- DOIS -

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Estava difícil. Muito difícil. Mesmo tendo saído com Lívia na noite anterior, aquela sensação esquisita não deixou meu peito e aquilo estava começando a me irritar muito. Só fiquei assim uma vez na vida e eu era um adolescente! Que porra era aquilo? Juro que naquela época não sabia, na verdade, fechei meus olhos para não saber. Fingi demência mesmo, mas infelizmente não funcionou.

No dia seguinte à noite com a morena insistente, bem no momento que estava torcendo para que ninguém — meu pai — descobrisse meu envolvimento com uma paciente, Isadora chegou com uma cara amassada, como se não tivesse dormido nada. Parecia que a noite tinha sido boa. Eu me empanturrava de comida que normalmente ajudava a esquecer o que quer estivesse se passando na minha vida. Tem coisa melhor do que comer? Ainda não conheço. Talvez sexo, mas eu estava comendo de qualquer maneira.

— Oi, pirralhinha — provoquei, pois encher o saco da minha irmã era minha meta de vida. Senti saudade daquilo, de tê-la por perto. — A noite foi boa?

— Foi ótima — respondeu, abrindo aquele sorriso cínico que ela dava sempre que estava aprontando alguma coisa. O que era quase sempre.

— Hum... Você se divertiu, né. Sua cara de acabada porque não dormiu está ótima — falei e ela fez uma expressão de malícia. Não sabia se me interessava muito por aquilo, pensar na minha irmã com qualquer homem, ainda mais meu amigo, não era uma das melhores imagens para se guardar na cabeça.

— Dormi duas horas apenas — respondeu e virou o café de uma vez na boca. Não sei como não se queimava, desde sempre que fazia aquilo.

Isadora se despediu de mim e saiu arrastando-se que nem um zumbi em direção ao seu quarto. Fiquei mais tempo na cozinha antes de partir para mais um dia de trabalho. Suspirei com vontade de ficar em casa, porque também não tinha dormido praticamente nada. O que Lívia tinha de insistente, ela tinha de fogosa. Sorri e sacudi a cabeça antes de sair para pegar o trânsito nada calmo daquela hora da manhã.

Cheguei à clínica, cumprimentando a moça bonita da recepção, e peguei as fichas que ela me entregou. Percebi os olhares das pacientes para mim e sorri para todas com muita educação. Eu gostava daquele efeito que causava nas mulheres. Na maioria das vezes, elas me encaravam como se eu fosse um pedaço de carne pronto para ser devorado, aquilo nunca tinha me incomodado antes, até... Não. Recusava a pensar em outro tipo de olhar doce que tinha recebido. Aquela garota não ia atormentar minha cabeça.

Como eu era iludido.

Sacudi a cabeça de novo como se pudesse arrancar aquele tipo de babaquice a força e entrei na minha sala. Trabalhei no modo automático, como sempre, até a hora do almoço. Fechei a sala e fui até a de Pedro, mas estava fechada. Estranhei, pois o homem nunca faltava, mesmo que estivesse quase morrendo. Já trabalhou em dias muito críticos, inclusive. Não acreditei que o cara tinha ido almoçar sem mim.

Saí da clínica, com o celular em mãos, já discando o número dele.

— Fala, garanhão! — cumprimentei meu amigo assim que ele atendeu a ligação.

E aí, Gabriel? — Ouvi barulhos de trânsito do outro lado da ligação. — Tudo bem?

— Tudo beleza. Cadê você? Não me diga que foi almoçar sem mim, cara — disse, destravando o carro, e entrei para falar com ele ali de dentro.

Não fui trabalhar hoje... — falou e percebi o tom estranho. Antes de ele falar, tive a certeza de que isso tinha a ver com mulher. Ou melhor, com a mulher pentelha que deixava qualquer um doido das ideias. Ele estava ferrado com Isadora.

Diga que me quer - Spin-off [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora