1 passe de mágica

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A aula tinha terminado quando Belinda chega para mim e diz: vamos à festa? Blenda está esperando por nós. A festa era ao ar livre e para falar a verdade eu não sabia bem o que estávamos comemorando; se era carnaval, aniversário da cidade ou alguma comemoração dedicado algum santo padroeiro. Eu estava meio confusa como se tivesse dormido durante dias ou até mesmo semanas e de repente acordasse em um lugar desconhecido.

---- Vamos. ---- Respondi.

Era finalzinho de tarde quando chegamos lá. Havia um clima diferente pairando no ar e eu não sabia bem o que era, talvez fosse só um pressentimento meio idiota porque, todo mundo parecia se divertir. Então eu e Belinda demos uma volta procurando por Blenda , mas não a encontramos. Paramos em frente a um palco onde uma banda tocava, ficamos lá por um momento e nada de Blenda aparecer.

---- será que ela veio? ---- perguntei.
---- Ela disse que vinha. Vou procurá-la de novo. Você vem ou vai esperar aqui?
---- Esperarei aqui.
---- Certo, então.

Enquanto esperava Belinda voltar (de preferência com Blenda) e ouvia a música que a banda tocava tive a sensação de ter alguém me observando. Não sei bem o porquê, pois senti necessidade de olhar para todos os lados tentando encontrar alguém suspeito, mas não consegui enxergar nenhum par de olhos me fitando. Contudo, eu sabia que tinha alguém me observando, então não desisti, procurei novamente em volta e foi aí que vi um garoto me olhando com olhos negros. Foi estranho pois eu sabia que ele estava ali e ao mesmo tempo era como se não existisse; como se fosse algo da minha imaginação; como se fosse uma miragem. Ele continuava a me encarar de cima, ou assim eu pensava. Eu também o encarei por um instante com um olhar intenso e profundo.

Lembrei-me que Belinda ainda não tinha retornado. Olhei o relógio e percebi que tinha passado muito tempo desde que ela partiu a procura de Blenda. Fiquei preocupada porque ela disse: volto logo. Mas fazia muito tempo, então não fazia sentido
ficar ali esperando mais. Ignorei aquele garoto que insistia em me olhar e saí a procura de novo.

Já era noite. Dei algumas voltas a procura dela, mas nada de Belinda aparecer. Será que ela teria ido embora? Perguntei-me. Não. Ela não faria isso comigo. Faria?

Como no passe de mágica percebi que não estava mais no mesmo lugar, ainda era a mesma festa, mas no lugar diferente com um cenário diferente. O mais estranho era que eu continuava sentir aquele garoto me observando. Ignorei mais uma vez e continuei procurando por Belinda, se tivesse sorte talvez encontrasse Blenda.

---- Angele? ---- Chamou alguém.
---- Ôh! ---- Eu me virei para olhá-la, era Diana (irmã mais velha de Blenda).
---- Viu Blenda por aí?
---- Não. Eu também estou procurando por ela e Belinda, mas não encontro nenhuma das duas.
---- Elas se perderam! ---- Murmurou Diana, parecia apavorada.
Eu sabia que tinha alguma coisa errada, por isso Belinda estava demorando tanto, pensei comigo mesma.
---- Vou continuar procurando-as. Se você as encontrar primeiro diga que estou procurando por elas.
---- Tudo bem! ---- Disse Diana, partindo a procura das duas.

Quando percebi estava em um estrada de terra esburacada. Impossível! Era como se tivesse me tele transportado de um lugar para outro num piscar de olhos. Era como está presa dentro de um sonho, ou melhor, de um pesadelo do qual eu não conseguia sair. Eu tinha de estar dormindo, essa era a explicação, tinha de ser. Não era real. Bem, dormindo ou não eu tinha que encontrá-las. Continuei andando, mas não chegava a lugar algum. Decidi voltar pelo mesmo caminho.

Não sei por quanto tempo andei na estrada esquisita, deserta e que parecia infinita. Mesmo em meio ao desespero continuei andando. Por fim estava de volta a cidade, mas não havia mais festa, tudo estava escuro e silencioso. Mas mais à frente escutei vozes e tentei me aproximar, porém vi que era um bando de bêbados.

Fiquei em pé completamente parada observando a pequena cigarreira com cobertura de telhas brasilit. Sob a cobertura havia três mesas de tijolos e cimento com bancos feito no mesmo material e lá sentados havia sete homens, embora a cigarreira estivesse fechada e sem nenhuma luz para clarear o ambiente. Os homens que lá se encontravam pareciam não se importar. Eles bebiam algum tipo de bebida alcoólica, falavam coisas incognoscível e riam alto. Eles olharam para mim quando movi meu pé direito e chutei uma lata de cerveja vazia e amassada que estava no chão ao meu lado.
Eu não tinha visto. A lata fez um barulho que eu considerei indesejado.

---- E aí, gatinha! ---- Gritou um dos bêbados.
---- O que está fazendo aí parada? Vem cá, coração. ---- Gritou o outro.
---- É, vem cá, benzinho. Quer beber alguma coisa conosco? Eu tenho uma coisa muito gostosa para você.
Todos riram mais alto que eu podia ouvir.
Eu não estava nem louca de passar por eles, pois eu receava as coisas que poderiam fazer comigo. Fui por um caminho diferente. Eu não sabia nem à onde ir. Eu estava perdida.

Peguei um destino diferente, no caminho notei que estava com um vestido branco esvoaçante e descalça, não era isso que usava antes, e sim, calça jeans, camiseta e tênis. Não importava, eu sabia que era um sonho. Então por que eu não acordava?

Enquanto tentava encontrar o caminho de casa tive um pressentimento muito ruim que fez os pelos dos meus braços se a eriçarem e meu coração disparar. Era como se a centímetros de mim tivesse alguém me seguindo, parei de andar no mesmo instante, não conseguia me mover, talvez fosse só o medo que me paralisava, no entanto, tomei coragem e olhei para trás e, não havia ninguém. Mas aquela presença continuava a insistir. Olhei novamente e nada havia. Continuei andando. Nunca andei tanto na minha vida, já me sentia até exausta e mesmo assim eu andei com passos mais rápidos e largos.
Só que quando mais rápido eu andava mais aquela sensação de está sendo perseguida aumentava.

Dessa vez o medo que eu sentia era tanto que não resisti ao impulso de correr. Enquanto corria com aquele vestido branco que eu usava, agora, porém, se tornara vermelho. Meu pés doíam, mas não me importei muito com isso, eu queria achar o caminho de casa. Então corri... Corri... Corri... Se eu não estivesse tão apavorada poderia até achar aquilo lindo. Na minha cabeça eu imaginei a cena de um filme romântico: eu, correndo descalça na areia com um vestido esvoaçante sob a luz do luar indo de encontro com alguém que provavelmente seria muito especial, ao invés disso eu estava correndo desesperada de uma coisa que não existia ou que, no mínimo não conseguia ver.

Depois de andar e correr por horas enfim estava em uma rua que me parecia familiar. Eu não acreditava, mas era a rua da casa de Blenda, foi como vê a luz no fim do túnel, literalmente, a rua estava iluminada, diferente daquelas por onde vaguei (escuras, esquisitas e apavorante), essa estava calma, exceto à casa de Blenda. Diminuí meus passos até lá. Notei que havia um movimento de pessoas. Havia também muita luz no alto e algumas mesas e cadeiras do lado de fora da casa, parecia uma festa. Aproximei-me, mas algumas pessoas nem notaram a minha presença. Pude notar também que todos por quem procurei estavam ali  (Belinda. Blenda...). Estranho, murmurei baixinho. Foi como se nada tivesse acontecido, elas conversavam e riam, então olharam para mim e sorriram acenando com a mão. Eu também sorri.

Foi quando eu tive certeza que era um sonho quando alguém veio até a mim e disse: finalmente você chegou, eu estava esperando por você. Era um sonho, com certeza, só que eu não sabia quem era porque não via seu rosto, via apenas suas mãos, enquanto falava ele segurava as minhas. Sim, era ele; sua voz era de homem, mas também não o reconheci.

*Plágio é crime!!

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