Queda

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Jin entrou na sala de ensaio bem mais cedo que o costume, queria treinar um pouco do seu canto porque previa que ia precisar de mais notas emotivas para o novo álbum, pelo o que os membros disseram a compositora era intensa e as partituras que tinha levado no dia anterior eram... No que pode ver, sons muito profundos ainda que comerciais, como Nam descreveu.

Então ainda sonolento entrou na sala de música, mas um som de violoncelo o fez estacar na porta entre aberta. Os sons eram uma variação de DOWNPOUR, da I.O.I e ele quase ofegou se denunciando, era mais lenta, mais grave e tinha um som que foi capaz de estremecê-lo, mas quando a voz entrou no refrão ele soube que jamais ouviria a música do mesmo jeito:

— Vai parar agora? Essas gotas de chuva, essas lágrimas?/ Eu não quero ficar molhada com a chuva/ E tremer de frio/ Algum dia, a chuva fria/ Se tornará lágrimas quentes/ E cairá, está tudo bem/ É apenas um aguaceiro de passagem...

E o instrumento e voz continuaram até um fim suspenso, como se aquela música jamais fosse acabar e então ele ouviu o som de um celular tocar que parecia todo errado naquela aura meio mística em que foi envolvido...

— Não 50 Cent! Eu não vou voltar! – Ela disse em inglês e ele ofegou, hein? 50 Cent? O rapper? – Curtis, eu não vou compor para você, não entende? É... Sim estou na Coréia, sim... - Ele ouviu um suspiro dela e então entrou silencioso na sala e ela estava com o celular na mão encarando a janela e de costas para ele, o Cello estava escorado no piano e havia muitas folhas ao redor. Parecia um estúdio e não uma sala de música e ela... Era mesmo linda, meio desleixada de um jeito diferente, mas o sol que entrava preguiçoso brilhava os cabelos volumosos escuros. Era de fato lindo – Eu estou a convite e se vou ficar ou não isso é pessoal. Não vou compor Curtis e não adianta me ligar todos os dias... – Então a morena colocou a mão aberta do vidro - Talvez eu fique, talvez eu suma, quem sabe? Eu não sou uma propriedade e precisa saber disso, eu posso estar aqui e então não estar mais, é a vida, essa sou eu. Não me ligue mais, se eu digo não, é não.

Ela desligou e ele viu como ela colocou a cabeça no vidro e passou a falar em uma língua estranha... Latim?

Então ela se virou para ele e o encarou fixa e era como se Jin estivesse diante de uma deusa estranha que podia enxergar a sua alma... E de repente, terminou, ela se colocou reta e seu olhar mudou como se houvesse duas pessoas no mesmo corpo e ela sorriu de canto, calma, uma outra dela e era como se seu estômago revolvesse:

— Entre, vamos trabalhar...

Precisou de todo o seu controle emocional e sua técnica para ouvir o que ela dizia em um coreano perfeito e em um domínio musical invejável. Quando menos percebeu já falava do que queria para o Álbum também ao mesmo tempo que recebia dicas de canto em singelas colocações. Estar ao lado dela era como estar no centro de um furação tudo era caótico fora, contudo dentro era silencioso e brilhante. Jin nunca pensou que um dia pensaria assim, mas quando os outros finalmente chegaram, ele já estava enfeitiçado pela estrangeira como jamais ficou na vida com qualquer outra garota.

Entretanto quando Taehyung perguntou a ela se podia chamá-la de noona, já que trabalhariam juntos por muito tempo e ela era a mais velha deles ele percebeu que não, ela não era uma garota e sim, uma mulher...

Uma mulher...

O dia passou voando e foi como se estivesse em um tempo fora do tempo, eram desconhecidos, mas funcionaram tão bem... E ele só pode observar em como até mesmo Kook ficou logo à vontade com ela, era meio inexplicável e ainda assim mágico. E no fim do dia tinham quase duas músicas prontas, com arranjo, vocais e harmonias... Duas baladas que pareciam impressionavelmente intensas, singelas e com refrão que tinha certeza, iria ser viciante. E o mais impressionante era que ela conversava sobre os Raps com Nam e o Suga como se fosse uma rapper também. Até tocou um pouco de piano com Yoongi como se fizessem isso sempre em busca do clima para a linha dele.

Talvez a fama tivesse totalmente certa, ela era mesmo fenomenal. Era... Perfeita...

E foi envolto naquilo que ainda pensava enquanto se deitava para dormir naquela noite.

"Talvez eu fique, talvez eu suma, quem sabe? Eu não sou uma propriedade e precisa saber disso, eu posso estar aqui e então não estar mais, é a vida, essa sou eu"

Jin se viu nervoso e tenso, não queria que ela fosse embora... E aquele pensamento o deixou assustado. Mal se conheciam, como ela podia ter aquele efeito? Como?

Então Yoongi entrou no quarto e ele se sentou na cama apenas olhando o amigo andar de um lado para o outro. Aparentemente não era o único perturbado...

— É ela?

Disse antes que pensasse no que estava fazendo e Suga se sentou na cama bagunçando os cabelos:

— O que foi isso, cara? Eu estou louco ou nós realmente fizemos duas músicas quase completas hoje no primeiro dia? Isso faz sentido?

— Ela é perfeita, eu sei.

Respondeu suspirando e Suga o encarou um pouco chocado.

— Oi? Você dizendo isso?

Jin mordeu o canto da boca e assentiu:

— Não faz sentido, faz?

— Não sei, estou confuso...

— Eu também e só penso que se continuar assim em uma semana terminamos... Porque eu me sinto assustado com isso?

Então Yoongi sorriu mal e ele soube, ele ia fazer algo idiota...

— Não vou deixar isso acontecer, eu juro.

Serena olhava da janela do dormitório a que foi designada pela empresa e só queria gritar frustrada, haviam mais de dez ligações de Curtis, e não só dele, mas as dele... A enervavam...

Ela sabia bem o que ele queria, o grande problema é que ele tinha influência sobre a Universal Music e sua insistência... Caso se transformasse em ódio... Todo o seu sonho terminaria.

Precisava tomar ar, precisa sair...

Colocou um casaco e saiu do prédio o mais rápido que pode indo caminhar sem rumo pelas ruas frias de Seul. Então entrou em um restaurante qualquer e pediu a bebida mais forte. Não era de beber, mas precisava esquecer tudo aquilo aquela noite, precisava deixar seus monstros adormecidos. Precisava parar de pensar...

Uma garrafa se transformaram em três e logo mal conseguia enxergar os números do celular... Que ótimo, em sua segunda noite em Seul e já estava alcoolizada... Malditos rappers infernais que queriam seu corpo maldito!

— Serena... Venha...

E mãos a tiraram da mesa deixando dinheiro ali e a levando rápido para fora e para dentro de um carro escuro. Como ela estava tonta e confusa só percebeu que era um dos garotos por baixo do capuz, máscara e óculos quando ele falou para voltarem para o dormitório pelas portas do fundo ao motorista que era nada mais nada menos que... Hoseok?

Voz era algo que jamais confundia, nunca.

Então tentou se focar e viu que seu sequestrador era Jungkook... O caçula...

— O-o que...?

Ele sussurrou, mas um xingamento vindo do banco da frente atraiu o olhar dele a deixando livre da sua cobrança... Aquele garoto queria lhe chamar a atenção, estava louco?

— Que foi agora?

— Armys na rua, não podemos entrar com a Serena assim, Kook, sair foi fácil, mas não vai rolar agora, a gente tem que passar a noite fora ou vai ser um escândalo!

— Merda!

Serena riu baixo, olha só a criança xingando... que fofo...

— Não ria sua louca! Que diabos! Porque foi beber fora? - E então ele suspirou fundo – Ok, vamos para aquele lugar, você sabe e depois ligue para o Nam e avise.

— Certo.

E o carro saiu dali discreto e logo estavam em movimento de novo. Um sono pesado acabou a engalfinhado e a última coisa que ouviu foi o neném dizer que ela ia matá-los... Riu de novo, quanto drama... Crianças... 

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