Ninguém mais me importunava, eu recebia apenas comida suficiente para mim e para Lily, acho que eles não queriam perder sua oferenda. A várias noites o céu estava nublado e esse fato me incomoda, acostumei tanto a procurar a primeira estrela da noite que fazia falta. Não que eu acreditasse piamente que desejando algo a uma estrela eu iria conseguir. Em um dos livros que li, dizia que as estrelas nada mais são do que várias explosões que acontecem muito longe daqui. Quando pequena me disseram que duas daquelas estrelas no céu eram meus pais que olhavam por mim. Eu não sabia em quem acreditar, apesar de tudo sou apenas uma pessoa nova sem experiência nenhuma com a vida.
Eu nunca estou sozinha, Lily me acompanha onde eu vou, a torre pode não ser muito grande, mas é muito solitária. No alto dela eu fiz o meu quarto, o mais distante possível do chão e da realidade, ele era simples. Minha cama ficava ao lado da enorme janela, encostados na parede haviam livros e livros empilhados, no centro um tapete que eu fiz e no canto as coisas que eu usava para fazer roupas e afins. Nada muito elaborado, aliás sou apenas eu e meu inseparável amigo, um ótimo ouvinte, devo dizer. Ele sempre escutava atenciosamente cada uma das histórias que eu contava para ele, sentíamos todas as emoções juntos ao decorrer da história. Era fácil de perceber quando ele não gostava do final, com a cabeça ele tentava retirar o livro da minha mão e quando conseguia parava ao lado da pilha.
Eu vivia cada dia por vez, evitava ao máximo pensar no passado e ignorava o futuro. Mantinha a "casa" sempre em ordem, confeccionava algumas peças de roupas para mim, o mais confortáveis possível e tentava manter minha mente ativa. Pensei até em escrever um pequeno diário, mas não faria sentido começar do meio, sem explicações. Se eu fosse fazer um diário seria como um pequeno livro com capítulos em formato de crônicas, profundas e bonitas. Faria de uma forma que ficasse registrado o menos melancólico possível, por mais que eu estivesse trancada aqui, não é tão ruim comparado com o que poderia ser. Eu aceitei esse destino e assim seguiria minha vida.
Peguei uma pilha de papéis e espalhei pelo chão, Lily entendendo o que eu faria, ficou deitado na escada apenas observando. Montei o mosaico e pude ver o mapa das estrelas demarcadas no chão, percebi que elas mudam de lugar de acordo com o tempo, então sempre procurava alguns padrões. Consegui demarcar boa parte do céu que eu via, achava fascinante como tudo se movimenta e volta para o mesmo local. Passei noites em claro para observá-las, no outro dia poderia dormir a qualquer hora mesmo. Encarei o céu novamente a procura de uma única estrela, apenas para eu imaginar como estaria o céu de hoje com menos nuvens. Pude ver meu amigo bocejar umas duas vezes seguidas, percebi que era hora de guardar os papéis e parar de imaginar coisas. Coloquei a pilha sobre alguns livros e Lily se deitou na minha cama e logo eu o acompanhei, pelo fato dela ser grande cabia nós dois, tranquilamente. Encarei o céu novamente e em um pequeno sussurro perguntei: "Porquê roubaste a minha única esperança? As estrelas..."
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Donzela em perigo? Acho que não
Fiksi PenggemarUma pequena órfã é destinada a fazer o que muitas garotas, de sua vila, queriam. Ficar em uma torre alta a espera do seu salvador, um rapaz que a salvará sua vida de uma fera horrível. No final ambos viveriam felizes para sempre em um romance eterno...