Extra:Histórias dentro da história=Elesis Road!

41 7 39
                                    

#1:Legado

"Olhares mordazes pedem que sejamos  simétricos, unidimensionais, e facilmente processados. Entretanto a beleza não vista em cada fagulha deformada é mais grandiosa do que seu possível julgamento..." —Disse olhando mais uma onda se desmanchar a frente de nós.

—Uaaau! —Elsword disse surpreso. —Onde aprendeu isso irmã?

—Vi num anime. —Falei sinceramente e ele riu.

—E conseguiu decorar uma frase tão grande assim? Você é incrível irmã!

Era mais uma tarde comum em El, mas era a primeira vez que eu estava vendo meu irmãozinho com idade o suficiente pra conversar comigo direito ali naquela praia, minha mãe e meu pai aparentemente vieram resolver alguma coisa relacionada ao divórcio e parece que não teve jeito pro faísca a não ser vir me visitar. Era bom ver como Elsword estava, eu gostava bastante dele, o peguei no colo e sempre tive muito carinho pelo mesmo, é uma pena que as coisas tenham tomado rumos tão tristes, mas pelo menos foi a melhor solução para pararem de expor ele, uma criança que transbordava inocência aquelas brigas constantes e horrendas, só de lembrar meu estômago já enguiava e as lágrimas corriam um pouco para os olhos os deixando vulneráveis a sua queda, mas eu já era forte, e primo Ercnard disse que nós Siegharts não devemos arregar pra nada pois somos fortes! 

—Ei ei irmã! Pode me ensinar a fazer aquele negócio com a água!? —Elsword me tirou de meus devaneios me fazendo uma pergunta bem doida.

—Ahm? Que negócio? —Perguntei o encarando confusa.

—Você sabe! Aquele negócio que faz booom! E depois baaag! —Ele começou a fazer uns gestos bem doidos com suas mãoszinhas me arrancando algumas risadas. —Sabe aquele negócio com a água que fica em cima da prancha, dai spraaax! —Ele tentou imitar o som de algo caindo no mar e falhou miseravelmente.

—Ah surfar você quer dizer? 

—Sim sim sim! Esse nome ai!

—Claro que eu ensino seu bobo. —Ri negando com a cabeça. —Mas, por que quer aprender isso do nada? Pensei que a mamãe não gostasse de surf.

—Mamãe disse que é ruim, mas eu acho tãão legaaal! —Os olhos dele brilhavam em admiração. —E como a irmãzona faz, eu também quero fazer!

Dei um suspiro de decepção, estava indefesa contra aquela carinha tão fofa de cachorro pidão de pelo vermelho e ainda por cima filhote, eu não queria desobedecer a minha mãe, mas o problema era que a escolha inversa a fazer isso era justamente magoar o meu irmão e ele é a última pessoa no mundo que eu gostaria de ver tendo seu sonho ou esperança em algum esporte destruído, ainda mais algo que praticamos desde cedo por aqui. Depois de pensar muito, dei um longo suspiro e fiquei de pé diante ao nanico.

—Muito bem faísca eu ensino... —Disse pondo as mãos na cintura e ele comemorou. 

—Eeeeeee! —Ele disse animado.

—Mas tem duas condições. —Cortei o clima.

—Aaaaaaaaaah! —Ele disse como se já tivesse desistido. —Quais são?

—Um: Você não vai falar pra ninguém MUITO MENOS a mamãe que estamos treinando sim?

—Certo! E a segunda? 

Nesse momento eu suspirei um pouco pesado mas abri um sorriso meigo e o respondi desta forma.

—Que você nunca...nunquinha mesmo! Deixe de fazer algo que goste, ou deixe de arriscar em alguma coisa na vida que você ache que vale a pena...

—An??? —Ele como eu imaginava...não entendeu nada, mas isso era bom, acabei rindo e neguei com a cabeça.

—Vai entender quando for mais velho, mas uma das primeiras regras que tenho que ensinar é: —Olhei para o mar tardio naquele por do sol lindo e fechei os olhos por um momento. —O mar é como a vida, as ondas representam fases, que machucam, corroem e deixam marcas no corpo, mas assim como mar, essas fases...passam, desmancham e tudo que resta são apenas memórias que podem nos fazer rir...ou chorar....

Alguns anos depois...

Eu estava diante daquele vasto mar para meu desafio final, ao meu lado, Arme e Lire sorriam determinadas assim como eu, nós juntas finalmente entraríamos para uma versão oficial definitiva desse campeonato então depois de respirar fundo nos jogamos no mar e fizemos uma bateria assustadoramente histórica, eu não lembro quando surfei tão bem em toda minha vida e assim que voltei para superfície e fomos chamadas para as classificatórias, foi uma comemoração que só, e mais tarde, naquela noite, uma mulher chegou a nossa casa com Elsword ao seu lado, ela dizia que ele foi o único sobrevivente e depois de ouvir a notícia, assim como meu irmão eu quebrei a promessa que fiz a Ercnard e desatei a chorar junto a ele por horas e mais horas a fio. Muito mais tarde naquela mesma noite nos sentamos a beira das águas e ficamos em silêncio observando o mar noturno por um longo tempo até que ele resolveu tomar a atitude e falar algo.

—Ei irmã... —Ele disse baixo e soluçando um pouco.

—Sim? 

—Você me disse uma vez que fases da vida são como as ondas do mar... —Ele fungou. —Será que um dia essa onda...vai desmanchar?

Foi algo que me pegou bastante de surpresa, eu realmente não sabia como responder mesmo tendo que sanar aquela dúvida de algum jeito.

—Quem sabe faísca.... —Disse cabisbaixa mais para mim mesma do que pra ele, mas ele também ouviu e voltou a se calar. —Quem sabe....

Eu nunca tive certeza até hoje se esta resposta foi a melhor que pude dar para Elsword nesta época de nossas vidas, mas esse era o reflexo de que até minha própria filosofia foi posta a prova em algum momento, e particularmente, eu acredito que foi funcional em grande parte dela, mas tem algo que eu não disse a Elsword naquele dia, essa é a segunda da parte da filosofia que diz que por mais que as ondas passem, sempre haverão marcas na areia molhada...o que fazemos com essas marcas é o que nos da uma definição, de como encarar o mar a nossa frente e todas as suas ondas que virão....

Fim...

A Onda Dos Sonhos:Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora