Prologue

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Meus pés moviam-se lentamente em direção ao trono, o vestido farto parecia dez vezes mais pesado desde a última prova. O nervosismo percorria meu corpo como milhões de formigas subindo pelas pernas, passando furiosamente pelo tronco e alcançando os braços como se suas vidas dependessem daquele trajeto.

A coroação parecia ir bem, mas eu sabia que não seria assim por muito tempo. Os olhares atentos dos povos dos três reinos estavam reunidos sobre mim, me fazendo querer gritar com o nervosismo que me alcançava.

Dois dos três reinos adjacentes estavam reunidos na noite da coroação, pois o terceiro acreditava que aquele dia estava amaldiçoado.

Quando cheguei ao fim do longo tapete vermelho, soltei minha respiração, que nem havia me dado conta de ter prendido.

- Princesa Brianna, da linhagem Morrough, hoje apresenta-se como herdeira legítima do trono do segundo reino. Se alguém deseja se opor ao último desejo do rei Donnovan, manifeste-se - disse o mago regente.

Permaneci imóvel enquanto o silêncio reinou no salão. O mago assentiu e continuou:

- Brianna Aponi Morrough, diante dos líderes do primeiro reino, diante de seus súditos e família, diante do representante do mundo espiritual e regente das leis da magia dos três reinos, jura cuidar e respeitar o segundo reino como respeitou a autoridade de seu pai?

- Eu juro.

- Jura proteger seu reino, custe o que custar?

- Eu juro.

- Reconhece ser a melhor escolha para reinar?

- Eu...

Antes que eu pudesse proferir a próxima palavra, sons de passos revestidos por botas de metal aproximaram-se do Grande Salão.

Os guardas seguiram para a Torre, a fim de observar o que acontecia e gritos se fizeram presentes no local quando ela foi bombardeada. A estrutura do castelo não duraria muito tempo.
Meu corpo inteiro parecia estar em um transe, até que a voz familiar do general se fizesse presente.

- Princesa, precisa ir para o abrigo agora.

Olhei em volta, buscando a presença de meus irmãos. Meu coração parecia querer sair do peito quando não os avistei.

- Preciso achar meus irmãos primeiro, volte para sua posição e proteja o povo - ordenei e sai, sem esperar a resposta.

Rasguei o vestido, para que ficasse na altura dos joelhos, e corri em direção ao Castelo. Achei que tinha sido atingida por um pedaço de concreto, ao virar o corredor, mas apenas esbarrei em meu irmão mais velho.

- Onde Elora está?  - perguntei assustada.

- Eu não sei, ela deveria estar no salão.

"Brianna" ouvi uma voz masculina sussurrar, o que era impossível, pois os barulhos do conflito lá fora nos fazia ter que gritar para sermos audíveis. "Brianna" a voz era suave e hipnotizante, mas eu não estava em transe, conseguia discernir cada coisa que se passava ao meu redor.

A poeira se espalhava pelas ruínas do Castelo e as pessoas corriam em desespero. Meu irmão me puxou pelo corredor enquanto procurávamos pelo mais novo. "Brianna", mais uma vez a voz ressoou e então entendi que  estava vindo de dentro de mim, saindo de minha mente e vindo até meus tímpanos.

Puxei Kenneth que me direcionou um olhar confuso. Com nossa rota alterada, subi as escadas indo em direção ao quarto de minha falecida mãe, a voz aumentava cada vez mais. Parei subitamente, encarando a figura à minha frente. Minha irmã mais nova estava imóvel enquanto o homem apontava uma faca para seu pescoço.

- Temos aqui os três irmãozinhos - o homem riu sarcástico e empurrou Elora em nossa direção, sua voz grave me fez estremecer. A menina caiu em meus braços e eu a posicionei atrás de mim e de Kenneth, segurando sua mão.

- Você está bem? - perguntei sem tirar meus olhos do homem.

- Sim - respondeu, trêmula.

- Tão lindinhos - sorriu - Brianna, Elora e  Kenneth. Tão patéticos quanto o pai.

Senti a mão de Elora apertar a minha.

- Os irmãos que carregam o peso de uma linhangem violenta e desprezível. Me pergunto como Lena conseguiu deixá-los tão delicados - o sorriso continuava estampado em seu rosto, ele levou o indicador até os lábios, fazendo uma expressão pensativa - Acho fascinante como cada um de vocês foi designado. Ah, como a designação é importante. Morrough é um nome forte - dizia enquanto caminhava pelo quarto, meus olhos estavam atentos a cada movimento seu - "O guerreiro do mar". Foi assim que seus ancestrais conseguiram tudo isso - apontou para a janela - Vindo pelo mar e conquistando tudo. Diga-me, Brianna, faz ideia do que eles fizeram para conseguir este império? Quanto sangue há nas mãos de sua família? - seu olhar era sombrio -  Agora eles irão assistir seu domínio queimar e sua família com ele.

- Por que está fazendo isso? - perguntei firme.

O homem aproximou-se com a faca em mãos, dei dois passos para trás e ele parou subitamente. Parecia estar com dor.

- Não - disse fechando os olhos. Respirou fundo e travou o maxilar - Não pode me impedir.

- Sou eu quem você quer? - perguntei dando um passo a frente -  Leve-me, mas os deixe em paz.

Sua risada fez um estrondo no quarto e ele abriu os olhos.

- Tola. Acho que superestima a si mesma senhorita Morrough. Quem eu quero... É aquele a quem você protege.

Seu corpo foi sumindo aos poucos dando lugar a uma fumaça negra. Meus irmãos me olhavam perplexos e assustados.

- O que ele quis dizer com isso? - Kenneth gritava as perguntas enquanto estávamos correndo em direção ao abrigo subterrâneo - Aquele que você protege?

Meu peito subia e descia mais rápido que meu pulmão poderia aguentar, todos os membros do meu corpo tremeram, só de pensar na possibilidade de minha suspeita estar certa.

- Brianna, nós temos que ir - Kenneth gritou.

- Kalevi - disse para mim mesma, como uma conclusão, olhei para meu irmão e fiz sinal para ele continuar.

Saí em disparada para o lado oposto, ouvindo o mais velho gritar por meu nome.

A frente do Castelo estava completamente destruída, pedaços de pedra se espalhavam pelo local. Corri até o gramado, desviando de algumas partes que se encontravam em chamas e olhei cada centímetro.

- Kalevi - gritei em desespero - Kal!

Senti algo cortar meu braço, e o sangue escorrer, procurei por alguém atacando, mas não havia ninguém ao meu lado. Outro corte surgiu em minha perna, e soltei um grunhido de dor. Continuei andando com os olhos focados à minha frente.

Finalmente vi os cabelos brancos e o arco de Kalevi.

Outro corte, dessa vez na barriga. Aquele em quem meus olhos estavam presos ouviu meu grito e correu para mim com um desespero visível no olhar. Outros cortes foram feitos em mim, agora mais profundos, em minhas panturrilhas, em meus braços e abaixo do umbigo. O olhar turvo que agora me atingia não deixava que eu encontrasse o rapaz de cabelos brancos. Caí no chão, sentindo a dor excruciante. E ali estava ele. Kalevi não parecia poupar esforços enquanto rastejava em minha direçao, respirando pesadamente. O homem sombrio sorriu para mim antes de se aproximar de Kalevi. Eu observava aquela cena em desespero. As mãos pareciam formigar e a cabeça doía.

Ele ergueu a espada acima do coração do elfo, que me olhava. Seus lábios se moveram e eu pude entender um "Eu te amo" trêmulo. Minhas forças estavam esvaindo-se, mas cada célula de meu corpo pedia para que eu salvasse o homem que eu amava. Estendi a mão e Kalevi fechou os olhos esperando seu destino.

Uma luz branca e forte se fez presente e ali eu sabia que havia acabado.

Fantasy: A RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora