diz, me olhando no fundo dos olhos.

— Que? — eu pergunto, apesar de ter entendido que ele só disse um "oi" mas ainda estou perplexo demais para pensar em alguma coisa inteligente para dizer.

Ele move seu olhar por todo o meu corpo, para por alguns segundos para analisar minha bunda de perto (OBRIGADO, JEANS APERTADINHO!!!!) e aproxima sua boca do meu ouvido para garantir que eu vou entender dessa vez.

— Eu disse... oi.

Sua voz no meu ouvido me dá arrepios e eu me sinto ridículo por estar tão excitado com o diálogo mais sem graça da história. Mas eu não preciso de nenhuma cantada. Eu não preciso de elogios, nem nada. Eu não me importo nem se ele for meio burrinho. A minha resposta já é SIM.

E no segundo seguinte nós estamos nos beijando. Eu tento equilibrar a caipirinha na mão sem me lembrar exatamente do momento em que o garçom entregou minha bebida, mas deixo o copo cair no chão no momento em que nossas línguas se encontram. Preciso inclinar um pouco meu corpo para baixo e quando ficamos mais ou menos na mesma altura o encaixe é perfeito.

O beijo desse cara é intenso e sua língua percorre o interior da minha boca de um jeito que eu nunca senti antes. Assim como o seu corpo forte contrasta com seus olhos doces, seu beijo é uma mistura das duas coisas. Ele beija com força e suas mãos correm pelas minhas costas com carinho.

Nossos corpos se aproximam e o ritmo do beijo segue a batida da música eletrônica tocando no fundo. Sua mão desce para a minha bunda me puxando para mais perto e OPA. OLÁ PAU DA SORTE! MUITO PRAZER!

Seu pau está muito duro e o meu também. Não há nada que eu queira fazer com esse homem que possa ser feito no meio dessa boate, na frente de todo mundo, ao som de Chandelier tocando pela oitava vez.

Com muita dificuldade eu interrompo o beijo e faço a proposta.

— Quer ir pra minha casa? Não é muito longe daqui.

É difícil formular a frase inteira porque enquanto tento botar as palavras para fora ele está beijando meu pescoço e eu nunca pensei que essa parte do meu corpo pudesse me dar tanto prazer. Obrigado por isso, pescoço.

Ele fica em silêncio por um segundo depois de ouvir o meu convite e eu entro em desespero, porque talvez eu tenha sido safado demais e já estou pronto para argumentar que eu não estou de pau duro sozinho aqui e ele é igualmente safado quando sua boca se afasta do meu pescoço e ele me pega, carinhosamente, pela mão.

— Vamos. Eu dirijo.

Digamos que homem que dirige é minha segunda maior tara (depois de homem com cara de maluco), então eu o sigo em direção à saída sem pensar duas vezes.

O corredor para a porta está lotado e eu tento não pensar em como estou sendo inconsequente ao levar um completo estranho para o meu apartamento. Vai ser uma foda rápida, a gente nunca mais vai precisar se ver de novo, certo? Aliás, meu ex deve fazer isso toda noite com outros MODELOS INTERNACIONAIS IGUALMENTE GATOS, certo???

Quem eu estou tentando enganar? Eu sou mesmo uma piranha.

— Aliás, meu nome é Shawn. E o seu? — eu pergunto, finalmente, quando conseguimos sair do Buraco Quente.

— Pode me chamar de Nick — ele responde, dando uma piscadinha.

Uma piscadinha que acaba comigo.