Querido, querido diário

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Como o título diz, essa é a primeira coisa que eu lembro. E quando falo a primeira, é realmente isso.

Morava em uma cidade, relativamente grande, isso se comparada as cidades ao redor. Porém la era um pouco... violento demais. Tinha quase 1 ano. Me mudei para um sítio, la fiquei até... 3 ou 4 anos. Sim, eu estudava, mas não lembro de nada da outra escola. Sinceramente, meus anos no sítio foram... normais. Isso era bom. Era. Me mudei, ainda durante essa época para outro sítio, porém mais próximo a outra cidade. E nessa comecei a estudar. Me transferi. Sabe, parece bem legal mudar de cidade, ou de escola, mas... Bom, pré escola, terceiro ano. No meu primeiro dia, sim, no primeiro, acabei gostando de uma garota, a "mais" bonita ("mais" porquê valia para mim, não sei os outros). Tudo ia bem. Eu acho. Até que chegou a aula de educação física. Como era a pré escola, nós íamos à um parquinho do outro lado da rua. Escorregadores, balanços, entre outras coisas. La foi onde aprendi que a vida... É complicada. Lá havia um escorregador, oco, feito de alumínio ou algum metal leve parecido. Fui preso la, por detrás das escadas. Jogaram areia nos meus olhos, me bateram. Motivo? Não sei. Sinceramente, não sei. A partir daí, fui espancado, humilhado, uhul. Tudo sem motivo. Meu melhor amigo nessa época foi o Sr. Gominha, ele era um chiclete que ficou preso no meu cabelo por algumas horas, triste, se foi algumas horas depois.

Depois de algum tempo, fiz de verdade dois amigos, eles eram irmãos, um deles era repetente. Gostava deles, zuava com eles, brincava, eu era muito extrovertido na época. Mas. Como sempre, eles se foram. E o que se foi, voltou. Sinceramente. Dessa vez pior. Bem pior. Descobri que tinha uma deformação dentária meio rara, dentes supre numerarios, basicamente, os meus dentes da frente não caiam. Era de leite até os 10/11 anos. Fiz uma cirurgia, retirei os dentes, esperei que nascecem de novo. Nada. E aí comecou o bulliyng, o nosso querido amigo. Os niveis de violência aumentaram. Aos que falam que eu deveria procurar a diretoria da escola, o fiz. Só precisei de o fazer uma vez para entender. Nada adiantaria. Sabe o porquê? O principal garoto que me batia e me humilhava era neto do diretor, o outro, parente do prefeito, os outros? Escravinhos. Minha família, ocupada demais, trabalhando, estudando, se esforçando. É triste saber que não tinha amigos, apoio escolar ou apoio familiar. Além de sofrer tudo isso, sofri assédio. Pois é, assédio, mesmo sendo homem, isso existe. É realmente triste que exista, para qualquer pessoa, qualquer. Sofrido. 10 anos no inferno. Calei a boca, era extrovertido, não mais, era feliz, não mais, parei de rir, de sorrir, de conversar, de buscar entender as pessoas, odeio o mundo, odeio. Me forçaram a ser quem sou, frio e de poucas palavras, que não se machuca fácil porque sentiu dor demais, que tem que prestar atenção na aula porquê não tinha mais o que fazer porque não tinha ninguém pra ouvir, nem pra ser ouvido, me forçaram a ser quem sou, e agora me chama de arrogante. Isso dói. Me construiram pra julgar. Fui julgado durante toda a minha vida. Me chamam de gênio, não sou, sou um sofredor que entendeu que não vale a pena. Alguns anos depois, finalmente, tive amigos. Apenas 3. Um deles se mudou, sobraram 2. Um deles me traiu e se juntou aos que me julgaram. Sobrou apenas 1. Uma pessoa, e ela me apoia até hoje. Só ela. Sol, a única pessoa que não me deixou pra trás. A única que me apoiou. Obrigado. Mas. Me mudei, no primeiro ano do ensino médio. Fui para outra cidade. Me sinto mal por isso. Deixei ela pra trás. Ainda converso com ela, mesmo distante, ainda é minha melhor amiga. Eu acho. Atualmente minha vida é mais estável, ensino médio de tarde, curso técnico durante a noite, mesmo sendo julgado, machucado por outras pessoas, não é como antes. Ainda não tenho "amigos", não como ela, ainda me chamam de gênio. Já disse, não sou. Ainda sou ameaçado, o pior, por coisas que não fiz. Meu porto seguro atualmente, sOL. Espero que pra sempre. É essa garota boba e doida que me faz seguir, mesmo sem dormir as vezes, mesmo me machucando às vezes, é ela quem me apoia. Mas agora, agora ela está com problemas na família. E eu não posso fazer nada pra ajudar ela. Sinceramente, querido diário, quero ajuda-la, mas não sei como...

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