Fragmento I

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O tempo chorou quando ela se foi.

Eu me lembro, sempre vou me lembrar; dos olhares opacos dos adultos, das almas que pareciam ter sido viradas do avesso, despedaçadas fora do corpo. A fé no futuro se foi junto com ela, e as Marés do Tempo se contorceram e gritaram em agonia: ela está morta.

O mundo era mais escuro e perigoso do que jamais foi. Lembro-me de que o bando viajou quarenta dias para chegar ao local dos cortejos. Não havia corpo.

Todos voltam ao pó. Mas àqueles como ela, isso acontece no exato instante em que deixam a vida. A Juíza era nossa única esperança, ela era nosso sol, lua e estrelas em um mundo em que nenhuma dessas coisas podia ser vista.

E ela estava morta.

Fomos os últimos a chegar. Os Doze Clãs de Olhos de Prata já estavam lá.

Em silêncio, aproximamo-nos com nossas quatro pedras enfiadas nos bolsos e apenas uma na mão. Eles se afastaram, abrindo caminho até o mar revolto.

Chamavam-nos de os Homens Sem Nome, o décimo terceiro clã, que não seria contado entre os Olhos de Prata. Sem passado e sem futuro.

Lançamos nossas pedras ao mar e fizemos nossas preces. Oramos para que as cinco Linhas do Tempo se tornassem uma só. Para que a história fosse reescrita.

Para que viessem tempos de refrigério..., mas nada disso aconteceu.

No dia em que ela morreu, as Marés do Tempo adormeceram. O Criador ficou em silêncio. Os céus se fecharam e nenhuma oração foi ouvida.

Por muito, muito tempo.

Mundo Sem Fim (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora