Errônea felicidade

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  Hoje meu dia foi bem interessante, uma mistura confusa e bastante inisutada de sentimentos, estou estranhamente feliz porém ao mesmo tempo triste por esse dia ter se findado. Agora estou solitário no meu quarto, deitado relaxado em minha cama, a luz já está apagada e a escuridão é minha única companhia, como tem sido desde que me mudei. Não consigo parar de refletir sobre os acontecimentos desta manhã.
   Acordei já com a cabeça a mil, pensando em trabalho, aluguel e contas atrasadas um turbilhão de pensamentos intrusos me atormentavam e devo admitir que eu estava bastante estressado, porém essa era minha realidade desde o começo do mês, eu me sentia totalmente esgotado, o cansaço  aumentou meu nível de irritabilidade consideravelmente, me arrumei correndo para minha labuta diária esperançoso de que quando chegasse no trabalho conseguiria me distrair e acalmar um pouco essa mente agitada, livros sempre tiveram o poder de me tranquilizar.
    Fiquei pronto em cima da hora, olhei no espelho e vi um rosto moreno, jovem e cansado pela noite mal dormida, saí apressado do meu pequeno apartamento e fui em direção as escadas, o segundo andar não é tão alto, corri pelos degraus quando cheguei na entrada principal Dona Laura, uma senhora no auge dos seus 75 anos me bloqueou, questionando-me sobre o paradeiro de wesley seu jabuti.
"Dona Laura ele deve estar em seu apartamento, proucure debaixo da cama, sim?"  -Disse me esquivando dela.
  Me apressei para o ponto que fica na rua ao lado, que estava bem movimentada. O ônibus que eu costumo pegar era imprevisível em questão de horário, vinte e cinco minutos de pura tensão e nevorsismo se passaram até que enfim minha condução apareceu dobrando a esquina.
    Dei bom dia para o motorista mais por costume que por educação, pois hoje realmente eu não queria socializar com ninguém, eu continuava bem estressado e sou um tanto rude nesses momentos.
     A viagem correu bem a princípio fora o fato de eu ter esquecido meu livro sobre o criado mudo o que aumentou meu nível de irritação, "maldita pressa", como se não bastasse alguns quilômetros a frente pegamos um engarrafamento nesse momento uma dor chata começou a latejar na minha têmpora, hoje realmente não era meu dia de sorte, respirei fundo tentando em vão me acalmar e comecei a pensar sobre minha vida e o quão desafortunado eu era, recebo tão pouco que mal consigo pagar o aluguel de um apartamento quarto-sala, cozinha e banheiro e sobreviver do resto, sou solitário em relação à amizades e para completar não consegui a vaga para a faculdade pública que eu tanto queria, de 6 vagas fui o 7° colocado, meus olhos lacrimejaram levemente com essa dolorosa lembrança. Busco a tempos a felicidade e parece que ela está cada vez mais distante, como um prêmio impossível de ser conquistado, como uma bonificação da qual eu não sou merecedor.
   Me sinto tão fracassado, tão ipotente, um completo inútil, gostaria de desistir de tudo, de fato não foi isso que eu almeijei pra mim quando criança, divaguei imaginando o que futuro reserva pra mim e meu coração apertou com uma pontada de tristeza.
   Estava perdido em meus murmúrios quando o meu lento ônibus parou em um sinal e uma cena me tirou de meus devaneios, pela janela eu vi e quase não pude acreditar no que meus olhos me mostraram isso me causou uma revolta, uma indignação, um grupo de mendigos maltrapilhos, sujos e obviamente fedorentos, seres humanos desprezados pela sociedade e sem nenhuma perspectiva de futuro, brincavam felizes, cantavam e dançavam ostentando largos sorrisos totalmente alheios ao próprio sofrimento.
Fiz uma análise rápida porém não  encontrei quaquer lógica, foi esse o momento que minha raiva se ascendeu.
    Revoltado eu pensei  "Eles não tem esse direito, como eles ousam?"
Pareciam querer zombar de mim, pareciam que estavam dançando e sorrindo para me ofender, vi um senhor que batucava avidamente um balde cantando o que parecia ser aos berros com sua boca desdentada, vi crianças segurando suas saias encardidas dançando aos som dos batuques dos baldes e latas, vi uma senhora sentada com os cabelos desgrenhados batendo palmas animadamente saculejando o corpo e acompanhando o ritmo da percussão, fora os dois meninos que chegaram correndo levantando suas calças que ameaçavam cair, arriscando passos desengonçados e todos eles portavam sorrisos verdadeiros como se fosse uso obrigatório. Fiquei completamente vidrado, por alguns instantes eu me senti ali no meio deles, gargalhando dos passos desajeitados dos dançarinos mirins, não ouvia a música mas eu parecia senti-lá. Quando meu ônibus decidiu que era hora de continuarmos o trajeto, me peguei desejando ficar mais um pouco na companhia deles mesmo que a distância, e fiquei surpreso quando percebi que um sorriso nasceu em meus lábios, não sei qual foi o exato momento mas ele estava lá e estava acompanhado de uma sensação muito boa como um leve afago na alma. Trabalhei o dia feliz e cá estou eu no meu breu particular reavaliando todos os  meus conceitos de FELICIDADE.
 

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