II - Até a próxima

1.6K 81 51
                                    


Uma garota de 12 anos convive com preocupações que poderiam se colocadas em ordem alfabética, numérica e cronológica.

Preocupações como a altura, que no meu caso era inferior a de um hobbit, e o tamanho dos seios - apesar de que já espremi espinhas maiores que eles. E, como qualquer garota, eu não fui uma exceção à regra, é claro! Mas tive que acrescentar mais uma a minha lista: um tumor inoperável no cérebro.

Uma simples e corriqueira dor de cabeça durante uma prova - complicadíssima, devo ressaltar - de matemática, foi o suficiente para que eu descobrisse a bomba relógio que existe na minha cabeça.

Ok, claro que foi uma dolorosa surpresa, e foi difícil de me acostumar no inicio e...

PELO AMOR DE DEUS! EU TINHA 12 ANOS! 12 ANOS!? NEM TINHA MENSTRUANDO AINDA E JÁ CONVIVIA COM A HIPÓTESE DE MORRER!!!

Porém, na época, como agora, eu não demostrei reação alguma. Aguentei tudo calada, e me submeti a qualquer coisa que me era imposta; surpreendendo o bando de médicos, contratados por minha mãe para me "tratar", com minha "maturidade" precoce.

Maturidade? É de comer?

Na verdade, acho que devo isso a eles mesmos, pois foram honestos comigo e não me encheram de falsas esperanças e nem expectativas de vida fantasiosas. Eles não estavam lidando com um numero a mais nas estatísticas, mas sim com uma vida. A minha vida!

Sabe, eu ter conseguindo chegado aos 19 anos foi até um motivo de comemoração, pois vivíamos um dia de cada vez, literalmente. Sério, ate bolinho com "estamos felizes que esteja viva e pagando nossos salários" fizeram. Que amor, não?

Eles optaram por não extrair o tumor. Por estar numa região delicada, uma intervenção poderia me levar a opto imediatamente e apenas preferiram acompanhar o seu desenvolvimento nos últimos seis anos.

Mas isso não aconteceu com os outros três, descobertos no mesmo período, pensei tristemente, tocando as pontas dos meus longos cabelos recém-pintados que castanho escuro. Na verdade queria que eles ficassem pretos asa de urubu, mas acabou ficando essa cag*da bonita.

Meu cabelo foi uma das muitas coisas que tive que abrir mão por causa da doença. E nesse amplo grupo estão: amigos, vida social, qualquer tipo de vaidade, e, junto no pacote, a possibilidade de relacionamentos amorosos!

Eu mereço...

Quando se está doente, a primeira coisa que some são os amigos; não importa o quando eles digam que estarão com você para o que der e vier, e toda essa falsidade de Best Friend Forever. Sério, se você acredita numa m*rda dessas, depois de toda m*rda que acontece com você, sim, você precisa de um choque de realidade, meu jovem!

É simples. Eles não aguentam quando a coisa começa a ficar preta e Pufh! Evaporam! É quase como se você tivesse mau hálito e precisasse brincar da brincadeira da garrafa, sabe? Aquela de descolar uns beijinhos e de quebra contrair sífilis. Não que eu tenha brincado para poder comparar, mas... você entendeu!

Cara, você é que está morrendo e eles é que não aguentam a barra!

Okay, não vamos generalizar! Sempre têm aqueles que ficam com você até o fim, e que podem até se considerado "amigos", mas, nessa pequena minoria, você nunca vai saber distinguir os que ainda te suportam por amizade dos que só tem pena de você.

Sacou, camarada?

A segunda coisa é a vida social. Simples, por causa dos medicamentos, do seu relacionamento estável com sua cama, você nunca está com clima para festas ou simplesmente sair de dentro da sua bolha de inexistência para se expor nesse "mundo hostil" que o espera lá fora.

A Virgem e o Garoto de Programa - hiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora