Capítulo 3

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      Amy não conseguia dormir, e se obrigou a erguer o corpo, ficando sentada sob a cama. Remexeu os cabelos com uma das mãos, e direcionou seu olhar a cama oposta, na parede, e percebeu seu colega de quarto acordado, encolhido nos cobertores que encobriam em torno de seu maxilar, e ela enxergava no escuro, apenas o brilho dos olhos do garoto em meio à toda escuridão do recinto, a observando.
- Você está preocupada com sua suspensão? Ou com o que vão pensar de você depois daquilo tudo que você disse sobre nossa comunidade ser machista?
Ela suspirou, e por um momento pensou que não seria tão bem recebida na sala de aula novamente.
- Com tudo. Mesmo que não me arrependa de ter dito tudo aquilo...me arrependo de ser mau vista por todos por julgar a sociedade coreana, e chamá-la de machista.
Ele riu, se movendo na cama, e se descobrindo para ficar sentado em pose de índio, e a observou. Mesmo na escuridão, ele era lindo. Mesmo que muitas pessoas pensassem que o coreanos são iguais, ela sabia distinguir diferenças entre eles. Seu colega tinha o rosto mais jovial e fino que os demais que encontrara no caminho, e seus olhos eram em partes castanhos, e em partes negros como aquela noite de lua cheia.
- Sabe? Às vezes me sinto como você: diferente.-começou, e ela percebeu  um sorriso surgir em seus lábios.- As pessoas me julgam e debocham de mim porque sou...estranho. Mas na real, quem sabe o quê passei para ser assim? Não é mesmo?-seu sorriso deixou os lábios, e ele baixou os olhos, entristecido.
- Eu concordo com você. Eles nunca saberão, mesmo que tentamos explicar, nunca saberão ou compreenderão o que passamos. Seja no passado ou no presente. Nunca saberão.
Uma lágrima caiu dos olhos dele, e um breve suspiro escapou por seus lábios.
- O que você têm? O que fizerem com você?
Ele começou a soluçar, e ela sentiu que não deveria tocar nas feridas...ou deveria?
- Desculpa por perguntar...
- E-Eu estava me divertindo...me divertindo em casa...minha irmã e meu cunhado estavam lá...ele estava lá...Minha irmã saiu para comprar alguma coisa...iria demorar um pouco...um pouco...-os soluços paravam sua fala, e sua voz falhava- Ele disse que ia me mostrar algo que tinha para mim no quarto...-mais soluços- Disse que era surpresa e que eu deveria acompanhá-lo, ou não ganharia o que ele queria me dar...-começou as lágrimas- Quando entrei no quarto, alguém fechou a porta, e me empurrou na cama, enquanto ele me prendia nela...eles arrancaram minha roupa...eles...eles...eu não gosto de homens...eu não gosto de homens!-gritou baixinho.
Ela caminhou até ele, e com hesitação, o envolveu.
- Não me toque! Não me toque!-murmurou, enquanto começava a sussurrar e chorar baixo.
Ela o abraçou mais forte, consolando-o.
- Shhhh...Tudo bem-começou, sussurrando ao ouvido dele- eu estou aqui para te proteger.
Ele cedeu ao abraço dela, e ela percebeu que ele estava chorando em silêncio, pois suas mãos estavam ficando úmidas pelas lágrimas que caiam pela bochecha dele, e caiam entre os dedos dela.
- E-Eu não sabia que ele faria isso...
- Não foi sua culpa.
Ele era maior que ela, e pesava nos braços da garota.
Ela ergueu a cabeça, e percebeu que ele a observava, e ambos estavam sem jeito.
Ela virou a cabeça para frente, e ele tentou secou as lágrimas com as costas da mão, sem muito sucesso.
- Eu passei por algo parecido.-começou ela- Alguns meses antes, eu estava com um garoto. Ele era uma pessoa incrível e apaixonante-sentiu o indício de uma lágrima arder na garganta, e um breve sorriso surgiu- Estávamos à muito tempo juntos. Éramos felizes. Até que ele sofreu um acidente de moto bem em frente à meu local de trabalho. Eu o vi caído, com flores vermelhas por todos os lados, e me desesperei ao ver seu rosto sem reação no chão. -sentiu a primeira lágrima cair, e tentou seca-la- Eu pensei que haveria uma chance quando avistei a ambulância surgir depois de um longo tempo...Mas não foi assim. Ele já estava morto. Lembro apenas de correr até ele e me debruçar sobre seu corpo sem vida, apenas torcendo para que ele votasse para mim. Para que eu pudesse ouvir sua voz mais uma vez, dizendo eu te amo.-lágrimas já rolaram desesperadamente pelas bochechas- Mas ele já estava morto.-começou a soluçar- E eu pensei que poderia contar com meu ex e melhor amigo. Corri para a casa dele, pensando que ele ajudaria...ele ajudou. Mas por muito pouco tempo. Seus interesses eram outros.-suspirou- Um pouco antes de eu vir para a Coréia...ele surgiu em minha casa, bêbado, dizendo que me amava e que sempre se arrependeu de me deixar nas mãos de outro cara. E que sentia em dizer, mas adorava a idéia de ele estar morto, pois assim teria à mim só para si. Eu estava sozinha, e ele me jogou na cama, me prendendo em seu peso, e me beijando ferozmente, enquanto eu tentava impedir. Mordi seu lábio, e ele se irritou, arrancando minhas roupas...-começou a chorar descontroladamente- Quando minha mãe, minhas irmãs e meus cunhados chegaram, eu estava deitada sob a cama, em choque. Sem chorar. Sem qualquer reação. Tudo que passava pela minha mente é que eu teria que levantar e seguir em frente. Mas naquele instante, aquele pensamento desapareceu, pois não conseguia me mover. Depois do ocorrido, ele veio até minha casa novamente, e em frente a meus pais e minhas irmãs, pediu desculpas pelo ocorrido. Disse que agiu como um idiota, e coisa pior. Minha mãe demorou para aceitar o que ele tinha feito, e quando o fez, negou que eu o perdoasse, e levou o caso à justiça.-ele ouvia tudo atentamente, com semblante triste. - Eu ganhei. Ele foi para a cadeia. Mas daqui alguns anos, sei que o verei livre.
Ele a fitou, percebendo o ardor na garganta da menina, junto das lágrimas que corriam pelas bochechas dela.
Ela se afastou, e sem dizer nada, saiu do quarto em direção ao banheiro, e se trancou em uma das portas do mesmo, chorando desesperadamente.
Seu colega de quarto apenas fitou a porta, sem reação. 
Louca.
A única palavra que apareceu em sua mente.


Desculpa os erros. Espero que tenham gostado. Bjs e até breve.

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⏰ Última atualização: Nov 24, 2018 ⏰

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