Various Tales (Contos)

Texto 3: Fazendo Frio

         Hoje de manhã, eu já havia embarcado em meu trem quando fazia frio. A última vez que senti tanto frio assim, eu estava na faculdade. Era uma manhã de sexta-feira e me sentia feliz, pois iria ao museu assim que anoitecesse.

               Assim que passamos por um túnel, olhei devagar ao meu redor. Ao meu lado, havia uma senhorinha que lia um livro. Ela sorriu para mim quando notou que eu a observava. Sendo assim, me fez pensar como seria eu no futuro. Em virtude de minha natureza antiga, eu me destaquei por preferir a escrita no papel, um bom livro e um sábado embalado pelas finas cordas do violão aos costumes comuns das pessoas de minha idade.

               Dessa maneira, refleti se minha futura filha ou filho cuidaria de mim, se teria paciência comigo quando eu não puder sair sozinha, sentir a necessidade de carinho e atenção tal como aquele que hoje necessitam de mim.

               Além disso, pensei em todos os contextos que não vivenciei hoje, por exemplo, o amor. Este, um sentimento que nunca consegui que fosse recíproco pelos homens que já amei.

               Por um momento, desviei o olhar e vi um pai com sua filha. Ele estava sentado com ela no colo, estava com um sorriso enorme no rosto, brilhante, que me fez sorrir junto. O homem, que tinha os cabelos cacheados como os da filha, cochichava algo para a garotinha que ria alto, natural, bem infantil.

               Essa cena me deixou feliz. Ela me lembrou da minha infância. Foi legal sentir meus anos dourados voltando até mim. As horas que passei jogando videogame com meu pai e assistindo filme com minha mãe. Senti as lágrimas caírem em minha face, me levantei e fui ao banheiro. Eu dava passos devagar e imagens passavam por mim, vi minha vó, minha tia, minha mãe e a mim mesma ficar mais jovem.

Ao chegar ao banheiro, lavei o rosto, respirei fundo, esperei que eu parasse de tremer e saí.  E então, o trem chegou na estação que eu devia descer. Quando eu saí, um homem vestido de branco se aproximou, pôs a mão em meu ombro e me disse:

               -Está pronta para ir?