você era muito mais do que seus olhos azuis.
havia certo simbolismo extravagante neles, eu sei, até porque pareciam uma metáfora para toda a tua intensidade:
um conjunto de significados distintos
que apenas seres de coragem poderiam decifrar
lá no fundo
do teu mar
onde já fosse possível tocar os pés na areia e
encontrar tesouros os quais nenhum mergulhador
possuiu a audácia de tirar do lugar
por falta de força
ou de conhecimento sobre.
como dito, o oceano não lhe era tudo:
também tinha o céu e o clima com toda sua bipolaridade
e beleza
e a terra presa
– nem tão quieta –,
solo para todas as consequências de gostar, não gostar e odiar e sofrer.
você foi um mundo todinho.
a bagunça do nosso universo inteiro
num planeta só.
o desejo era tê-lo nas pontas dos dedos
porém além de corpo e alma.
talvez fosse apenas minha teimosia vidrada na sua
querendo ver o desconhecido – e admirá-lo mais
do que poderia.
talvez fosse outro ato de coragem utópica
aquela que planto apenas para dizer
que fui capaz de cuidar
e digno para colher.
e talvez não deveria colocar tanta esperança em tê-lo como lar para sempre
assim que a água quebrou todas as barreiras existentes
e levou para longe todo o pesar daqui
fazendo permanecer a ideia de estar tudo certo.
pois não estava.
antes me parecia absurdo amar tanto alguém que não
fosse a mim, e eu cheguei a amá-la num
nível ardente
tão duro que nos desmontou.meus conhecimentos sobre o amor eram
limitados:
apesar de querê-lo – ora sim, ora nem tanto –,
me esqueci de que também não sou bom nadador.
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cecília-te.
Poetry"tuas asas são teu movimento, quero as minhas no vento assim." - capa por filosoflor.