3. Bem-Vindo À Alcatéia, Major

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05:50 PM
7 de Abril , 2094
Área residencial
Sinŭiju, província de Pyongan Norte, NK

Aterrorizados com todas as explosões próximas, a família Kim abrigava-se debaixo de uma mesa de jantar como se a madeira fosse salvá-los de uma explosão nuclear. A filha mais velha, com seus dezoito anos, apertava o irmão mais novo, sentindo o menor tremer dentro de seu abraço. O pai da família rezava algo em alto som, temendo por sua amada esposa que servia o exército como enfermeira.

Um chute na porta de entrada da casa humilde fez com que o material fosse arrombado. Logo homens com vestimentas negras e aparentemente reforçadas adentraram a residência procurando pelos moradores. Houveram gritos direcionados aos Kim's, que logo puseram-se de pé. Alguns dos homens agarram com força os braços de Kim Duklee e Kim Sookmi, arrastando-os enquanto Kim Huisung seguia os gritos do pai dizendo "Fuja!" e correndo para a porta de trás da casa.

Por não terem tempo, nenhum dos homens foi atrás de Huisung. Então ele seguiu com os olhos a família sendo arrastada, logo correndo na direção deles.

Mas estava tudo perdido. Assim que jogaram os dois Kim's dentro de um caminhão, engatando o automóvel e deixando as passadas largas do menino para trás.

Assim que perdeu o dirigível de vista ao que ele curvou uma esquina Huisung parou de correr, apoiando as mãos nos joelhos enquanto sua fadiga o deixava mais temeroso quanto a seguir os militares. Ele tinha apenas dez anos e em época de guerra seu corpo não era tão alimentado quanto poderia ser, deixando-o magro e menos rentável.

Ele não soube mais o que fazer ali, parado esperando por um milagre.

Não via sua mãe desde pouco depois do seu nascimento, quando as guerras haviam dado início; ela como enfermeira militar fora chamada para atender os soldados na guerra, nem mesmo sabia se ela estava viva. E agora seu pai e sua irmã foram pegos para servir o país. Sua irmã que iria para um campo de concentração ser treinada por poucos meses e logo mandada para a batalha.

O governo norte-coreano não fazia o mínimo esforço para manter a população segura. Eles tinham seus mísseis e queriam cada vez mais soldados de campo para romperem as barreiras da Coréia ao lado. Huisung sendo magro e pequeno seria um peso para os outros soldados.

Vendo a noite de primavera se aproximando decidiu adentrar um dos poucos prédios que não estava em escombros. O edifício parecia prestes a desmoronar, mas ele não se importava se tudo caísse sobre si, já estava quebrado, dilacerado e sozinho. Pensou que nada mais na sua vida poderia fazê-lo mais infeliz. Perdera a família, e sua família era tudo. Então continuou andando mesmo ao ouvir vozes ecoando pelas paredes finas.

Num determinado ponto as lágrimas que molhavam seu rosto eram o suficiente para fazê-lo exausto. Só queria voltar para antes da guerra, quando podia deitar na sua cama ao lado da irmã e dormir em paz. Mas isso nunca voltaria a acontecer.

Sentou no encontro de duas paredes, secando a água nas bochechas e encostando a testa nos joelhos, abraçando o próprio corpo. Chorou daquele jeito, por minutos que se tornaram horas. Tanto que nem soube quando adormeceu.

- Olha o que temos aqui - uma voz soou sorrateira.

Imediatamente, o menino olhou sobre os joelhos, analisando aqueles corpos esguios parados à sua frente. O mais perto era uma mulher de cabelos na nuca, olhando com um sorriso fino para ele.

A esperança de que pudesse encontrar uma salvação esquentou seu peito, e pela primeira vez ele achou que a humanidade tivesse salvação. Então fungou o nariz, levantando mais a cabeça.

Cem Anos Para MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora