Não, Obrigada.

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Antes da epidemia Dylan era apenas mais uma aluna do último ano do ensino médio que já se preparava para o baile de formatura. Mas no dia em que os mortos voltaram a vida, ela estava na escola. Tendo a aula que ela mais odiava e tendo que olhar para a cara da professora de Álgebra. Não demorou muito até que o caos se instalasse na escola e professores tivessem que acalmar seus alunos, mesmo eles estando apavorados da mesma forma. Logo a escola estava tomada desses seres e Dylan só sobreviveu porque se escondeu em um dos armários da cozinha. Foram dois dias e meio dentro do local até que ela não escutasse mais gritos no prédio e pudesse sair de onde estava.

Foi um choque para ela, que tinha dezesseis anos na época, ver todos aqueles corpos dilacerados pelo chão. Mas o pior foi quando ela viu a diretora da escola com um enorme machucado no pescoço e viu que a mulher já não parecia ser a mesma. Mavis Summers foi a primeira morta que Dylan teve contato e também foi a primeira que matou. Logo após o cadáver podre da diretora cair ao chão, ela começou a escutar passos se direcionando para onde ela estava e ali ela soube que precisava sair daquele lugar. E desde então ela está sozinha.

Hoje em dia Dylan gostava de lembrar de como as coisas eram e daria tudo para poder estar diante da Miss Evers novamente para mais uma aula chata.

Desde que o mundo foi para a merda, ela tem estado a maior parte do tempo sozinha. Claro que ela já teve contato com alguns grupos e tudo mais, porém na maioria do tempo ela estava só. E isso foi o que a ajudou a permanecer viva, ela só podia contar consigo mesma e mais ninguém.

Ela sentia uma imensa falta das coisas que podia ter com facilidade e das coisas que ela não dava o devido valor, mas hoje são tudo o que ela mais necessita. Água limpa, por exemplo. Era raro encontrar água esses dias.

Você deve estar se perguntando como uma garota de dezoito anos está conseguindo viver com o mundo da forma que ele está. A resposta é simples, se torne invisível. Não use armas de fogo a não ser que seja necessário, não carregue muitas coisas, tenha sempre o suficiente para se manter vivo e, dentro do possível, saudável.

Não dá pra você viver em um mundo que quer te matar, se você deseja ter mais que necessário. Claro que ter uma segurança de que você terá o que comer no dia seguinte é maravilhoso, mas se você não podia se dar esses privilégios era melhor não arriscar.

Dylan andava pela mata cada vez mais fechada e ela tinha certeza de que era a primeira vez em todo esse tempo em que ela entrava em uma floresta dessas. As anteriores eram bem fáceis de caminhar e se fosse necessário correr, ela não teria problemas.

Se fosse observar por um lado, essa mata tinha seu lado positivo também. O fato dela ser fechada e ter enormes árvores fazia com que ela tivesse mais lugares para se esconder e não correr o risco de ser vista e também a chuva não atrapalha tanto quanto em uma mata aberta.

O último grupo com que Dylan teve contato foi há mais de três meses e ela havia ficado com eles por apenas duas semanas até perceber que eles eram fracos e acabariam morrendo. Decidindo que não queria se apegar para ter que lidar com a perda depois, ela partiu em uma noite quente com um pouco de comida e água que ela havia juntado durante o tempo que esteve com eles.

Ela sabia que as pessoas haviam se tornado perigosas. Era o instinto do ser humano se tornar cruel quando não tivesse mais nenhuma base de sociedade estabelecida. Ela esperava que as pessoas fossem fazer tudo o que não era permitido antes, e não estava enganada.

Ela percebeu que deveria parar de se juntar a grupos quando cruzou caminhos com um grupo de homens que se denominava de Os Claimers. Eles eram mais de oito homens e ela não fazia ideia de como havia conseguido escapar. Joe, o líder, havia encontrado ela na floresta e havia dito aos outros que ela o pertencia.

Dylan ficou com eles por três dias e duas noites, em cada parada que eles faziam Joe tentava algo com ela mas ao ver que ela resistia e lutava, ele desistia e a deixava afastada de todos sem dar a ela o que comer.

Em uma noite quando todos dormiam na floresta, ela sem sono, decidiu tentar a sorte e fugir. Ela conseguiu correr uns dez minutos até que escutasse Joe gritar e procurasse um lugar bom para se esconder.

E foi desde então que ela percebeu que seria melhor continuar andando pelas florestas ao invés das estradas.

Divagando sobre as coisas que haviam acontecido, ela não percebeu que estava andando cada vez mais dentro da mata e que logo a frente havia uma ribanceira. Ela não estava escutando o som da água correr lá embaixo, e ninguém poderia culpá-la.

Foi quando ela escutou um galho quebrar que ela percebeu que não estava só e ao se virar deu de cara com um grupo de no mínimo doze homens armados. Sabendo melhor que tentar algo, ela olhou para todos os lados e suspirou levantando as mãos. Ela não ficaria ali e deixaria que eles fizessem com ela qualquer coisa que desejassem. Não, ela arrumaria uma forma de escapar, só precisava de uns minutos para pensar.

— Ora, ora. Parece que é o nosso dia de sorte — o homem com o bigode disse. — Me diga, amorzinho, o que você faz aqui?

Mesmo evitando prolongar o tempo ali, ela sabia que deveria arrumar uma forma de enrolar eles então decidiu entrar no jogo deles.

— Procurando suplementos — respondeu direta olhando-o nos olhos.

— Hm, nah. Se você estivesse procurando algo, você não estaria tão distraída para não perceber que eu estou atrás de você desde que entrou na mata — risonho, o homem respondeu.

Dylan sabia que estava destraida, mas não esperava que fosse tanto. Ela deveria ter percebido eles atrás dela e agora ela não estaria aqui.

— Eu vou te dar uma bela opção, mas pense bem eu só faço isso quando vejo potencial nas pessoas, você volta com a gente para o nosso acampamento. Vê se gosta de lá e se vai ficar, se não quiser você pode ir embora com a mesma quantidade de coisas que entrar — o homem disse.

— Não, obrigada — novamente sem esperar muito, Dylan respondeu novamente.

— Ah, vamos lá, querida. Nos dê uma chance. Aposto que o chefe vai adorar você — o mesmo homem voltou a falar, enquanto seus companheiros riam.

— Eu estou bem assim — mentira, mas ela não diria isso em voz alta.

— Tudo bem... Tudo bem — o homem disse e sorriu.

Entendendo aquilo como um consentimento, Dylan voltou a caminhar na direção que viera e decidiu sair da mata. Fora o suficiente por hoje e ela não queria estar dentro do campo vista de outro grupo.

No SanctuaryOnde histórias criam vida. Descubra agora