LXV

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Meu blusão amarelo
Algumas flores no jardim
Minha meia xícara de café
Minha música favorita na rádio as cinco

Pela janela da minha sala
Vejo meus projetos indo para o lixo
E acordo as seis no dia seguinte

Sigo na estrada com minhas botas pretas
E meu blusão amarelo
Ainda há tempo
Escrevo um livro no trem
A caminho do trabalho

Trabalhos jogados fora
A troco de nada
Com a toalha branca enrolada na cabeça
E uma meia xícara de café
Ao som de minha música favorita na rádio
Pela janela do meu quarto, observo

O trem das quinze acaba de partir
Uma conta de luz na mesa de centro
Meu abajur já não funciona
E minha meia xícara de café se quebra
Meu rádio quebra

Mas ainda tenho meu blusão amarelo
E minhas botas pretas
E a janela da minha sala
As flores no jardim murcham
Silêncio.

Nem todas as lágrimas se secam
Se confudem no temporal
Que leva meus projetos para o lixo
As pessoas leem meu livro

Sigo caminhando com meu blusão amarelo
E minhas botas vermelhas
Sem vozes e sem minha música favorita
Olhando o trem das sete pela janela doutro quarto
Sem minha meia xícara de café
Com minha toalha azul claro na cabeça
Abro uma página e pego um lápis
A vida continua.

Ah, meu blusão amarelo.

Assinado, Menina AleatóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora