Randy, da Are You Randy?, insiste que o baixista da banda de queercore é homo, mas eu digo a ele "Não, o cara é hetero".Não faço idéia se ele é ou não responsável pelas letras de sua banda de merda. (O Homem que se foda/O Homem que se foda — mas que porcaria banal é essa?). Mas ele não éhomo. Pode acreditar. Há certas coisas que uma garota simplesmente sabe, por exemplo, que um intervalo de quarta numa música punk é uma péssima idéia, ou que de jeito nenhum um baixista de Nova Jersey com cabelo de Astor Place,vestido de calça preta toda rasgada e manchada de água sanitária,que usa uma camiseta preta desbotada Quando eu disser Jesus, você diz Cristo, escrito em laranja, se pega com meninos;ele se esforça demais na pinta Johnny Cash, e ele épunk e irônico demais para ser homo. Talvez ele seja um emo,eu disse ao Randy, mas só porque ele não parece uma relíquia do White snake como todos da sua banda, não quer dizer automaticamente que ele seja gay.
O fato incidental de ele ser hetero não quer dizer que eu queira ser a namorada de cinco minutos de um não-homo,como se eu fosse um lanche rápido na loja de conveniência,um serviço prestado à sua galinhagem. Só porque eu sou a única mané aqui que não perdeu os sentidos de tanta cerveja,drogas ou hormônios, eu tenho o senso de refrear meu instinto original — gritar para ele "NÃO, PORRA!" em resposta à pergunta do Não-Homo.
Tenho que pensar em Caroline. Eu sempre tenho que pensar em Caroline.
Percebi que o Não-Homo estava guardando o equipamento da banda sozinho, enquanto os colegas o abandonaram para curtir a noite. Entendo essa cena. Aliás, me identifico com isso de arrumar a bagunça de todo mundo.
O Não-Homo se veste tão mal — ele tem de ser de Nova Jersey. E se o Cara de Jersey é o roadie da vez, ele tem um furgão. O furgão deve ser uma lata-velha com um carburador vazando e que ainda pode estourar um pneu ou ficar sem gasolina no meio do túnel Lincoln, mas é um risco que tenho de assumir. Alguém tem que levar Caroline em casa. Ela está bêbada demais para se arriscar a pegar o ônibus. Está tão bê-bada que iria para casa de ônibus com Randy, se eu não estivesse aqui para levá-la para minha casa, onde ela pode dormir tranqüilamente. Tiete maldita. Se não a amasse tanto, eu amataria.
Ela tem sorte por meus pais gostarem dela tanto quanto eu; o pai e a madrasta dela estão passando o fim de semana fora, não dão a mínima para o que ela faz, desde que ela não engravide nem namore nenhum cara de uma família com renda inferior a seis dígitos. Babacas. Já meus pais adoram a Caroline, a linda Caroline e o seu cabelo caramelo comprido,seus lábios enormes de sabor cereja e sua passagem pela prisão por delinquência juvenil. Eles não vão ligar se ela cambalear do meu quarto até a cozinha amanhã à tarde, toda desgrenhada e de ressaca. É ela, e não eu, que atende às expectativas deles sobre o que deve ser a filha do diretor de uma gravadora multinacional que mora em Englewood Cliffs: doida.
Caroline não é uma Grande Decepção como a filha sem graça,que usa camisa de flanela, cabelo picotado cortesia-de um-salão-de-300-dólares-a-visita-com-mamãe-(Bergdorf's)-e uma-lata-de-5-dólares-de-spray-de-tintura-azul(Ricky's). Eu sou careta, responsável e também a melhor aluna da turma.Decidi passar um ano num kibutz na África do Sul em vez de entrar para a Brown. POR QUE, Norah, POR QUÊ? Meu ensaio para a admissão à Brown era todo sobre a forma como meu pai se apropriou de uma música do The Street e depois a arruinou para lucrar com The Man. Eu não sou mesmo um hippie corporativo de merda, disse papai, rindo, depois de ler meu texto. Meu pai não nega que é responsável por emplacar nas mais pedidas do rádio uma porcentagem absurda de seus hits insuportáveis, mas ele tem orgulho de ter me doutrina doem todo tipo de música desde a infância e assim, agora, aos 18 anos de idade, eu posso arrasar como DJ quando quero, mas também assumo que sou uma esnobe insuportável quando o assunto é música. Meus pais também me fizeram a desgraça de serem felizes no casamento por um quarto de século, o que sem dúvida condena minhas perspectivas de chegar a viver o amor verdadeiro. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
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Nick & Norah - Uma Noite de Amor e Música
RomanceO que pode acontecer quando dois adolescentes se conhecem po acaso em um caótico show de punk rock? Eles se apaixonam, é claro. Tudo começa quando Nick pede a Norah para fingir ser sua namorada por 5 minutos. É o tempo de que ele precisa para evitar...