Os Perigos da Realeza

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A leve brisa passeava abafada entre as casas de madeira, essas se encontravam longínquas das de pedra, as rochosas abrigavam os mais ricos e da realeza, aqueles que moravam perto do grande e esplendoroso Palácio. O monumento luxuoso parecia brilhar cintilante com os raios de sol que se batiam contra suas paredes esbranquiçadas.
Pelos extensos jardins detrás do Palácio, os guardas trabalhavam fervorosos enquanto pareciam procurar por algo pequeno entre os arbustos, aparentava ser importante já que os elfos armados estavam tão preocupados. Ao mesmo tempo, alguns grupos de soldados patrulhavam pela cidade, chegando a invadir as casas dos plebeus procurando pelos ladrões, que no dia anterior, haviam deixado o reino tão alarmado. Havia sido um crime pequeno, mas para os padrões do mundo de Álfheim, algo horrível e desaprovador.
Niffy voava em círculos pela cela no calabouço, o filhote estava nervoso enquanto esganiçava em um pedido escondido para que lhe deixassem sair dali, o pequeno dragão odiava estar preso, não importava o tamanho do espaço, e odiava ainda mais estar sozinho. Com sua curta garra se empenhou em arranhar as grades, esperando que sua mestra o ouvisse e com sua piedade viesse libertá-lo, mas a rainha estava longe do Palácio e em puro desespero seguia com Lyon e Aylin a procura do mesmo que os guardas.
- Como uma criaturinha tão pequena pode correr tanto? – a morena perguntou a si mesma com um pequeno bico em seus lábios. Moonlay, que era a mais baixa, com suas curtas pernas andava mais rápido do que Aylin, que estava despreocupada com o filhote.
Lyon limpou a garganta em um aviso prévio para que a elfa não dissesse mais algo, iria acabar por estressar ainda mais a sua rainha.
- Tem certeza que Nevazca fugiu, majestade? – perguntou o loiro de madeixas douradas, que contra o sol reluziam juntamente a sua armadura prateada. Logo se arrependeu de seu questionamento quando a elfa de cabelos longos se virou para o guerreiro e com olhos desesperados parecia querer matá-lo.
- Tenho certeza de que Nevazca fugiu, senhor Baelly! – Moonlay exclamou mais alto do que de costume, seus dedos se mantinham fechados enquanto a elfa apertava a mão até parecerem não ter o sangue correndo por seus dígitos. Mais rápido do que era esperado de uma menina como ela, a rainha voltou a andar em frente aos guerreiros que a seguiam.
Com um curto sorriso nos lábios, Aylin levou seu olhar ao loiro sentindo-se vitoriosa. No final ele que havia feito Moonlay explodir naquela situação, o todo cuidadoso senhor Baelly.
Suspirando pesadamente, Lyon ignorou a guerreira morena e se voltou ao que mais parecia importar naquele momento, encontrar o filhote de lobo desaparecido. Para o guerreiro e conselheiro, definitivamente não era o assunto mais importante naquele momento, mas o que faria em relação à Moonlay? Que mais uma vez se desesperava com o sumiço de seu tão estimado companheiro de quatro patas.
O vulto branco como a neve chamou atenção dos olhos cristalinos, Moonlay pareceu erguer seu olhar como um coelho quando percebe o predador por perto. Por meio das casas de madeira a rainha correu o máximo que podia, a saia de seu vestido rosado tremelicava enquanto a elfa ia apressada contra o vento, aquele simples momento de euforia fez com que Moonlay fosse perdida aos olhos dourados.

- Nevazca, meu bem! – a rainha o chamou afobada, estava cansada e seu tom de voz deixava isso claro. – Apareça querido, é perigoso! – seus olhos enchiam-se de lágrimas, já sentia que corria sem rumo entre as casas que lhe pareciam todas iguais e solitárias, não lembrava de terem tantas na cidade.
Ao longe Lyon e Aylin chamavam seu nome desesperados, sabia que desaparecer daquela forma era errado, mas não estava nem um pouco disposta a voltar até eles e deixar Nevazca ainda mais sozinho.
O chão de terra estava empoeirado pela falta de chuva e diversas vezes a fizera escorregar, também por culpa das pequenas pedrinhas soltas espalhadas sobre a terra. Moonlay quase caiu e sem nem saber do equilíbrio que tinha, se manteve de pé correndo atrás do pequeno lobo que, para ela, era como um filho.
De repente, a rainha é puxada sendo agarrada por seu pulso com força, seu grito é rapidamente abafado por uma mão enorme coberta por couro, essa que parecia capaz de cobrir sua face por inteira. O cheiro forte de bebida tomou suas narinas a deixando enojada.
- Fique quietinha majestade, e serei gentil. – mesmo um sussurro conseguia até mesmo ser grosseiro contra seu ouvido delicado.

- Onde diabos ela se meteu?! – a preocupação e irritação nas palavras de Lyon eram claras, a forma que agia fazia Aylin se arrepiar temendo que poderia acabar batendo em alguém para descontar suas emoções, algo que Lyon nunca faria.
Naquele momento a morena começava a se preocupar, Moonlay era uma rainha o que trazia muitos perigos até ela facilmente, a elfa vagando sozinha pela cidade não poderia ser algo bom ou trazer algo bom.
Os Elfos de luz eram um povo bondoso em sua maioria, violência era a ultima forma que usariam para resolver problemas, mas não existiam apenas de Luz vagando por aquele mundo, algum Elfo Negro poderia estar de passagem ou até mesmo para causar algum mal, Moonlay correria perigo, principalmente ela que era constantemente caçada pelo Povo da Noite.
- Às vezes não sei o que fazer com ela. – disse Lyon baixo, cheio de irritação enquanto invadia as casas procurando pela elfa, Aylin o acompanhava em silêncio enquanto seus dedos batiam contra sua armadura inquietos, achava que permanecer o seguindo não adiantaria em nada.
Ela não vai estar dentro de uma casa.  - concluiu a morena em seus pensamentos conturbados e logo deixou Lyon para trás, decidida em encontrar sua amiga sozinha, já que o guerreiro não parecia estar indo pelo caminho certo e muito menos disposto a ouvi-la.
- Senhor! Procuramos por todo Palácio, o lobo não está lá! – com a voz ríspida e palavras rápidas, o soldado logo avisou ao entrar na casa em que Lyon se encontrava, após a saída de Aylin. O elfo soldado passou seus olhos curiosos pelo lugar à procura de sua rainha, mas não a encontrou.
- Agora é mais importante encontrarmos Moonlay! – exclamou o loiro empurrando seu soldado com certa aspereza, o outro observou Lyon sair a passos pesados enquanto assimilava as palavras ditas pelo conselheiro, Moonlay havia desaparecido? Desesperado ele saiu correndo atrás de seu superior enquanto assobiava para que outros se juntassem a eles na procura.

Com animalidade a elfa delicada era arrastada por um local escuro, aquele que a puxava não se preocupava nem um pouco em ser cuidadoso, diversas vezes o corpo frágil se batia contra algo que Moonlay não conseguia identificar o que era. A elfa foi jogada sobre o que deduziu ser uma cadeira. O sequestrador não se importou em amarrá-la, aonde uma garota pequena como aquela iria? Ele com certeza a pegaria com facilidade.
- Vocês não vêem no escuro, né? – perguntou à voz bestial, Moonlay podia ouvir qualquer passo que aquele elfo dava, também podia imaginá-lo com facilidade. Era alto, com certeza, talvez gordo ou musculoso, ela fez questão de não tentar descobrir enquanto era arrastada.
Engolindo em seco a loira olhou a sua volta, mas encontrava apenas o breu naquele lugar abafado. Moonlay tentava focar sua visão em qualquer coisa, porém seus olhos feitos para verem na luz do dia não lhe ajudavam, entretanto a única coisa que lhe ajudava era sua audição sensível, parecia correr um córrego ali perto, ouvia claramente o som da água corrente.
A respiração repentinamente tão próxima de seu rosto a fez se agarrar contra a cadeira de madeira assustada, a elfa afastou seu rosto o máximo que podia enquanto em seus pensamentos pedia para que os deuses a ajudassem. Suas costas chegaram a doer contra a cadeira enquanto suas mãos seguravam o braço de madeira com força.
- Hum. – soltou o outro que a analisava. – Não fique tão assustada... Isso me excita, não é para esse tipo de coisa que estou aqui. – a elfa não sabia ao certo o que aquilo queria dizer, mas se espantou o que causou o riso do outro. – Talvez possamos aproveitar nosso encontro, ainda assim. – comentou por fim acendendo a vela que estava em uma mesa ao lado da cadeira.
Moonlay fechou seus olhos em uma careta por culpa da súbita luz, com seus dedos massageou a têmpora respirando fundo, sua cabeça parecia prestes a explodir enquanto sua mente só podia se voltar para Nevazca, a elfa começava a se irritar com aquele contratempo e nem imaginava o perigo que corria, sua mente preocupada não pensava sobre o que aquele momento realmente significava.
Os olhos dela repousaram sobre aquele que a observava insistente, os do elfo a sua frente pareciam ser capazes de corroê-la por completo, apenas em um olhar.
- O que quer? – a pergunta saiu ríspida e grosseira, de uma forma que ela mesma não esperava, mas ele realmente a irritava e despertava algo em seu interior, o que a elfa bondosa fazia de tudo para esconder. O homem se vestia com capuz, suas roupas eram escuras e de couro, Moonlay não conseguia identificar se ele era um Elfo de Luz, a forma que falava e as vestimentas eram diferentes, a ideia de ser um Elfo Negro brotou em sua mente a assustando ainda mais.
- Gracinha, gracinha. – disse ele andando até a mesa onde estava a vela, ali abriu uma bolsa de couro amarelada onde tinha varias facas diferentes umas das outras. Moonlay engoliu em seco, em seu interior o sentimento súbito de nojo crescia. – Esperava que sua vida fosse apenas flores quando fodesse com aquele reizinho? – os olhos de brilho avermelhado se pousaram sobre a refém que mal parecia entender certas palavras. A respiração de Moonlay se tornava acelerada a cada palavra deferida, claramente insultava um elfo morto. – Não importa, minha rainha quer sua cabeça e isso me basta. – ele deu de ombros, como se aquelas palavras fossem um simples cumprimento, já Moonlay se assustava com que lhe dizia, seu coração parecia perto de fugir por sua boca. Precisava sair dali.
- E o que ganha com minha cabeça? – perguntou ela a primeira coisa que lhe vinha à mente, naquele momento precisava mantê-lo entretido na conversa antes que pensasse em cortar seu pescoço, o que provavelmente poderia fazer com facilidade.
- O que ganho com sua cabeça? – o Elfo Negro franziu o cenho, lhe parecia à pergunta mais idiota que um dia lhe fizeram. – Ora, o respeito? Talvez até um belo par de seios de minha rainha? – o brutamonte deu de ombros. – Seja o que for será muito agradável para mim e nem um pouco para vossa majestade. – com a faca que segurava, apontou para a Elfa de Luz deixando claro que a majestade de quem falava era ela. A lâmina tinha um brilho obscuro contra a chama da vela, causando arrepios na elfa de bom coração.
- E se os Elfos de Luz lhe dessem mais? – engolindo em seco a loira perguntou, era o que costumavam oferecer para os Elfos de Luz que cometessem algum crime, mas naquele momento seu único motivo era atrasá-lo.
- Chupe meu pau e pensaremos mais sobre. – sorriu ele exageradamente animado com a ideia enquanto Moonlay não deixou de imaginar tal coisa que logo fez seu estômago revirar, se perguntava se aquilo fazia sequer um pouco de sentido.
Sem que percebesse o elfo se aproximou logo a deixando alerta, com brutalidade o Negro agarrou seu maxilar e a puxou em sua direção, obrigando Moonlay a se levantar enquanto seu pescoço delicado doía com o a animalidade do outro.
- Hum, você cheira bem. – comentou arrastando seu nariz melecado por suor em meio à pele da elfa, Moonlay fechou seus olhos com força, sentia-se enjoada com aquela sensação e o fedor de bebida que ele exalava, ele com certeza não lhe parecia uma pessoa sã. – Talvez possa aproveitar um pouco mais... Com certeza seria melhor do que qualquer puta de um bordel caro. – a empurrando com força, obrigou-a a se deitar sobre a mesa.
- Argh! – a elfa reclamou sentindo seu corpo doer com a batida forte contra a madeira. Aquele simples gemido de dor ascendia o desejo daquele que a apertava enquanto Moonlay lutou para fugir, a raiva efervescia em seu peito.
- Com certeza vai ser divertido! – exclamou o elfo que já agarrava a saia de Moonlay, parecia que a reação da pobre elfa o incentivava, ao contrário do que ela queria. Puxando o tecido da saia vagarosamente como se esperasse uma surpresa ali em baixo, o elfo lambeu seus lábios, os olhos brilhavam desejosos até receber um pisão em seu pé.
A elfa se arrastou sobre a mesa procurando fugir dele, que rapidamente agarrou-a pela cintura e brutalmente a forçou contra a madeira chegando a bater a testa da menina contra a madeira, o que causou um barulho alto acusando a força usada. A elfa gritou de dor, o choro vinha átona em sua garganta. Sentia-se completamente humilhada, de uma forma que nunca imaginou que se sentiria, a vontade de machucá-lo de alguma forma crescia dentro de si, aquilo não poderia ficar assim.
A elfa estava horrorizada com a forma que era tratada, nunca haviam sido vitima de tal brutalidade e a encostado daquela forma, seus olhos se enchiam de lágrimas enquanto a sensação de nojo a invadia com voracidade. Por vezes Moonlay tentava fugir daquele que a prendia contra a mesa, mas novamente era jogada com brutalidade contra a madeira.
– Fique quieta, sua vadia! – exclamou irritadiço, com seus dedos pressionava a cintura fina da mais nova, enquanto a empurrava contra a madeira usando seu quadril. – Aproveite seu último presente, puta. – disse ele, mas sem qualquer carinho em sua voz, enquanto seguia com seus dedos até a braguilha de sua calça, com a outra mão subiu para os cabelos de Moonlay e os agarrou com força.
A menina não esperava o que iria acontecer, o barulho familiar vinha se arrastando sobre o chão, era o barulho de pequenas garras que corriam sobre a madeira, Moonlay sentiu as lágrimas correrem por suas bochechas, o medo tomou os membros de seu corpo.
O pequeno animal rosnou da forma mais amedrontadora que podia em seu tamanho e antes que aquele elfo pudesse continuar, Nevazca agarrou a canela com suas presas pequenas, porém afiadas. Com força mordeu a carne e o sangue desceu causando a mancha escura na calça do elfo.
- AH! ANIMAL INSOLENTE! – exclamou o elfo irado com a dor dos dentes que lhe pareciam uma serra. Sem importa-se em machucar ainda mais, ele chutou o pequeno lobo para longe largando Moonlay enquanto com ódio seguia até o filhote.
O grito de dor que Nevazca soltara ao bater contra a parede fez o coração da elfa despedaçar, bravamente o branco levantou-se disposto a lutar por sua mestra e mancou choramingando. Ele era tão pequeno, Moonlay apertou suas mãos em punhos levantando-se.
- NEVAZCA! – o grito de Moonlay era esganiçado, sua garganta doera com a força de suas palavras deferidas, vendo o elfo tão perto do animal, sua primeira reação foi correr até o maldito que machucara Nevazca e a tratara daquela forma, a elfa pulou nas costas do elfo agarrando os cabelos por baixo do capuz e os puxando o mais forte que podia, chegando até mesmo a arrancar alguns fios com a raiva que sentia ditando sua força. O elfo gritou de dor e em reflexo rapidamente andou de costas até a mesa e bateu Moonlay contra ela.
A loira gritou sentido o bater bruto contra suas coxas lhe causar dor, o que a fez puxar ainda mais os fios quase me uma vingança silenciosa. Não importava o quanto ele lhe machucava e os riscos de lutar daquela forma, tinha certeza de que aquele pobre filhote merecia viver muito mais do que si.
- ME SOLTA VADIA! FAREI QUESTÃO DE FAZÊ-LA AGONIZAR DURANTE DIAS ANTES DE MORRER! – gritava o elfo que diversas vezes batia com Moonlay contra a mesa, tentando fazê-la soltá-lo. Em resposta a loira gritava de dor enquanto Nevazca agarrava na perna do homem novamente e era chutado mais e mais, as lágrimas escorriam pelas bochechas rosadas da elfa, o filhote lutava tão bravamente que lhe aquecia o coração a incentivando-a lutar mais.
Sem esperar pela própria ação, a rainha agarrou a faca sobre a mesa, essa que o elfo segurava anteriormente. Moonlay ergueu a lâmina no ar enquanto o agarrava pelo pescoço e com uma força sobrenatural desconhecida por ela, enfiou a lâmina no pescoço do elfo e a arrastou rapidamente por ser pescoço rasgando sua carne, o sangue logo jorrou e o corpo caiu sobre o chão em meio a espasmos, a elfa caiu sobre ele trêmula. Seu peito subia e descia rápido com a respiração acelerada, Nevazca andava sobre a poça de sangue que se formava no chão como se não fosse nada.
As mãos da elfa eram aquecidas pelo sangue que sem perceber ainda agarravam o pescoço daquele elfo que despertara um ódio desconhecido em seu coração e um prazer obscuro por ter feito aquilo, por ter o matado.
Largando a faca, os olhos assustados permaneceram sobre o corpo agora imóvel debaixo de suas pernas, enquanto o filhote de lobo subia sobre o cadáver indo até sua mestra, para ele não era nada passar por aquilo.
- MOONLAY! – a voz conhecida gritou por sua rainha, os olhos dourados passavam por ela assustados enquanto tentava entender o que havia acontecido, mas não tinha certeza se algum dia encontraria uma resposta para aquela cena.
Perdida Moonlay se afastou rapidamente do corpo, escondendo-se debaixo da mesa, tentava dizer a si mesma que não havia feito aquilo, mas percebendo que não tinha como negar, passava a tentar se convencer que havia sido necessário, que ele havia merecido.
Seus olhos sobre as mãos aparentavam hipnotizados pelo sangue que parecia manchar sua pele clara.

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