{Capítulo 1}

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"É assim que termina

Sinto os produtos químicos queimarem em minha corrente sanguínea

Desfalecendo de novo

Sinto os produtos químicos queimarem em minha corrente sanguínea

Então me avise quando fizer efeito

Bem, me avise quando fizer efeito

Me avise quando fizer efeito..."

(Bloodstream - Ed Sheeran)

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{KATE}

Depois de ler as poucas linhas do que havia escrito no primeiro dia de aula depois das férias, o que eu fiz praticamente forçada pelo Sr. West, o professor de Literatura inglesa da NYU, quis covardemente me enfiar dentro do primeiro buraco que encontrasse.

Ele havia pedido à todos na última aula que escrevessem numa folha algo sobre nossas vidas para ler na frente da turma inteira. No inicio, me opus totalmente a essa idéia ridícula. Que tipo de professor nos fazia prestar esse papel? Eu queria muito mentir, escrever qualquer coisa que fosse bonitinha, coerente e que fizesse meus colegas não sentirem pena de mim, mas então lembrei-me que se quero ser escritora, tenho que enfrentar minha timidez descabida e falar sobre o que sinto, sobre quem sou. Afinal, não poderei escrever um bom livro algum dia se não me livrar da minha vergonha.

- Acho que ele é louco. Ouvi dizer que ele vai se aposentar! Espero que o próximo professor seja melhor, menos chato e mais atraente. - disse Kiara, enquanto guardava suas coisas na bolsa. Eu ri, ela realmente tinha uma mente fértil demais.

- Duvido que contratem um professor bonitão, queridinha. A reitoria da NYU não quer universitárias com notas ridiculamente baixas e calcinhas molhadas pelos corredores do campus. Você deveria sonhar menos! - eu disse, ela revirou os olhos enquanto pegávamos nossas coisas e saímos da sala.

Os corredores do campus estavam sempre lotados. Garotas dignas de estarem na capa da revista de moda mais famosa do mundo, desfilando seus corpos esbeltos por todo lado. Os caras, a maioria era do time de futebol. Atletas sarados, com carros que pagariam por todos os meus anos de estudo no campus. Essas pessoas tinham mais dinheiro do que eu podia imaginar! Eu estava há um ano na faculdade, nunca tive num namorado sério, nunca transei ou bebi uma dose de álcool sequer. Não me considerava uma garota feia. Tenho cabelos longos cor de chocolate, olhos verde-oliva, era magra mas com curvas e todos os atributos distribuídos nos lugares certos. Eu só era sem graça comparado as outras garotas daquele campus.

- Ouvi dizer que vai ter festa hoje na casa dos meninos. Vamos? Brad nos convidou. - minha amiga disse, tirando-me das minhas observações.

- Não sei, Kiara. Você sabe que eu não gosto dessas festas universitárias. Só tem drogas, sexo explicito e brincadeiras ridículas! - disse.

- É, eu sei. Mas desde que as aulas começaram, nós não saímos! Eu preciso da minha melhor amiga, Kat. Prometo não sair de perto de você! Por favor, vamos?

E ela estava certa. Desde que as aulas começaram, não saímos e nem nos divertimos de forma alguma. Estávamos sempre atoladas de trabalhos pra fazer, eu tinha meu trabalho e quando chegava, Kiara já tinha ido a alguma festa. Nosso tempo juntas fora da sala de aula era quase raro. Olhando por outro lado, eu ainda não tinha ido a uma festa da faculdade desde que comecei a estudar aqui, precisava me divertir um pouco. Assenti para minha amiga que deu pulinhos de alegria ao redor de mim feito uma criança que acabara de ganhar um doce.

- Certo. Vou resolver algumas coisas e quando voltar, nos arrumamos. Nada de você usar essas coisas ridículas que você chama de roupa! - ela disse, me olhando de cima abaixo.

- Eu gosto das minhas roupas, não tem nada de mal em gostar de estar confortável. - repliquei, irritada.

- Kat, você está prestes a completar vinte anos, precisa se vestir como uma mulher, não como uma menininha! Preciso ir, nos vemos a noite! - ela saiu, plantando um beijo na minha bochecha.

A caminhada até o alojamento foi tranquila, não havia tanto movimento quanto nos outros dias e cheguei em casa dez minutos antes do habitual. Ao entrar no quarto, me deparei com meu reflexo no espelho que ficava próximo a porta. Percebi que mais uma vez, Kiara tinha razão. Eu estava com um jeans folgado, blusa com mangas curtas de alguma banda que eu sequer conhecia, meus habituais all stars surrados pelo uso excessivo e meu cabelo num rabo de cavalo mal feito. Como eu seria uma escritora famosa se me vestia como uma garotinha de dez anos? Eu precisava me vestir como uma mulher de quase vinte anos e me portar como uma. Não deveria deixar que a minha personalidade timida e reservada interferisse até na maneira como me visto. Depois de uma anotação mental sobre ir fazer compras, decidi tomar um banho antes de descansar.

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