Prólogo

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RAFAELA BITTENCOURT

Encarei o céu azul pela sacada do meu quarto, o dia estava tão lindo, um sábado perfeito para um bom passeio

Vocês com certeza me entendem
Sábado, sol, parece perfeito

Escutei um latido e logo as garrinhas estavam arranhando minha panturrilha, olhei para o chão e vi meu pequeno maltês, me olhando com seus olhinhos escuros e redondos

- Bom dia, Sherlock - me abaixei e peguei a bolinha de pelos que me recebeu com lambidas no rosto - Você quer passear não é? - Sherlock latiu e eu sorri - Sim! Você quer! - abracei o cãozinho - Então vamos, vou colocar sua coleira e nós vamos dar uma volta no Ibirapuera, ok? - ele latiu novamente - Muito bem - coloquei ele no chão - Eu quero um sorvete

Sherlock saiu correndo do quarto, peguei a coleira que estava na minha penteadeira, juntamente com minha bolsinha peludinha (literalmente) e fui atrás dele, o pequeno estava arranhando a porta da sala, totalmente consciente de que iria sair de casa

- Primeiro, vou colocar sua coleira, Sher - me abaixei - Fique quieto, ok? - coloquei o "colar" azul de Sherlock e me levantei, já segurando a cordinha

Todo cuidado é pouco, quando se trata dessa bolinha de neve

- Eu sou mais esperta que você, pensa que vai me enganar né? - ele me encarou com as orelhas baixas - Não faça essa cara, você não vai me convencer - abri a porta e sai

O elevador não demorou a chegar, entrei e Sherlock sentou no chão, antes que eu pudesse apertar o botão, alguém me chamou

- Rafa! Espere! - meu vizinho de porta estava correndo em direção ao elevador, quando ele entrou, fez o favor de apertar o botão - Nossa! Obrigada - ele sorriu e eu retribui

- De nada, Tiago

- Nossa, Rafa, você está cada dia mais reluzente

- Obrigada - ri - Mas eu acho que você está sendo exagerado

- Não estou não - ele piscou - Se eu gostasse de mulheres, você seria meu maior objetivo

- Se você gostasse de mulheres, seria meu objetivo também - pisquei

- Você é uma graça - ele passou a mão pelos cabelos loiros - Olá Sherlock - meu cachorro olhou para ele com a língua para fora, parecia bem animado - Ele parece feliz

- Ele ama passear, por isso está nesse estado

- É notável - Tiago riu e a porta do elevador abriu - Bom dia, Rafa

- Bom dia, Tiago - nós saímos do elevador juntos, mas cada um foi para um lado

Caminhei pelas ruas tranquilamente, já que eu não morava muito longe do parque, Sherlock parecia apressado, tentando ir mais rápido que sua dona, porém ele é pequeno demais para conseguir me levar para algum lugar

Bem, se eu me mantiver concentrada nele

Avistei uma sorveteria e fui animada em direção ao estabelecimento, estava cedo, era muita sorte ter um lugar como esse aberto às 10h da manhã

- Bom dia - parei em frente ao balcão - Eu gostaria de uma casquinha com tudo que tenho direito - falei animada

- Diga o sabor, inteligente - a moça me respondeu com grosseria

Bem, pessoal, ela pode estar de mal humor ou algo aconteceu, nunca levem o que as pessoas falam para o lado pessoal
Dica da Rafinha

- Chocolate - sorri - E um de creme para o Sherlock, mas o dele tem que ser no potinho

- Quem? - ela olhou atrás de mim

- Sherlock - me abaixei e peguei o cãozinho - Aqui - minha bolinha de neve soltou seu habitual latido

- Cada louco que me aparece - a moça resmungou e saiu, Sherlock rosnou não gostando

- Calma, Sher - passei a mão nos pelos macios - Ela deve estar com algum problema

- Aqui está - a moça chegou com os nossos sorvetes, coloquei o de Sherlock no chão e peguei o meu - Quanto fica?

- 5 R$ - ela respondeu, peguei o dinheiro na minha bolsinha e entreguei para ela

- Muito obrigada - sorri

- Tanto faz - ela deu de ombros

Quando olhei para o chão, vi que Sherlock tinha terminado seu sorvete, joguei o potinho no lixo e terminamos o nosso caminho até o parque, assim que pisamos dentro do lugar, Sher começou a ficar agitado novamente

- Calma, menino - falei - Estou terminando meu sorvete, já vou correr com você - ele latiu e continuou a tentar se soltar - Sherlock! - minha voz saiu mais rígida - Comporte-se, você já não é mais uma criança - ele não me escutou, e na sua tentativa de se soltar, me fez tropeçar em uma pedra, Sherlock aproveitou e saiu correndo com coleira e tudo, vi meu sorvete no chão e e minha vontade era de chorar

Vocês sabem bem, disso!
É muito difícil derrubar comida, dói no coração, você se sente incapaz, é tão frustrante, dá vontade de chorar mesmo

- Sherlock! - me levantei e comecei a correr atrás do fujão - Volte aqui! Eu vou te dar mais sorvete! - ele começou a se distanciar e minhas pernas estavam virando geleia - Sherlo... - fui interrompida por mim mesma, porque simplesmente caí de cara no chão

Bem, amigos, parece que hoje não é meu dia de sorte

- Não - me levantei lamentando por ter comido terra - Credo - tentei limpar minha boca

- Está tudo bem? - escutei uma voz forte dizer, até parei de me mexer - Moça?

Olhei para cima, com os olhos estreitos, a luz do sol estava atrapalhando minha visão, porém eu vi claramente, era um homem, um lindo e maravilhoso homem, com cabelos escuros, em um penteado moderno, montado em um cavalo branco, parecia um príncipe, bem, ele vestia roupas comuns, mas isso não tirava dele seu título

- Moça?

- Sim - me levantei e então escutei um latido familiar, olhei para trás e vi que Sherlock vinha em minha direção, me abaixei e o peguei no colo - Fujão - dei um tapinha de leve na cabeça dele

- Tem certeza que não está machucada - o príncipe desceu de seu cavalo e veio até mim

- Estou bem, obrigada - sorri

- Tudo bem - ele parou na minha frente - Sou Lucca - ele estendeu a mão

- Rafaela - o cumprimentei

- É um prazer, Rafaela, tome cuidado, não fique caindo por aí - ele brincou

Deus! Ele tem um sorriso tão perfeito

- Vou tentar - sorri encantada

- E você - ele tocou a cabeça de Sherlock - Não enlouqueça sua dona - meu cãozinho respondeu com um latido, o que fez Lucca rir - Bem, preciso ir, esse cavalo não pode ficar aqui muito tempo - ele piscou - Até logo, Rafaela

- Até logo, Lucca - sorri

Ele disse: "Até logo"
Aí meu Deus!

Ele subiu em seu cavalo e acenou para mim, fiz o mesmo e fiquei encarando ele ir, até o perder de vista

- Sherlock! - olhei para a bolinha de neve - Eu conheci um príncipe, de verdade, você viu? Ele era lindo! - Sherlock latiu, ele parecia preocupado - Por favor, Sher, eu não sou louca, estou dizendo metaforicamente - o cachorro latiu de novo e deitou a cabeça no meu peito

Não tão metaforicamente...
Ele parecia mesmo um príncipe

Abracei Sherlock e voltei a caminhar pelo parque, em busca de um novo sorvete

A Face Da Verdade | Trilogia: Faces | Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora