VERÔNICA NÃO TEM CORAÇÃO

BEM VINDA AO LAR

Verônica apesar de ser uma menina inteligente, fria e calculista, seus últimos atos foram movidos por emoção, e também pelo ódio da rejeição, pela sede de vingança, ela sequer havia mensurado as consequências de tudo que acabou fazendo, uma série de mudanças não planejadas ocorreram desde então, Nádia era agora sua tutora definitiva, e via nela sua única família, após a trágica morte de seu filho, apegou-se ainda mais a menina, que ao seu olhar era frágil e desamparada, veio então a primeira mudança, retornar para sua antiga casa, que apesar de ter sido o palco de outro triste acontecimento, a essa altura não lhes restavam muitas opções, Doutor Edgar tratou dos trâmites legais para a reocupação da casa da Andrade Neves, e foram feitos alguns reparos, mobília nova e em pouco tempo elas se mudaram, a casa nem parecia a mesma, Nádia que era de origem mais humilde ficou encantada, o advogado se fez muito presente nesses dias atribulados, Verônica ficou observando os dois de longe, conversavam, riam, pareciam tão a vontade um com o outro, Verônica logo pensou que seria muito útil estreitar esses laços um pouco mais, tornar mais íntimo quem sabe, mas haviam três pedras no caminho, ele era casado, tinha esposa e as duas filhas gêmeas, Verônica tinha pressa, e sua cabeça fervilhava de ideias de como aproximar Nádia uma mulher tão simples, humilde e sem grandes ambições, de um homem tão habituado com outros padrões, não que Nádia fosse feia, era mais uma questão de modos, elegância, parecia impossível um homem como Doutor Edgar, um advogado de renome, que comandava um dos maiores escritórios de advocacia do Rio de Janeiro, que carregava seu sobrenome, na verdade o por conta de seu pai, que foi um grande jurista, e construiu um patrimônio invejável, chegando ao cargo de desembargador, o que não tirava seu mérito de ter conseguido manter e elevar o nome aos mais altos escalões, atendendo sempre os mais poderosos empresários, ministros entre outros figurões do país, o fator de interesse de Verônica sobre ele era obvio, sua fortuna, e ainda era poderoso e influente, um casamento dele com Nádia não seria nada mal, tornaria irrelevante até mesmo a suposta herança que a velha deixou, mas por mais que pensasse, sempre voltava ao ponto de partida, como isso seria possível, ainda que se livrasse das três toupeiras, era um casal bem improvável, em meio aos seus devaneios e planos mirabolantes, eis que Verônica em seu primeiro dia na escola, o tradicional Colégio Sion no Rio de Janeiro, conhece Lídia, a menina se aproximou dela já com um sorriso nos lábios e a cumprimentou.

_ Olá, você deve ser a famosa Verônica, meu pai fala muito de você, achei que fosse mais alta, inclusive.

De imediato Verônica percebeu que se tratava de uma das filhas do Doutor Edgar, Lídia de Mattos Del Duca, Mattos do Pai, Del Duca da Mãe, que era de uma importante família Italiana, que tinha até mesmo membros no parlamento europeu, a menina era conhecida na escola apenas como Duca, e não era de muitos amigos, era sarcástica, e por muitas vezes agressiva, Verônica notou o sorriso sínico da menina e um certo deboche em seu comentário, e então lhe respondeu.

_Sim, eu mesma a patroa do seu pai, afinal, como você deve saber, ele trabalha para mim, logo é meu empregado. Disse com ar prepotente e sorriso nos lábios, rapidamente interrompida por Duca.

_ Isso realmente não me importa, mas se você quiser eu te apresento a escola, acho que seu empregado conseguiu te colocar na mesma sala que eu, temos que concordar que Doutor Edgar é realmente muito competente.

Ambas se olharam e riram, e seria esse o inicio de uma amizade improvável, Lídia é o que muitos classificam como gêmeo dominante, era das duas irmãs a que sempre tomava as decisões e tinha a irmã gêmea como uma mera sombra, e era bem cruel com ela as vezes, as duas meninas passaram o dia juntas, o humor acido de Duca havia agradado Verônica que até então, nunca tinha feito nenhuma amiga, já Laura a outra filha de Edgar, não parecia muito interessada em Verônica, na verdade era bem distante, conversava apenas o estritamente necessário, a realidade das gêmeas Duca e Laura era um tanto diferente da de Verônica, e a menina viu nessa amizade a oportunidade de atingir alguns objetivos, que antes eram mais improváveis, usando Duca como intermediaria com o Advogado, que era bem reticente aos pedidos dela, o tempo passou e Verônica e Duca passavam cada vez mais tempo juntas, por intermédio dela Verônica conseguiu acesso a um dos clubes mais restritos da cidade, reservado apenas a elite carioca, o Country Club, unidade de Ipanema, para ser especifico, a compra do título de sócio depende de um restrito processo de seleção e o desembolso de módicos quatrocentos mil  reais, isso mesmo, mas claro que para alguém com o prestigio do Doutor Edgar, as portas sempre se abriam mais facilmente, a rotina de Verônica havia mudado drasticamente, sempre na companhia de Duca, suas tardes se dividiam entre shoppings, clube, Spas luxuosos, mas não demorou muito para que surgissem pessoas incomodadas com a presença dela, o High Society Carioca, se auto proclama a nobreza da atualidade, e enquanto nobres não costumam receber bem novos integrantes, pois para fazer parte desse mundinho exclusivo, desse clube seleto, não basta ter dinheiro, é preciso ter nome, e não qualquer nome, mas algo tradicional, dinheiro antigo, eles dizem, e apesar de ter padrinho, isso não a fazia diferença para a maioria deles, ela continuava não pertencendo a alta classe, e não demorou muito para ocorrer o primeiro embate, foi em uma pool party de aniversário na Gávea, pra quem não sabe, trata-se de um bairro bem localizado da Zona Sul do Rio, e lá estava a aniversariante, Glorinha Monteiro de Castro, ela e suas amigas inseparáveis e insuportáveis, Paula, Madeleine e Isabela, Verônica já as conhecia de vista, tanto do clube, quanto da escola, apesar de não estarem cursando o mesmo ano, sempre acabavam se esbarrando, a diferença de idade também era mínima, Verônica já tinha completado quatorze anos, enquanto Gloria completava seus quinze anos neste dia, e a recepção a Verônica não foi nada amigável, Glorinha de pronto questionou.