Férias de verão, doces férias de verão. Não são como as de inverno que duram poucas semanas, são as mais longas, mas aquelas eram especiais, pois eram as férias após minha formatura.
-Próxima parada, faculdade! Clara fala me empurrando para fora da escola.
Era um ano muito esperado por todos nós do terceiro ano, Clara e eu estudavamos juntas desde o primeiro ano do ensino médio, foram três anos da melhor amizade da minha vida, uma que eu iria levar na memória para sempre, caso ela acabasse nos anos seguintes.
-Eu estou super animada para a formatura! Digo quando saímos do grande pátio escolar e começamos a andar pelas ruas da cidade.
-De fato estou mais interessada na viagem escolar de amanhã, toda a turma vai ir.- observo os olhos dela brilhar.- Três dias fora de casa e dessa cidade pacata.
-Eu gosto daqui, é legal, gente legal. Assassinatos acontecem duas ou três vezes por ano. Acidentes acontecem pouco também...
-Eu também gosto daqui, qual é Jennifer, não quero discutir com você sobre isso. Sei o quanto sua família super religiosa e cha..- ela olha para minha cara e certamente pode ver a frustação em minha expressão.- Desculpa te interromper. Bom, eu vou pra esquerda, tchau mocinha que ama essa cidadezinha monótona.
Era uma meia verdade, meus pais diziam que aquela era uma cidade abençoada, onde Deus habitava em todos os locais, protegia aquela cidade. Eu acretiva neles, era uma verdade, não era uma cidade pequena, era grande, porém não haviam vampiros, ovnis, sereias, leprechaun, gnomos e essas idiotices todas que a Clara amava, por isso pra ela era uma cidade pacata. O sonho dela era conhecer Denver, a cidade que diziam haver acontecimentos sobrenaturais. Eu e minha família riamos disso durante o jantar. Óbvio que eu achava tudo aquilo uma grande besteira que eles colocavam em filmes e livros pra vender bastante. E realmente, dava dinheiro.
-Geração ingênua. Falo colocando as mãos no bolso do casaco.
-Falando sozinha senhorita Jennifer? Escuto a voz mais irritante de todos os tempos, Allan Miller se encontrava a minha direita.
-Melhor do que falar com você. Digo passando por ele e ignorando o olhar desaprovador do mesmo.
Allan era o típico aluno palhação da turma, eu nunca entendi como alguém que passa a maior parte da aula brincando conseguia gabaritar sempre. O incrível é que quando eu sai do nono ano, pensava que o ensino médio seria outro nível, com pessoas inteligente e focadas nos estudos, mas como sempre, eu estava errada. Era só mais três anos com "crianças" irresponsáveis.
-Animada para amanhã? Ele pergunta andando ao meu lado e mantendo o mesmo ritmo.
-Não muito, presa em uma casa por uma semana com você e seus amigos burros. Não era oque eu planejava para as férias de verão deste ano. Digo sarcástica.
-Muito engraçada Jennifer, porém sem nexo algum, estavamos planejando isso desde o início do ano. Ele fala me pegando desprevenida.
Allan nunca descordava de mim, muito menos era ignorante, normalmente ele só pediria desculpas e iria embora se sentindo envergonhado por me irritar. E eu odiava isso nele.
-Olha Jennifer , não faço idéia do que diabos eu fiz para você...
-Não diga essa palavra. Interrompo ele.
-Que palavra? Ele pergunta me olhando confuso.
-Essa palavra satânica. Respondo rapidamente.
-Ah, sim. Desculpa.- ele faz uma pausa para retornar a performance de irritado.- Não faço idéia do que eu fiz para você me odiar, mas já que você me quer longe , irei fazer isso para você, durante esses cinco dias fingirei que não te conheço. Depois destes mesmo dificilmente iremos nos ver.Vejo sua expressão mudar totalmente após o fim da frase, ele fita a rua atrás de mim e depois sai andando como se nada tivesse acontecido, como se ele não me conhecesse. Tento entender tudo mentalmente organizando os fatos.
-Agora o ódio é recíproco. Digo começando a andar.
-Eu não odeio você. Escuto ele gritar.
-Ah, cala a boca. Falo apressando os passos para me afastar dali.
Minha casa não ficava muito longe dali, já era quase seis horas da tarde e o sol ainda estava no céu, verão era de fato a melhor estação do ano. Clara gostava mais do inverno e outono, ela gostava de tudo que era escuro, de dias tempestuosos e chuva forte. Nada disso me agradava.
Piso forte na calçada, minha casa era a próxima, só de imaginar chegar em uma casa vazia sem pais a sua espera era um pouco doloroso. Não, não sou a garota abandonada pelos pais que preferem o trabalho do que a mim, sou alguém madura o suficiente para saber que pessoas precisam da ajuda deles e eles como médicos podem ajudar. Era isso que eu planejava fazer após me formar em medicina, ser como eles, heróis.
Entro em casa e observo tudo, era a mesma coisa de sempre, a foto de família estava estampada a cima da lareira na sala, meus avós estavam lá, aquela foto era antiga e me trazia lembranças de um tempo muito bom. Ando até meu quarto após fechar a porta atrás de mim, as mochilas jogadas no canto para a viagem do dia seguinte não me deram o conforto que eu procurava. Me jogo para trás deitando na cama.
-Acho que seria melhor se eu não fosse. Digo a mim mesma.
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Slenderman-The game
Misteri / ThrillerNunca sabemos oque nos espreita, nos observa, aquilo que tem sede do nosso sangue, aquilo que almeja nossa morte, aquilo que deseja devorar nossa vida. Para um grupo de amigos em plenas férias de verão, ele será o fim , o mau que os observa...