Capítulo 12 - Calma...

796 22 51
                                    

Se Bolsonaro dissesse que não estava sofrendo, seria uma mentira, mas ele não disse, e tampouco demonstrou que estivesse sentindo falta de sua antiga vida, sim, pois agora ele tinha uma vida completamente diferente da que costumava ter com sua família em casa.

A primeira mudança radical fora o choque de aprender que se você não fizer sua própria comida, vai morrer de fome, seguido pela outra surpresa de descobrir que se você não descongelar a sua comida um pouco antes de prepará-la, você não vai comer, eram coisas simples, que ele nunca aprendera pois sempre fora casado com mulheres que faziam isso em seu lugar enquanto ele trabalhava fora. Ainda mais doloroso do que as descobertas de ser um homem independente pela primeira vez na vida, havia também a saudade, ele não conseguia visitar o quarto da filha sem sentir um enorme vazio em seu peito, não conseguia encarar seu guarda roupa agora vago de vestidos de festa e jóias pela penteadeira sem sentir-se melancólico, e sentia muita, mas muita falta, do barulho que Laura causava ao brincar sozinha pela casa, entrando nos cômodos correndo e chamando o pai para brincar de vez em quando, ele sempre negava, por estar ocupado, mas agora se arrependia profundamente de todas as vezes que dissera não para a garota.

E para piorar tudo em grau máximo, as eleições seriam no dia seguinte, seus filhos viriam, inclusive Laura, mas ele não conseguia se sentir calmo, queria ver Haddad antes de tudo acontecer, pois tinha a leve convicção de que dependendo do resultado a relação deles estaria acabada. Por que ele achava isso? Nem ele sabia.

Não havia pregado os olhos, em seu íntimo esperava uma ligação de Haddad, dois dias vivendo sozinho haviam lhe ensinado muita coisa, e ele queria ter alguém para poder compartilhar essas coisas, mas Haddad parecia ter lhe esquecido, dera uma entrevista numa coletiva em uma universidade, e ao ser questionado sobre Bolsonaro, simplesmente dera um sorrisinho cínico e dissera "Acho que não tenho com o que me preocupar." O que aquela frase queria dizer ainda era um mistério para Bolsonaro, mas ele tentara se consolar pensando que Haddad provavelmente estaria apenas mantendo a pose de confiança.

O mais estranho era a competitividade, ele ainda queria ganhar, é claro, esperava do fundo de seu coração que ganhasse, e embora gostasse de Haddad, ficara furioso com a ultima pesquisa, que indicava claramente uma virada por parte do outro, se ele ganhasse, Bolsonaro ficaria arrasado, e se Bolsonaro ganhasse, Haddad é que ficaria arrasado, talvez por isso é que ele via tantos riscos para o fim daquela brincadeira estranha que estavam vivendo depois das 8hrs do domingo.

Cansado de esperar e sentindo-se sem tempo, Bolsonaro telefonou para Haddad na noite de sábado, era um ato que feria seu orgulho intensamente e o fez se sentir um idiota apaixonado.

- Alô. - o outro disse ao atender, havia um ruído ao fundo da ligação e sua voz estava abafada, como se ele estivesse em um lugar com musica alta.

- Oi, Haddad… - Bolsonaro disse, tentando controlar a frieza em seu tom.

- Fala, bebê - Haddad respondeu, sua voz estava estranha, e ele realmente estava pegando a mania de chamar o outro de bebê.

Bolsonaro já estava quase desistindo de se irritar com aquilo, quase. Mas não teve tempo para realmente se importar com o que Haddad falara, estava concentrado naquele ruído estranho ao fundo da ligação, com uma certeza cada vez maior de que o outro estava em uma festa.

- Você tá aonde? - perguntou, desconfiado.

- Em casa - Haddad respondeu, e estava mesmo, mas esqueceu de mencionar que estava tendo uma festa em sua casa.

- Hum… - Bolsonaro murmurou desconfiado. - Que barulheira é essa?

- Música - Haddad respondeu simplesmente.

Haddad & Bolsonaro | O InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora