Guillotine: regress

Dia 23-10: Aniversario de 16 anos de Keith

A música desse cap é King - Lauren Aquilina
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Dia vinte e três de outubro. Plena primavera. Tempo chuvoso ou ensolarado dependendo de sua sorte. Geralmente é uma época do ano que as pessoas estão desesperadas pelo final do ano letivo, preocupadas com notas, trabalhos e em não repetir por falta — no caso de Shiro que estava na faculdade e que culpava totalmente Adam por aquilo.

Para Keith, era um dia que deveria ser especial, já havia sido especial, mas que, a cada ano que passava, ele se sentia ainda mais e mais indesejado naquela casa. Chegando aos 16, a crise apenas parecia pior.

Zarkon como sempre naquela época estava longe, para começar — não que fizesse muita diferença para Keith —, mas ao menos dessa vez tinha um motivo. Era ano de eleição então, como o bom político que foi eleito pela segunda vez para governar o estado, ele estava ocupado com comícios por todo o território para comemorar. Não que ele fosse se importar com Keith em um ano normal, mas Keith ainda se forçava a fingir que ele não estava ali naquele ano por estar ocupado trabalhando. Já Shiro, com uma pilha de xerox espalhados na cama para fazer os trabalhos da faculdade de engenharia que haviam se acumulado, não tinha tempo sequer para dormir, imagine para lembrar do aniversário de seu irmão adotivo. Se bem que Keith não podia realmente reclamar de Shiro, mesmo que não tenha o visto naquele dia, ele havia lhe deixado um presente na porta com um cartão naquela manhã, prometendo saírem para comemorar no fim de semana onde Keith quisesse ir. Apenas não daria para ser naquele dia em específico.

Claro, seu aniversário ter caído logo em uma quarta feira não ajudava em nada também, afinal, nem mesmo seus amigos podiam fazer algo, não tinha nenhum lugar que fosse legal irem ou sequer animação da parte deles para saírem de casa quando tinham tanta coisa da escola pra fazer. E claro, tinha a frase que usaram:

"Mas tudo bem, certo? Você não gosta de comemorar coisa. E já que não vai gostar de uma festa, não tem muito que a gente possa fazer numa quarta."

O mestiço começava a se questionar a imagem que passava a seus amigos depois daquele comentário. Mais que pela festa em si, ele ficaria feliz em passar a data com eles, ou ao menos pelo esforço de fazerem a festa. Ele era um cara de ação e significados afinal! Como eles não sabiam isso depois de anos?

De qualquer jeito, depois de ouvir desculpas o dia inteiro e receber um "parabéns pra você" estranho da turma que foi obrigada pela professora a cantar, Keith estava feliz por estar sozinho e sentado na varanda de seu quarto.

Ali não tinha que pensar em pessoas, não tinha que ficar se sentindo esquisito e indesejado, ou poderia fazer exatamente tudo isso sem ser julgado. E era a segunda opção que escolhia, se dando de presente de aniversário o aval para ser melancólico e rancoroso por algumas horas enquanto encarava o céu limpo da primavera as oito da noite, fumando um cigarro que roubou das coisas de Zarkon.

Ele mantinha tudo escuro, na esperança de desaparecer nas sombras ou pelo menos não ser visto por ninguém. Fazia calor, mas do lado de fora era ao menos suportável por estar no segundo andar e, na sua mão, havia também uma lata de cerveja bem gelada para caso quisesse se refrescar. Não que alguém precisasse saber isso. Tecnicamente não podia beber, mas ele não ligava para essa regra desde os 14.

O garoto soltou um suspiro longo e apático, soltando fumaça da boca devagar ouvindo o seu celular apitar dentro do quarto. Provavelmente cheio de mensagens de parabéns. Mas ele não queria saber delas agora. Ninguém se dispunha a estar com ele naquele dia e nenhum post no Facebook ia mudar isso.

Ele podia estar sendo injusto com alguns ou até mesmo birrento, porque a maioria tinha motivo, mas ele apenas queria sentir aquela frustração um pouco mais.