Sei o que faço

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- Por que eu sairia de casa? Hm? - Disse pressionando o celular na orelha com o ombro enquanto usava as mãos para secar o cabelo molhado na toalha - Droga, ela vai me matar. - Sussurrei quando notei que a tinta castanha saia na toalha branca.

- Porque você tem uma vida, Mark. - Mamãe dizia como se isso fosse óbvio - Vá almoçar fora, vá ao cinema, compre alguma coisa no shopping. Chame um amigo. As vezes sinto que você faz parte da mobília da casa!

- E não faço?! - Ri irônico e escutei a mais velha rir do outro lado - Ta bom, mãe, eu vou sair, ok? - Ela concordou e depois de um breve "te amo, tchau" desligou.

Infelizmente minhas férias já estão acabando, não me vejo tendo que voltar àquela rotina de faculdade e trabalho - isso porquê ainda não consegui um estágio -, no período que vou entrar tudo estará mais cansativo e trabalhoso. Era estranho escutar minha mãe mandando-me fazer algo fora de casa, não que ela não fizesse isso com frequência mas qual a graça de sair sozinho?

"Chame um amigo", se eu ao menos tivesse um.

Desde que fui obrigado a pôr um fim na minha amizade com Jackson via-me sozinho em todos os cantos. Na escola aproveitava o intervalo para vê-lo, depois tive que passar todo o tempo livre sozinho na sala ou no banheiro escondendo-me daquela pequena criatura que me perseguia. É contra o que meus pais querem, eu não podia. Pensava sempre assim para conseguir negar os pedidos daquela criança manhosa. Era claro que eu sentia falta daquele pirralho atrás de mim, ou daquele adolescente cheio de hormônios fazendo-me escutar suas experiências idiotas, até mesmo daquele quase-adulto que bateu a minha porta à procura de preservativos.

Sentia principalmente falta de Jackson. Falta da sua presença. Da sua risada. E não é porque moramos no mesmo prédio que tenho a sorte de encontrá-lo, longe disso; com mais 18 apartamentos nesse edifício movimento a última coisa que eu conseguiria era encontrar ele com frequência. Até nossos horários no dia a dia não ajudam, são completamente inversos. De qualquer forma, sem Jackson via-me de novo sem amigos - o que eu já estava desacostumado -, então tive que reaprender a lidar com as coisas sozinho. Apesar de que no trabalho eu conheci um rapaz chamado Jaebum, tal que vivia falando comigo e nomeava-me de colega. Acho que poderia chamá-lo para almoçar comigo. Não que eu precise de alguém, posso muito bem comer tudo sozinho, mas por eu ser muito calado o silêncio ao meu redor passou a me incomodar. Não que Jaebum fosse a pessoa que mais falasse no mundo - esse posto era tomado por Jackson -, mas ainda assim tinha mais liberdade e facilidade de se expressar do que eu. Pensei, repensei, imaginei todas as formas que ele poderia recusar e todos os foras que poderia me dizer. Respirei fundo e ainda enrolado na toalha sentei-me na cama e peguei meu celular.

"Jaebum, está ocupado?"

"Se estar no tédio é estar ocupado, então sim"

"Ótimo! Não quer ir comer alguma coisa comigo?"

Mandei e, depois de visualizar, Jaebum demorou alguns segundos para responder, tais que para mim eram eternos.

"Tudo bem se não quiser ou puder"

Enviei e logo o outro começou a digitar.

"Vamos sim! Será legal"

Senti um alívio enorme, até mesmo permiti que um sorriso satisfeito surgisse em meu rosto. Depois de mais uns minutos de conversa marcamos de nos encontrar no shopping às duas da tarde; teria que me arrumar mais rápido do que o imaginado. Abri o armário e questionei-me sobre o que vestiria. Já fazia quase três semanas desde que vi Jaebum pela última vez, deveria vestir algo legal, certo? Jogo todas as peças de roupa em cima da cama e fico as encarando por minutos, pensando em qual pegaria. Francamente, tanto faz! Pego uma calça jeans clara rasgada - tal que minha mãe tinha ódio, dizia que era feio e que eu não deveria pagar para comprar roupas rasgadas -, uma blusa branca de mangas longas e uma coturno. Visto as peças escolhidas e me perfumo, pego minha carteira e celular e vejo que já estou quase atrasado como sempre.

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