Capítulo 3-Lago das Lágrimas

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Na semana anterior Rain havia conhecido sua noiva, Íris. A garota de longos cabelos louros, olhos castanhos e pele bronzeada não parecia muito feliz, assim como ele. O jovem odiava histórias de casamento arranjado, se sentia triste pelas garotas dos livros que lia, nunca sequer havia cogitado a ideia de que poderia acontecer com ele também. O jovem achou a garota muito legal, mas achava que Nuva era mais que ela! Hoje a mesma havia ido ao castelo mais uma vez, o ensinou a costurar, tocar piano, e o ajudou no jardim. Tudo isso por que ele pediu. Mas, mesmo assim ela não se recusou a fazer nada, ainda que Rain tenha dito que não a obrigaria, a jovem disse:

"-Tenho que te obedecer, afinal, você é o novo rei"

Ao ouvi-la se sentiu tão mal, não só por ela, mas por todas as mulheres por terem de obedecer aos seus maridos. O príncipe não gostava disso.

Tarde da noite, se pegou perdido olhando para o horizonte através de seu teto de vidro, jogou fora a melancolia e começou a pôr em prática o plano para sair dali. Os espíritos que vagavam por lá o atrapalhavam, mas nada que não pudesse resolver, quando estava com Nuva era bem mais fácil ignora-los. Juntou o que podia levar em uma bolsa de couro que era de seu falecido pai e com a mão direita, socou o vidro da janela com toda a força que tinha. Fora a porta, as outras saídas ainda estavam trancadas

Jogou a bolsa pelo buraco e deixou com que as coisas ficassem por lá, sua prioridade nesse momento era salvar seu amigo, pensaria depois no que fazer. Com a mão sangrando, passou pelo mesmo buraco de antes e usou as trepadeiras que se estendiam ao longo da parede para chegar no térreo, onde colocaria em prática o plano de libertação. Propositalmente nos dias de passeio com Íris, prestava atenção nos horários da guarda e quais atalhos podia usar. Estava ansioso para vê-lo, morria de medo de que algo houvesse acontecido. O guarda que cuidava do calabouço estava curiosamente dormindo, se sua mãe soubesse já teria o demitido. Ter pego as chaves era muito clichê e perigoso, portanto usou um pedaço velho de arame para abrir a cela.

-Ei, Nuva. Sou eu, Rain!

-Rain! –Com os olhos brilhando correu até o amigo e pulou em seus braços. -Achei que havia desistido de mim.

-Eu não faria isso, seria crueldade com aquele que abriu meus olhos.

-Você está sangrando, precisamos limpar os ferimentos!

-Não se preocupe. Não foi profundo, estou bem.

Depois de explicar o plano, com muito cuidado saíram do calabouço, pegaram as coisas deixadas no chão anteriormente e puseram-se a ir correndo em direção da passagem para o lado de fora. Ouvira o barulho de algo caindo, o de olhos nebulosos virou rapidamente e se assustou, o que não esperavam aconteceu, Rain fora abatido por um dardo tranquilizante. Via tudo em câmera lenta, não daria tempo de voltar e puxá-lo para si, chorando em desespero com muita dor no coração, deixou o local correndo e montou no carente e solitário amigo equino que o esperava a muito tempo. Prometeu a si mesmo que voltaria e o salvaria daquele lugar, daquela fortaleza impenetrável.

Se escondeu junto de Cosmo em uma casinha perto do Lago das Lágrimas, engraçado, o que mais queria naquele momento era chorar. Deixou-se levar pelo mar de sentimentos tornou a derramar seus prantos, encolhido em canto da casinha de cedro e agarrado aos pertences de seu amigo, algo raro. Não era de demonstrar muito o que sentia, aprendeu a ser desse jeito com os irmãos e o pai, porém, Rain despertava nele a segurança de mostrar seus sentimentos. Não há problema um homem chorar de vez em quando.

Mais semanas depressivas se passaram naquele castelo, Íris já não conseguia mais animar o de olhos turquesa, ele havia ficado pálido, olhos vermelhos de choro acompanhados de olheiras e dono de uma motivação quase inexistente. Se recusava a comer e sair do seu quarto, lia e relia os livros uma vez entregues a ele pelo seu amado amigo que, desde pequeno, sempre que podia, trazia um livro diferente para si. Além de ser atormentado dia e noite pelos fantasmas vingativos de seus ancestrais.

Ouvira toques na porta, era a Rainha Florenza. A mesma abriu a porta de forma brusca e chamou o filho que, novamente, estava sentado no apoio da janela olhando para o horizonte ao pôr do sol.

-Querido, seus empregados estão aqui para lhe vestir para o casamento. Não pretendo começar uma briga com você novamente.

Florenza se retirou sem mais nem menos-deixando com que os empregados tomassem o lugar junto das peças de roupa repletas de muito tecido-estava farta de ter verdades desferidas em seu rosto o tempo todo. O príncipe não discutiu, não bateu boca, não tentou fugir quando a porta estava aberta, ele só aceitou o que lhe foi proposto, não tinha mais o que fazer, tentara de tudo e em nada resultara, só lhe bastava aceitar e ser falsamente feliz com uma pessoa desconhecida por si.

Desceu as longas escadarias trajando suas belas roupas brancas de detalhes dourados e seu véu, que Nuva tanto gostava de roubar de si para brincar e dirigiu-se para o salão que tanto temia, o salão de rituais onde a estátua da deusa ficava. Estava tão desmotivado que só se deixou levar, parado em frente à estátua já estava Íris, que continuava preocupada com seu amigo e agora quase marido. Os pais deles e pessoas do reino estavam reunidas lá também.

Rain fechou os olhos e inspirou fundo, tentando esquecer dos momentos ruins. Por um curto momento pensou ter escutado alguém gritando seu nome, achou que fossem os espíritos que o atormentavam, estes adoravam gritar coisas para o confundir. Ao ouvir o grito de novo e mais claramente, junto de vozes surpresas de quem estava ali, abriu os olhos e viu na porta uma silhueta contra a luz alaranjada do pôr do sol, lágrimas silenciosas caíam por seu rosto e ainda sem entender, com os olhos embaçados pelas mesmas, teve seu braço puxado por aquele alguém tão especial. Seu corpo andava sozinho atrás daquela pessoa, não sabia o que estava sentindo naquela hora, mas sabia que era algo bom. Seus espíritos foram anulados por aquela presença, a mão menor que a sua segurava seu pulso de forma que parecesse que este alguém queria o proteger. Os passos apressados passaram para uma corrida rápida e ágil.

-Vá, suba! –A voz tão conhecida por si falava de forma ofegante.

-Eu estive te esperando por tanto tempo. Achei que tivesse desistido de mim. –Esfregava os olhos com as costas das mãos, tentando limpar as lágrimas que ainda insistiam em continuar saindo.

-Sabe que eu nunca faria isso. Agora acalme esse coraçãozinho e monte no Cosmo, ele é um bom garoto e esperou todo esse tempo para te conhecer.

Acariciou o cavalo de crida sedosa, pediu permissão e subiu com ajuda, o outro o fez logo depois e então ao se agarrar nas vestes alheias ainda de olhos fechados começaram a se locomover.

-Pode abrir os olhos, Rain. Eles não vão nos encontrar por hora.

-Como sabe que meus olhos estão fechados?

-Eu sei de muita coisa, vamos, pode abrir, não tenha medo.

Sentiu o cavalo parar, desceu e, quando abriu os olhos, estava na ponta de uma bela montanha olhando diretamente o alaranjado sol poente em contato com o horizonte. Desviou um pouco o olhar e viu que os cabelos louros de Nuva refletiam aquele belo laranja, com certeza era a coisa mais bela que havia visto em toda a sua vida.

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⏰ Última atualização: Oct 20, 2018 ⏰

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