Capítulo 2

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Era a primeira vez em anos que aquilo acontecia. Ela finalmente não sabia o que fazer. Seu corpo estava quieto sobre o sofá do apartamento, enquanto a mente trabalhava de forma rápida.

- Brianna? - direcionou o olhar para Kenny que tinha uma expressão preocupada - Beba isso, para prevenir um resfriado.

Um sorriso gentil tomou conta do rosto dele. Brianna pegou a xícara de suas mãos e tomou o conteúdo com calma, deduzindo que aquilo era nada mais que um chá de hortelã.

- Obrigada - respondeu ao deixar a xícara na mesa de centro. O cobertor que envolvia seu corpo parecia estar ficando menor a cada segundo, então ela o apertou contra si. Ikeni, que não parecia estar alheio à situação mesmo que ela não houvesse lhe comunicado, adentrou a sala. 

- Tudo bem raio de sol? - sua expressão fez Brianna sentir tranquilidade, apesar da situação.

- Tudo bem - sorriu fraco, enquanto todos permaneceram calados a observando - Eu estou tão curiosa quanto vocês - suspirou. Mais uma vez.

- Se quisermos trazer ele de volta, precisamos entender exatamente o que aconteceu - Ikeni sentou ao seu lado segurando a mão gélida da garota.

Ela não estava fugindo do assunto. É claro, explicaria para todos eles o motivo de não ter entrado no táxi e ter feito o resto do caminho para casa andando na chuva. Tudo foi rápido e atordoante. Ela, a garota, Kalevi, a chuva e o poste que parecia não decidir entre ligar e desligar.

- Ele não lembrou de mim. Não lembrou de nada. Era como se eu fosse uma louca que o abordou na chuva e aquela garota... ela o puxou para longe como se eu fosse uma doença.

Ikeni franziu o cenho, Elora e Ken sabiam o que havia acontecido, eles estavam ao seu lado e tentaram fazer Kalevi ficar. Eles também o viram. A diferença na aparência não era absurda o suficiente para que eles não o reconhecessem. 

- Por que ele é o único que não se lembra de nada?

Noah levantou, pegando um copo de água na cozinha e voltando para seu lugar, o corpo se recostando sobre o balcão que separava a sala do outro cômodo.

- Não sei. Eu mal sei como nos trouxe para cá.

- Talvez saiba mais do que pense que sabe. - Ikeni afirmou.

- O que quer dizer? - ela quase nunca entendia as insinuações do mago. Ele era enigmático e a princesa tinha a total certeza de que ele gostava daquilo.

- Qual foi seu último pensamento antes de tudo... você sabe.

Ikeni gesticulou, indicando onde estvaam. Confusa, ela olhou para o irmão mais velho, que parecia tão perdido quanto ela. O mago estava sereno como sempre, seu olhar preso no cubo mágico que ele estava remontando mais uma vez, uma obsessão desde que descobriram aquele mundo.

- Eu... queria protegê -lo.

- E?

      Parecia que ele esperava uma resposta específica e Brianna não suportava aquilo. Costumava dizer que  deveriam cruzar seu próprio oceano e ele não os daria o barco. Talvez desse direções sobre como fazer uma jangada, mas jamais daria todas as respostas.

- Eu não sei - passou a mão livre por seus cabelos, respirando fundo enquanto tentava procurar uma resposta que o agradasse. Olhou para Elora encostada na parede, com uma expressão encorajadora. Brianna abaixou o olhar, pressionou os lábios e piscou algumas vezes.

- Eu tinha quase certeza que aquela seria minha última noite viva - começou - Elora e Kenny estavam a caminho do abrigo e você... - virou o olhar para o mago - ...estava os esperando. Eu tinha certeza que eles estariam seguros. É tão fui procurá-lo... - as pausas pareciam necessárias para ela não engasgar nas próprias palavras - ...não sei direito o que houve, mas de repente estávamos no chão, ele estava ferido e eu... A única coisa que pensei foi em salvá-lo.  - fechou os olhos por um segundo, tentando achar concentração para não chorar - Eu queria que ele tivesse uma vida feliz e longa, mesmo que sem mim. Queria que ele vivesse.

Fantasy: A RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora