CAPÍTULO QUATRO

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Faye está com a orelha grudada na porta do quarto de Jack. Está tentando ouvir algo, um murmúrio, um pedido de ajuda, um pequeno sinal de respiração, qualquer coisa. Mas a resposta que recebe é um silêncio que lhe preocupa.

—Será que Jack a levou com ele? - Pergunta Steph, também se aproximando da porta.

—Está louca? - Julia exclama – Jack não é idiota. Ele sabe bem o que está fazendo.

—Jane, me dá um grampo.

Jane não responde ao pedido de Faye de imediato. Está com os braços cruzados e olhar distante, com sua mente muito além do que o que as meninas estão conversando.

—O quê?

—Seu grampo de cabelo!

Jane puxa um grampo, soltando seus fios de cabelos dourados sobre os ombros. Faye coloca o grampo na fechadura e, após algumas tentativas frustradas, consegue girar o tranco, abrindo a porta do quarto. Julia é a primeira a entrar. Sua primeira reação é parar, com os olhos vidrados na figura sobre a cama de Jack. É Steph quem grita ao ver o corpo mórbido de Susie largado entre os lençóis.

Faye, com as mãos trêmulas, se aproxima do corpo da menina. Seus olhos estão abertos, mas não possuem vida. Seus braços estão abertos, como em forma de rendição, e a parte inferior de seu vestido está coberta por sangue. Jane se aproxima, hesitante, e toca o pulso da menina, apenas para confirmar aquilo que todas já suspeitavam.

Faye passa a mão sobre os olhos de Susie, que acompanham seu movimento e se fecham.

—O que aconteceu? - Pergunta Steph em meio ao choro.

—Ela provavelmente sofreu uma hemorragia. - Disse Jane, olhando para o sangue vívido no vestido da menina. - Ela é muito magrinha, não deve ter resistido por muito tempo.

—Meu deus...

—O que faremos? - Pergunta Julia. - Não podemos deixá-la assim...

—Precisamos deixá-la assim. - Jane, tristemente, responde. - Jack não pode saber que estivemos aqui.

Steph está chorando descontroladamente, sendo acalentada por Julia. Jane está lutando contra as lágrimas, se esforçando para não deixar transparecer suas verdadeiras emoções, pelo bem das meninas. Faye observa o corpo inerte da adolescente, se recusando a olhar seus ferimentos, mas pensando em qual o próximo passo. Susie estava morta. Mas sua morte não seria em vão.

—Steph, você ainda tem aquela caneta de tinta permanente? - Pergunta, sem tirar os olhos da garota.

Steph levanta os olhos inchados de chorar, um pouco confusa com a pergunta.

—Acho que sim, mas...

Faye dá as costas paras as demais e sai do quarto. Julia e Jane se entreolham, entendendo nada do que Faye está tramando, apenas acompanhando o som dos seus pés no assoalho de madeira. Em poucos instantes, ela retorna. Tem um pedaço de papel e a caneta em mãos.

Jane acompanha quando Faye se abaixa no criado-mudo para escrever algo na folha rasgada de papel. Em letras garrafais, escreve: ESTAMOS PRESAS EM CATIVEIRO. O NOME DELE É JACK. DIRIGE UM CAMINHÃO. REDONDEZAS DE MISSOURI, WINSCONSIN, IOWA, DAKOTA, TALVEZ NEBRASKA. MEU NOME É FAYE RIDDINGS. JANE CAPDAVILLA, STEPHANIE RODRIGUEZ E JULIA MARY ESTÃO COMIGO. POR FAVOR, NOS AJUDE.

Faye largou a caneta e correu até a cozinha. Achou um pequeno saco plástico e voltou para o quarto. Dobrou o pedido de socorro e colocou dentro do saquinho. Ao fechá-lo, caminhou até o corpo de Susie. As demais apenas observavam, aflitas, já entendendo as intenções de Faye. Pobre Susie.

Faye, com muito cuidado, abriu a boca da menina. Colocou o saquinho plástico sobre sua língua e fechou sua boca. Talvez a boca se abrisse, o saquinho caísse e suas chances de serem salvas desaparecessem. Talvez seu corpo entrasse em decomposição severa sem ninguém jamais encontrá-la. Talvez Jack notasse algo de errado e descobrissem sua tentativa de serem descobertas. Na verdade, a chance de dar errado era maior do que de dar certo, mas aquele era um risco que precisavam correr.

—Vamos, meninas. - Disse Jane, tocando o braço de Faye. - Agora só precisamos torcer pra que isso dê certo.

As quatro garotas deixam o quarto, do jeito exato que estava antes de entrarem. Ao fechar a porta, Faye usa o mesmo grampo de Jane para girar a fechadura. Confere apenas uma vez para ter certeza de que está mesmo trancada. Está. Com o coração triste, ela se afasta, levando consigo uma pequena porcentagem de esperança que consola seu coração. Talvez Susie não tenha morrido em vão. Talvez elas conseguissem sair dali. 

O lado obscuro do solOnde histórias criam vida. Descubra agora