Capítulo um: A princesa de Astra

10 3 0
                                    

Parte 1:

Quanto mais tempo passavam voando em direção ao norte, mais quente o vento se tornava na pele de Helena.

A princesa contemplava nascer do sol apoiada na amurada da proa da aeronau. Era a primeira vez que ela voava para longe de sua Terra Natal. Acostumada com os longos dias e as longas noites de Astra, os frequentes naceres e pores do sol nas terras ao norte a fascinavam.
O vento embaralhava seus cabelos castanhos. Atrás dela um guarda se aproximava, com sua armadura leve, típica da marinha Astriana, tilintando suavemente a cada passo. O manto verde do guarda esvoaçou enquanto era reproduzida a bem treinada pose de sentido. Dirigindo-se à garota o guarda disse:
"Minha senhora. Vossa magestade, o rei, mandou este humilde servo avisar-lhe que estamos próximos de nosso destino. O rei sugere que vossa senhoria se dirija aos seus aposentos e que esteja vestida com boas roupas para o desembarque, pois a corte seguirá direto para um banquete de boas vindas no palácio de lago-verde"

Helena não respondeu. Sua única reação foi cemicerrar os olhos enquanto a luz do sol ficava mais forte. De repente perguntou ao guarda:
"O que existe além das Terras do Fogo?"
"As antigas terras altas, senhora." - o homem respondeu - "e além as antigas repúblicas, onde teve berço os primordios de nossa própria civilização."

A princesa não estava satisfeita com a resposta.
"E mais ao norte?" - perguntou ela.
"As lendas contam sobre cidades de ouro e impérios gigantescos, mas o consenso entre os estudiosos é de que é impossível rumar mais ao norte do que a área já conhecida."
"Por que?"
"Eles dizem que o sol fica tão próximo que derrete os pregos dos navios e a água tão quente que escalda qualquer um que tentar toca-la".

Helena suspirou e decidiu seguir a sugestão do guarda. As águas que circundavam Astra eram turbulentas, perigosas e imprevisíveis. A travessia entre os continentes de Cordanes, aonde o arquipélago das Terras do Fogo se localizavam, só era possível com os gigantescos navios voadores, abastecidos com as fezes dos Bisões-Brasis. Esse combustível, muito superior ao carvão feito de árvores que alguns povos usam, permitiu Astra se desenvolver tanto tecnologicamente, militarmente e culturalmente em um continente onde pouco verde se encontra e nenhuma árvore cresce. Contudo não era suficiente. Conforme a população cresce em Astra, o alimento fica a cada dia mais escasso. Os pescadores já tem que ir mais longe no oceano para pegar bons peixes e a caça também está cada dia menos rentável. Em troca de terras férteis no Norte, o Rei de Astra aceitou trocar algumas fêmeas e um macho reprodutor com o Senhor das Terras do Fogo.

Helena secava os cabelos quando alguém bateu na porta de seu quarto.
"Entre", disse ela sabendo que quem batia era Aurora, sua dama.
Os alegres olhos cor de mel da criada apareceram por entre uma fresta.
"Vim trazer seu vestido", disse Aurora. Ela entrou no quarto e fechou a porta atrás si. Em seu braço esquerdo trazia um delicado vestido azul com bordados verdes - as cores de Astra -, em sua mão direita uma escova de cabelo e uma sapatilha verde, que completaria o figurino. No rosto um sorriso doce que era o principal motivo de Helena amar sua companhia.

A dama colocou a roupa bem esticada em cima de uma cadeira, largou os sapatos e olhou para a princesa.
"Vem, deixa eu te ajudar".
Já vestida Helena e Aurora saíram para o convés principal. A comitiva já estava quase toda reunida e as gaivotas gritavam em em torno da pequena armada de aeronaus. Helena se dirigiu para o convés superior para se encontrar com seu pai, junto de sua dama. Após passar pela portinhola ela imediatamente reconheceu o Rei, mesmo entre a multidão que se aglomerava ao redor. Era um homem alto e atlético, claro mesmo entre os padrões Astranos. Seu cabelo escuro e cacheado estava preso acima de sua cabeça e sua barba bem feita. Helena não parecia em nada com seu pai, em contrapartida diziam que era a cópia de sua mãe. Helena não sabia. Sua mãe morreu quando lhe dera a luz. Por essa razão ela não estava acostumada a viajar para longe de Astra, como única herdeira do trono ela governava como Rainha enquanto seu pai estava fora, bom... ao menos fingia. Todas as decisões eram tomadas pelos seus tutores e o Rei sempre deixava o país com tudo planejado e com as ordens dadas. O máximo que Helena fazia era comparecer em jantares chatos e atender a reuniões mais chatas ainda.

O Rei Sirius queria esconder a crise que seu país estava passando, então para projetar poder e inspirar confiança decidiu trazer seus principais Generais, Almirantes e Soldados, gente excessiva para uma simples viagem de comércio.

O Rei estava encostado no parapeito bebendo Hidromel e Pão Cevado como café. Do seu lado estava Rafael, seu amigo de confiança e principal General. Eles riram de alguma coisa e então Sirius se virou para sua filha.
"Bom dia, querida. Acordou cedo hoje.", disse.
"O dia que começou tarde." Respondeu Helena enquanto rasgava um pedaço do pão do seu pai e colocava na boca. "É impressão minha está mais quente a cada dia que passa?."
Rafael riu. "Tem um motivo de chamarem aquele país de 'Terra do Fogo'". Ao longe Helena ouviu o grito de "Terra à Vista" do olheiro que sinalizava ao comandante de bordo para começar o procedimento de abordagem.
"Estamos chegando", disse o Rei.

A Filha Perdida de AstraOnde histórias criam vida. Descubra agora