Irresistência por subsistência

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LEI Nº 185, DE 14 DE JANEIRO DE 1936

É direito de todo trabalhador urbano ou rural o salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que preservem o poder aquisitivo [...]

Em primeiríssimo lugar, para depurar quaisquer especulações ou julgamentos prévios: eu não sou do tipo que demoniza o empregador e purifica a imagem do empregado. Não se pode generalizar, pois nem sempre é assim. Existem empresários repletos de empatia, ao passo que vislumbramos funcionários desleais e insidiosos. Cada caso é singular. De repente, pode haver eco em outras situações, porém, universalizar uma ocasião é algo dramaticamente perigoso.

Isocronicamente, é difícil denegar o que minh’alma, aos urros, busca explanar: a escravidão ainda existe no ano de 2018! Sim, ainda vivemos (ou pelo menos majoritária parcela da sociedade vive) em um regime escravocrata. E eu não estou me referindo ao sentido literal, não estou versando sobre as empresas que colocam “colaboradores” em condições análogas à escravidão. É algo muito mais amplo, no sentido que as entrelinhas narram.

Inúmeros brasileiros acordam em horários chocantes da antemanhã e rumam como animais até seus trabalhos. Se moram em zonas periféricas, levam cerca de 2h para chegar em seus locais de labuta. Pois é, das 24h do dia, perdem 4 em locomoção. Uma locomobilidade caótica: seres humanos vão e voltam esmagados. Perfumes variados se mesclam e geram odores enjoativos. Ânimos exasperados se confrontam. Humilhação total.

As pessoas vendem tempo e saúde por salários imorais e criminosos. O mais grave de todo esse acinte contra uma sociedade brutalmente trabalhadora é o fato de que o escravo contemporâneo não reivindica o que seria dele por direito. Aceita passivamente, muitas vezes por não restar alternativa. E assim é nossa realidade, a moeda doma e amansa os momentos de lampejo. A escravidão se torna algo natural e banal. Um despautério imensurável.

A questão nevrálgica é: há chance de satisfazer todas aquelas necessidades enunciadas na constituição com um salário de R$ 954,00?

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