"Que ridículo", Kihyun pensou. "Eu não faço a mínima ideia do por que estou compactuando com isso".
O jogo era simples: A garrafa virava, apontando para duas pessoas da roda. A que tivesse a base apontada para si, segurava o biscoito na boca. A outra, que tinha a tampa apontada em sua direção, tentava comê-lo sem beijar o indivíduo à sua frente.
O garoto refletiu durante mais um tempo sobre o que estava fazendo ali naquela roda, entre Minhyuk e Jooheon, observando enquanto Luda girava a garrafa. O objeto de vidro tintirilou entre os vãos do piso enquanto rodava, e a música, agora um pouco mais baixa, deixava-o ansioso. Olhou para a frente e se lembrou do por que estava ali.
Chegava a ser covardia o quão bonito estava Changkyun aquela noite. Ele se permitiu olhar durante um momento enquanto a garrafa girava, mas desviou com pressa quando ela parou. Ao seu lado, Jooheon tencionou.
— Uh, eu quero muito ver isso. — Minhyuk se sentou sob os calcanhares, com animação, e todos os olhos iam de Hyunwoo, que revirou os olhos com a atenção, até Jooheon, que permanecia de cabeça baixa, apertando firmemente o tecido das calças jeans entre os dedos.
— Não temos a noite inteira... — Jihyo cantarolou, igualmente animada com o resultado.
— É mais fácil a gente se beijar logo. — Hyunwoo disse, dando de ombros. Jooheon tencionou-se mais. — Todo mundo sabe que ninguém consegue comer o biscoito todo sem acabar se beijando. — Dito isso, colocou um dos biscoitos longos cobertos de chocolate na própria boca, e se aproximou de um, ainda tenso, Jooheon.
O moreno observou quando os olhos pequenos do Lee se voltaram para os de Hyunwoo, e sorriu de canto; mesmo que Jooheon fosse muito bom em guardar os próprios sentimentos, Kihyun ainda era um Yoo; em seu código genético já vinha a capacidade de analisar os sentimentos alheios enquanto escondia os próprios.
Foi assim que descobriu que Lee Jooheon era apaixonado por Son Hyunwoo.
No auge de seus quinze anos, não era antinatural que Kihyun já soubesse que gostava de rapazes, embora não lidasse muito bem com aquilo. Foi por isso que quando notou os sentimentos outro rapaz sentiu-se menos culpado, afinal, ele não era o único diferente.
Hyunwoo ainda esperava Jooheon se aproximar com a expressão neutra, mas o Lee o encarava com o rosto impassível que para muitos denotava desinteresse, mas que para outros, era visivelmente nervosismo. Kihyun não se surpreendeu quando notou que Shownu havia compreendido o sentimento alheio.
Apesar de desinteressado, Shownu era gentil e parecia sempre saber das coisas, mesmo que jamais se envolvesse no assunto dos outros. Foi por isso que aquela troca de olhares durou algum tempo, e quando Changkyun se preparava para reclamar da demora, Hyunwoo sorriu para Jooheon. Kihyun só foi capaz de ouvi-los pela proximidade que possuía do Lee.
— Melhor acabarmos logo com esse tormento, não acha? — Jooheon pareceu ficar confuso, mas perdeu a carapuça indiferente quando a distância entre eles foi quebrada pelo beijo que veio sem qualquer aviso. Pelo menos para os demais.
Hyunwoo segurou o rosto do outro perto do seu durante o tempo que os lábios permaneceram juntos, mas Jooheon pareceu estar em choque durante bom tempo antes de puxar a camisa dele com os dedos.
Quando o beijo acabou, Luda fez um barulho com a garganta.
— Okay... — Todos da roda estavam um tanto perplexos, mas a garota touxe a atenção de volta para si. — Gira a garrafa, Minnie. Vamos continuar.
— Duvido acontecer algo mais legal do que isso. — Deu de ombros antes de olhar para um Jooheon completamente vermelho que tentava em vão esconder o rosto com a franja. Os olhos de todos acompanharam a garrafa girar com pressa sob os azulejos, e Minhyuk abriu um largo sorriso antes de soltar — Retiro o que eu disse.
Kihyun apenas sabia que a garrafa apontava para si, e sinceramente tinha medo de levantar o rosto e descobrir com quem teria de fazer aquilo. Desde o início ele sabia para o que aquele jogo servia, e sinceramente não se via aproximando os lábios virgens da boca de qualquer pessoa, exceto...
— Certo, ratinho, pega logo o biscoito.
Ah.
— Eu... não acho uma boa ideia. Vamos girar de novo. — Luda já se aproximava novamente da garrafa quando Minhyuk segurou sua mão.
— Para de ser chata, Luda. Todo mundo está jogando certinho, nem vem deixar essa sua crush no Changkyun estragar o nosso jogo.
A garota ficou vermelha até as orelhas. Apesar do coração estar batendo totalmente acelerado, Kihyun mantinha o rosto passivo. Sentia as mãos tremerem levemente e levantou o rosto para finalmente encontrar os olhos divertidos do outro garoto.
— Parece que só vai ter casal de caras hoje. — Namjoon riu e jogou alguns salgadinhos para dentro da boca.
— Se você continuar comendo essa merda com certeza vai continuar sem beijar ninguém, Namjoon. — Jihyo, que até então estava calada, finalmente se manifestou.
Entretanto, Changkyun ainda observava o rosto de Kihyun.
— Pega o biscoito, Kihyun. — Disse, dessa vez estranhamente utilizando o nome correto para se referir ao outro. Hyungwon estava estranhamente inquieto, e foi essa inquietação que fez com que o moreno finalmente pegasse um biscoito da caixa.
Não gostava de como aquele cara olhava para Changkyun, definitivamente.
Ao contrário do que se era esperado, foi o outro que se aproximou, inclinando o tronco em sua direção para alcançar a outra ponta do doce.
— 1... 2... 3... e... — Antes que Minhyuk soltasse o já, Changkyun começou a morder a ponta da massa crocante. Ele estava tão perto que Kihyun podia sentir a respiração morna contra a pele. Aquilo o arrepiou e ele ficou ainda mais inquieto quando notou que os olhos analíticos jamais se desviaram dos seus.
Conforme o biscoito acabava, Kihyun pensava o que teria a perder se fizesse o que todos já haviam feito naquele mesmo dia. Avaliou durante alguns milésimos de segundo suas opções e notou que, caso Changkyun se incomodasse, ele ainda poderia fingir que foi um acidente.
Foi por isso que ele soltou o biscoito que tinha entre os lábios e deixou que a gravidade fizesse o resto. Quando os lábios macios se juntaram aos seus, ele fechou os olhos. Quando notou que não havia sido afastado, tornou a abri-los, apenas para ver os orbes escuros ainda o encarando com diversão, antes que ambos fechassem as pálpebras e se beijassem de verdade.
Os gritos foram altos quando os demais notaram que eles estavam se beijando pra valer, mas, surpreendentemente, o Yoo não se importou muito.
Tinham quinze anos, e aquele era seu primeiro beijo. Ele acontecera com a pessoa que queria, embora não do jeito que imaginava. A boca de Changkyun tinha gosto de chocolate e baunilha do biscoito, e ele não se importou nem um pouco com o fato de não gostar muito daquele doce.
Descobriu, naquele dia, que se o gosto viesse dos lábios do Im, ele gostava. Se soubesse que aquele primeiro beijo não seria o último, talvez não tivesse chegado àquela conclusão tão rápido; mas ela não mudou, de qualquer maneira.
Aquele momento era bom, e a baunilha daqueles lábios seria guardada para sempre.
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BAUNILHA | changki
Fiksi PenggemarOs lábios dele tinham gosto de baunilha e chocolate, e apesar de achar aquele um jogo idiota, Kihyun sabia que havia valido a pena. 2016 ©