O início de tudo

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"Também ele era uma tentação 

Também ele era uma conexão para             uma existência além 

O mundo maligno do qual eu não                 queria mais fazer parte"

(Trecho de Blood Sweat & Tears) 


Dezembro de 1980


- Eu espero que você saiba exatamente o que vai fazer com esse livro. - A bibliotecária estava muito apreensiva.

Miranda apertou o objeto ainda mais forte contra o seu peito.

- Cuida da sua vida! - Gritou antes de sair as pressas.

Correu algumas ruas acima escondendo o livro de magia negra que havia encontrado na biblioteca de Seul, enfiou por baixo de sua blusa antes de entrar no mercado para comprar alguns itens que iria precisar.

A moça que estava no caixa encarou Miranda que estava toda encharcada pela chuva densa que caia do lado de fora, sua respiração estava descompassada e ela a todo momento olhava para os lados como se tivesse com medo de alguém. A garota não ligou para os olhares curiosos que recebia pelo caminho, andou apressadamente até a seção onde sabia que encontraria um maço de velas, pegou um pacote e foi para o caixa, retirou algumas notas de dinheiro amassadas do bolso de sua calça e as jogou na esteira voltando a sair às pressas do mercado, não se importando com o dinheiro que sobrou de troco.

Miranda conhecia a cidade de Seul tão bem quanto a palma de sua mão, passou literalmente a sua vida toda nas ruas pois dentro de casa a convivência  era insuportável. Sabia que naquele dia e naquele horário não encontraria ninguém embaixo da ponte que ficava próxima a prefeitura, olhou em volta para conferir se estava sozinha de fato antes de retirar os materiais que utilizaria naquela noite.

Com um giz - este que a própria havia roubado na semana passada de sua antiga escola - fez um círculo sobre o chão de terra, voltou até sua sacola e pegou o maço de velas que havia comprado a pouco, pôs duas velas uma em cada extremidade do círculo e as ascendeu, pegou uma folha de papel em branco e sentou bem ao centro do desenho, abriu o livro diante de si justamente na parte onde estaria as palavras que deveria dizer a seguir, pegou o caco de vidro que achou caído pela cidade e perfurou o seu próprio dedo deixando seis gotas de sangue cair sobre a folha branca. Olhou uma última vez para memorizar as palavras antes de fechar os olhos para se concentrar.

- Ad constrigendum ad ligandum eos paritier et solvendum et ad congregandum eos coram me.

Miranda hesitou em abrir os olhos, apesar de tudo tinha medo do que acabara de fazer. Aos poucos foi abrindo e não viu nada de diferente no lugar, se perguntou mentalmente se havia feito o ritual certo, verificou as palavras escritas no livro para ver se não havia as pronunciado errado, afinal de contas nunca tinha falado em latim.

Um raio cortou o céu da cidade num estrondo tão forte que fez a garota pular de medo.

- Não tenha medo, minha doce criança.

Uma voz aveludada surgiu atrás de si quase fazendo Miranda ter um ataque cardíaco, a voz contornou seu corpo até ficar frente a frente a si.

- Se estás com tanto medo de mim assim por que me chamastes?

As palavras se embaralhavam em sua mente, não conseguia dizer nada para aquela criatura diante de seus olhos. Era o homem mais belo que já havia visto em toda a sua vida.

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