Eu estava no banco do carona na frente da van, estávamos presos em um engarrafamento infernal na marginal Tietê. Ciro me perguntou se conseguiríamos chegar a tempo da para a sabatina no Jornal O Globo no Rio de Janeiro.
- Informei a eles que estamos presos no trânsito.
- Não gosto de me atrasar para compromissos de campanha.
Ao chegarmos ao Aeroporto de Guarulhos uma multidão estava a sua espera.
- Alguém vazou a informação que íamos pegar o voo agora? Perguntei a Jaqueline a chefe da equipe de segurança.
-Não.
Uma multidão em polvorosa gritava o nome de Ciro Gomes pelo saguão do Aeroporto. Mulheres, crianças, idosos, gente de todo tipo que se possa imaginar. Ciro estava contente com a recepção, mas aquilo era um risco enorme, depois do atentado ao candidato Jair Bolsonaro, a exposição a uma multidão desse tamanho em um espaço pequeno era um risco que não podíamos correr.
A equipe de segurança do Aeroporto de Guarulhos também não estava nada feliz com a presença de todas aquelas pessoas.
A multidão bradava "Ciro presidente! Ciro presidente!". Rapidamente Jaqueline juntou os quinze policias federais incumbidos da segurança da nossa comitiva em volta de Ciro, eu fiquei pra dentro do cordão de isolamento, as pessoas se aproximavam, queriam tocar ele, tirar uma selfie, mas nós não podíamos parar. Ciro gentilmente se prestava a tratar a todos com muita atenção e respeito.
Os corredores estavam lotados de gente, nos andares de cima pessoas amontoavam para ver sua passagem. Um grupo de pessoas em uma fila do check in começou a vaiar o Ciro. E a multidão de apoiadores o defendeu. Os ânimos foram se acirrando e logo o clima era de Fla x Flu. Pessoas gritando contra e a favor do Ciro. Eu vi que seu semblante mudou, ele ficou pálido. Na frente do cordão de isolamento Jaqueline tentava abrir espaço na multidão. Os gritos eram cada vez mais fortes. Um grupo começou a gritar "Bolsonaro Presidente". Agressões começaram a ser cuspidas de um lado e de outro.
Nós estávamos cercados em frente à escada rolante, precisávamos subir para conseguirmos chegar até a sala de embarque. Jaqueline insistiu que teríamos que nos resguardar numa sala de embarque no andar térreo mesmo. Mas Ciro não queria mais atrasos.
-A gente tem que esperar a multidão dissipar, não dá pra subir pela escada rolante agora. Jaqueline ordenou.
- Então vamos de elevador. Ciro respondeu.
- O elevador mais próximo fica a vinte metros daqui, temos uma sala de embarque na nossa frente que a segurança do aeroporto já liberou para a nossa entrada. A gente espera lá.
- Não! Preciso embarcar logo!
Os argumentos de Jaqueline de nada adiantaram.
Subimos pelo elevador mantendo a posição de cordão de isolamento em volta dele.
Em meio a gritaria e palavrões cinco tiros foram ouvidos. Os gritos agora eram de desespero. As pessoas começaram a correr. Umas passando por cima das outras. Um grupo de rapazes se esbofeteava trocando socos e tapas. O meu olhar escanceava a multidão para ver de onde os tiros tinham vindo, e se alguém tinha sido atingido. Por alguns instantes eu me perdi da comitiva de campanha. Estava quase catatônica, hipnotizada pela confusão. Parecei que tudo estava ocorrendo em câmera lenta. Ciro se desvencilhou do cordão de isolamento dos policiais e me pegou pelo braço.
-Vamos embora agora!
A tropa de choque foi acionada, e o saguão do aeroporto ficou parecendo uma zona de guerra. Pela TV da sala da polícia federal víamos a cobertura ao vivo do que tinha acabado de acontecer na Globo News. Eu procurei pelo Ciro, mas ele desapareceu assim que entramos na sala reservada, Jaqueline estava deitada no chão recebendo atendimento, eu fui correndo para ver o que tinha acontecido com ela, mas eu só escutava gritos de dor. Uma paramédica veio em minha direção e me puxou para longe de Jaqueline. Eu achei que ela não quisesse que eu atrapalhasse os procedimentos. Ela me fez sentar numa cadeira e puxou minha perna para cima, eu estava coberta de sangue da altura da coxa direita até o pé. Ela abriu minha calça com um tesoura estancou meu ferimento.
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Amores Presidenciáveis
Fiksi PenggemarEu me aproximei dele com a pasta de relatórios, ele estava distraído com os óculos na ponta do nariz olhando o celular, esticou as mãos em minha direção para pegar a pasta mas segurou na minha mão sem perceber. O calor da sua pele me queimou, aceler...