Texto 4: Um susto

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Todos tem medo. O medo é a representação da percepção extrema das emoções humanas. Aqueles que são vítimas dele reagem de maneiras diferentes. Entretanto, nenhuma foi capaz de representar a situação caótica que presenciei nesta quinta-feira.

Era um dia comum, uma manhã sem graça. O sol  nasceu de forma preguiçosa e os pássaros não estavam afim de aparecer, então muitos permaneceram em seus ninhos. Eu havia me levantado acreditando que conseguia arriscar algumas palavras em meu próximo texto, mas fui restringida a rabiscos.

Então, tomada pela preguiça matinal e embriagada pelos resquícios de sono existentes em minha psique, me levantei. Eu preparei um chá gelado e sentei na minha sala. Com a janela aberta, podia sentir o vento gelado da manhã em meu rosto. Liguei meu rádio e ouvi a doce voz de Frank Sinatra invadir todo o cômodo contagiando meu ser.

Em seguida, ao me aproximar da porta, observei o movimento da rua. Eu morava em uma pequena cidade então a maior parte da população buscava usar bicicletas. Naquele momento, passou pela minha casa um grupo de estudantes que desafiavam a atmosfera ociosa  dessa manhã, andavam sonolentos. Do outro lado via-se o velho cemitério municipal com seus grandes portões pretos, filas e mais filas de lápides, a grande árvore que produzia uma extensa sombra na qual os cachorros aproveitavam e um grande caixão marrom na frente.

Logo após observar a presença desse item inesperado, passou o padeiro em sua bicicleta oferecendo o pão recém feito. De repente, o caixão se abre revelando um homem maltrapilho com as roupas tortas e gravata frouxa e com um cheiro tão forte de pinga que senti da porta da sala onde observava a cena. O padeiro, ao ver tão exótico cliente, abandona seus pertences e seus produtos em sua bicicleta e sai correndo exprimindo com toda a força de seus pulmões gritos de socorro.

Quando vi essa cena, fechei minha porta aos risos. Não me aguentei, foi trágico a ponto de ser cômico. Uma verdadeira aplicação prática de neologismo na frente de minha casa e logo nessas poucas horas da manhã era uma raridade. Sendo assim, fui coagida a escrever, declarando em pensamento que esta era o delimitar do acordar dessa nova manhã panificada.

Various Tales (Contos)Where stories live. Discover now