Cartas De Um Suicida

Sono Da Morte

" Se o jardim dentro de você já está morto. Então não irá crescer vida dentro de você "

Mais uma vez eu estava sozinho em casa. E ficando louco com meus pensamentos

Eu estava decidido. Não haveria mais volta para mim. Escolhi esse caminho e por ele irei seguir até o final. Estou no meu quarto com a porta trancada e com vodka e remédios tarja preta fortíssimos a minha frente

Escolhi esse modo. Não. Na verdade, escolheram para mim. Somente peguei o que tinha à minha disposição. Uma das bebidas do meu pai e os remédios da minha mãe

Ingerir logo todos os remédios. Duas cartelas e bebi junto vários goles de vodka pura. Estou deitado sentindo alguns espasmos no meu corpo. Provavelmente efeito do que ingeri

Eu me sentia calmo. Sentia um calafrio chegando cada vez mais próximo de mim. Sentia que ia perdendo os sentidos aos poucos. Então fechei os olhos e me entreguei para a morte

...........

Era tudo escuro. Um breu para o todos os lados. Até que vi algumas imagens. Vi um garotinho que era eu quando mais novo. Num parque com seus pais se divertindo. Pensei: será que aquilo realmente havia acontecido? Eu já não me lembrava. Vi também várias pessoas importantes para mim que passaram pela minha vida. Vi pessoas com suas vidas. Algumas tristes e outras felizes.

O que será que a morte queria me dizer? Será que o que fiz foi errado?

Eu estava a andar por aquele lugar escuro. Até que uma luz bem fraca apareceu na minha frente. Fui mais a frente e percebi estar no chão uma flor. Mas ela estava murcha e perdendo algumas pétalas e percebi que a pouca luz emanava da pequena flor

Não pude pensar em mim. Eu me sentia assim. Morrendo aos poucos. Perdendo a vontade de tudo. Mas no fundo bem lá no fundo do meu ser. eu queria viver mas não conseguia me agarrar a nada

Me abaixei. E sentei na frente da flor de pernas cruzadas. Pensei nos meus pais. Eles nunca foram os pais mais atenciosos comigo nem perceberam a minha depressão. Mas agora morto, mas eu não me sentia morto, eu sentia uma falta deles e das poucas pessoas que agora eu vejo que gostavam de mim e se importavam comigo

Realmente eu tive que perder. Para ver o que e quem eram importantes para mim. Então eu chorei. Chorei e chorei

Eu queria voltar. Viver. Eu queria. Por mim e pelas pessoas que gostam de mim. Minhas lágrimas caiam e caiam. Elas caiam sobre a flor. Que brilhava pouco. Eu não queria mais viver nas sombras na escuridão com essa tristeza dentro de mim

Minhas lágrimas caiam. Até que a flor brilhou num grande brilho que preenche tudo. Eu me levantei e olhei em volta. Aquilo foi como se a vontade de viver explodisse dentro de mim. Voltei meu olhar para a flor que antes era feia e murcha agora era linda e novinha.

Mais e mais flores foram crescendo ao lado da única que havia. Belas flores preencheram aquele local o deixando lindo. Eu sorria maravilhado com tudo aquilo. Há minha volta agora tinha um lindo jardim

Eu corri por ali. Corri e corri. Eu sei que me sentia bem. Me sentia vivo. Um sentimento bom que me preenchia. Voltei para perto da linda flor que eu antes havia visto e me sentei novamente a sua frente

Sorri. E suspirei. Fechei meus olhos

..........

Abri meus olhos tentando saber onde eu estava. Quando minha vista pareceu se acostumar vi meus pais sentado numa poltrona chorando. Minha mãe se desmanchava em lágrimas e meu pai chorava, mas tentava acalmá-la. Então percebi que estava num hospital

Me mexi. Meus pais olharam para mim. Com caras de surpresa ficaram parados um tempo espantados mas então vieram até mim e me abraçaram. Um abraço que eu nem lembrava a última vez que eu havia recebido deles

Meus pais me explicaram. Que quando chegaram em casa foram no meu quarto. Viram que eu estava trancado então meu pai depois de muitas batidas na porta. Arrombou a mesma. Os dois entraram no meu quarto vendo que eu estava desacordado. E não me mexia. Viram cartelas de remédios e a bebida perto de mim e deduziram o que havia acontecido. Eles desesperados me trouxeram para o hospital

Uma enfermeira entrou e me falou que por pouco eu não morro. Pois por ter ingerido o que ingeri tive uma parada cardíaca mas depois de quatro tentativas voltei a vida. Meu coração voltou a bater

Pensei. Será que era isso que havia acontecido comigo? Eu teria morrido por alguns segundos e ficado no que muitos religiosos chamam de limbo ou purgatório ou algo do tipo. Que é nem inferno nem céu?. Bom, ao certo eu não sei. Mas sei de uma coisa. O eu de antes com aqueles pensamentos e atitudes havia morrido e uma nova pessoa havia renascido

A conversa com meus pais foi difícil. Eu contei o que eu sentia. Eles nunca terem descoberto o que se passava comigo os deixou triste. Coisa que me deixou surpreso. Ver assim eles tão próximo de mim. Me assustei um pouco. Talvez por eu ter morrido. Ou eles perceberem o quanto me amavam e não demonstravam isso a mim. Eles prometeram mudar e eu também prometi mudar. Eu queria mais do que tudo agora viver. Por mim. Por eles. Eu queria ser feliz

Depois de três semanas voltei pra casa. Fiquei mais tempo pois eu tentei me matar e eles ficaram com medo de eu tentar fazer de novo. Por isso tive que ir numa psicóloga que o hospital indicou. Eu até gostei. Foi bom falar meus medos e tudo o mais, foi bom botar isso que tinha dentro de mim pra fora. Já no meu quarto que ainda estava com a porta quebrada. Liguei minha rádio. E tocou uma música. Uma linda música que tocou minha alma. Aquela música falava de mim, eu sentia que ela era pra mim. Nem percebi mas já estava chorando escutando aquilo pensando no que eu havia passado.

Pensei. Vou acreditar em mim. Vou tentar. Vou conseguir