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---- Como entrou aqui? ---- Perguntei, agora meio irritada. Por mim ela não tinha passado, tenho certeza. Eu estava na porta o tempo todo, pensei até que ela tinha ido embora; que tinha cansado de esperar por mim. Pela porta dos fundos não entrou porque estava trancada com a chave. Pelas janelas também não. Então, como? ---- Blen, como entrou aqui? ---- Perguntei novamente, exigindo uma explicação. Eu nunca me exaltava com Blenda, mas agora estava verdadeiramente irritada com ela. Ela deu uma resposta totalmente diferente.
---- Você o roubou de mim! ---- Disse ela, acusando-me.
---- O quê?
---- Você o roubou de mim! ---- Repetiu ela. Enquanto falava ela se aproximava.
---- Não sei do quê está falando. ---- Ela deu outro passo em minha direção, eu fiz o mesmo, dando um passo para trás instintivamente.
---- Por que fez isso?
Eu não entendia.
---- Fiz o quê? Blen, pare com isso. Não sei do quê está falando, eu já lhe disse.
---- Responda! ---- Gritou. ---- Responda! ---- Enquanto ela gritava exigindo que eu lhe respondesse o que não sabia, vi sua postura mudar, de repente ela estava serrando os dentes como se estivesse fazendo força e ao mesmo tempo em que afastou um braço que estava atrás do seu corpo durante todo esse tempo esticando-o como se para alongar, depois levou a frente com tanta força e rapidez que não deu tempo de perceber o que era. Só percebi quando senti uma coisa afiada e fria enterrada em minha barriga.

Foi nesse momento que o telefone tocou alto fazendo-me pular da cama apavorada, além do meu próprio grito. Com minha respiração ofegante olhei para meu corpo onde tinha certeza que estava derramando balde de sangue com a facada que eu tinha levado; eu ainda pudia sentir a lâmina afiada e fria em minha barriga, mas não tinha nada, nem faca, nem sangue. Passei a mão pela barriga, aliviada e, a única coisa que escorria sobre a minha pele era um suor frio. Eu estava pegajosa de suor.

O telefone continuava a tocar, mas tive medo de atender. Medo que mais uma vez estivesse sonhando. Para falar a verdade eu duvidava que estivesse acordada realmente. Mas por fim tirei o telefone do gancho e o atendi.

---- Alô! ---- Eu falei, meio desconfiada.
---- Oi Angele! Por que demorou  para atender?
---- Estava dormindo.
---- Ah! Acordei você?
---- Não.

Blenda queria me avisar que estava vindo nesse exato momento, como tinha prometido. Desliguei o telefone e fiquei sentada na cama por um minuto tentando ter certeza que não estava mais sonhando. Levantei-me para fechar as janelas, pois fazia frio, porém eu estava pegajosa de suor. Também não percebera que tinha deixado as janelas abertas. Não acredito que tenha dormido com as janelas abertas. Eu nem mesmo acredito que tenha dormido a tarde toda, literalmente. Mas pelo menos minha dor de cabeça horrenda tinha passado, pelo menos isso.

Caminhei devagar até as janelas para fecha-las, pois o vento frio fazia as cortinas brancas que não passavam de vendas voarem tão altas  que quase chegavam ao teto do quarto. O quarto também estava escuro; a única luz fraca que vinha era exatamente das janelas de vidro que refletia o luar.

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